- Author, Laura Bicker
- Role, BBC News
Se o G7 fosse um jantar, o anfitrião estaria vasculhando a garagem em busca da mesa extensível, caçando nas caixas jogos americanos e talheres extras.
O anfitrião deste ano, o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, convidou mais oito países para a cúpula, que começa na sexta-feira em Hiroshima.
Certamente é um sinal da agenda espinhosa que vai desde a guerra na Ucrânia até a quantidade de comida que chega aos nossos pratos. E também é evidência de uma ordem internacional em rápida mudança, com grande parte da conversa centrada em dois países que não estão na lista de convidados: Rússia e China.
O encontro anual inclui as sete democracias mais ricas do mundo – Japão, Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Canadá e Itália. A União Europeia, embora não seja membro oficial do G7, também envia representantes.
Mais recentemente, os anfitriões convidaram outros países a seu critério.
Mas o poderio econômico do G7 está diminuindo – em 1990, o grupo respondia por pouco mais da metade do PIB mundial, segundo o Fundo Monetário Internacional. Agora é pouco menos de 30%. Precisa de novos amigos influentes.
Assim, Kishida, que busca uma coalizão mais global do que ocidental, ampliou a mesa para acomodar Austrália, Índia, Brasil, Coreia do Sul, Vietnã, Indonésia, Comores (representando a União Africana) e as Ilhas Cook (representando o Fórum das Ilhas do Pacífico).
O primeiro-ministro japonês fez 16 viagens ao exterior nos últimos 18 meses, incluindo Índia, África e Sudeste Asiático, para provar a essas regiões que existe uma alternativa ao dinheiro e ao poder chinês e russo.
E sua lista de convidados para Hiroshima reflete essas tentativas de atrair o que muitos chamam de “sul global” – um termo usado para países em desenvolvimento na Ásia, África e América Latina, todos os quais têm laços políticos e econômicos complexos com a Rússia e a China.
Uma frente não tão unida
Um dos objetivos mais claros de Kishida – mostrar uma “frente unida” contra a invasão da Ucrânia pela Rússia – também será um de seus maiores obstáculos.
O G7 está supostamente tentando impor mais sanções voltadas para a energia e as exportações que auxiliam o esforço de guerra de Moscou.
Mas muitos dos convidados adicionais não vão gostar dessa mudança. A Índia, por exemplo, recusou-se a aderir às sanções ocidentais às importações russas.
Nova Délhi também não condenou explicitamente a invasão da Ucrânia pela Rússia. Deixando de lado seu relacionamento de longa data, a Índia também depende de importações de energia e defendeu suas compras de petróleo, dizendo que não pode arcar com preços mais altos.
E o país está longe de estar sozinho. As economias emergentes foram as mais atingidas pelo aumento dos custos, em parte impulsionado pela guerra na Ucrânia.
Agora eles temem que mais sanções possam obrigar Moscou a encerrar um acordo de grãos no Mar Negro que permite exportações vitais da Ucrânia. Isso poderia exacerbar a escassez de alimentos e aumentar ainda mais os preços.
Para outros, não se trata apenas do custo das sanções.
“O Vietnã tem uma relação historicamente estreita com a Rússia, que fornece pelo menos 60% de suas armas e 11% de seus fertilizantes”, diz Nguyen Khac Giang, pesquisador visitante do Instituto de Estudos do Sudeste Asiático em Cingapura.
“A Indonésia, embora não seja fortemente dependente da Rússia, é um importante importador de armas russas e mantém boas relações com Moscou.”
“Por essas razões, não acredito que Hanói e Jacarta se oponham ou apoiem explicitamente novas sanções contra a Rússia. Isso representaria riscos econômicos e políticos significativos, ao mesmo tempo em que ofereceria poucos benefícios a eles.”
O que Kishida deve esperar é que sua cidade natal, Hiroshima, onde a bomba atômica matou mais de 100.000 pessoas, concentre suas mentes na ameaça nuclear que a Rússia representa.
Visitas pela cidade serão um lembrete constante da devastação que as armas podem infligir, além de apoiar a mensagem de que os convidados têm a responsabilidade de garantir que tal arma nunca seja usada novamente.
A pressão também virá do presidente ucraniano, Volodomyr Zelensky, que estará lá virtualmente para fazer um apelo apaixonado por seu povo que já pagou um alto preço.
Isso, no entanto, pode não ser suficiente para resolver as divisões sobre até onde as sanções devem ir. E há também a crescente frustração entre os países fora do G7 de que suas vozes têm sido frequentemente ignoradas pelo Ocidente.
Mas os analistas acreditam que ouvir e tratar esses países como parceiros é pelo menos um começo.
“Ele oferece uma oportunidade para comunicar suas preocupações com os líderes do G7 sobre uma vasta gama de questões, desde a guerra na Ucrânia e a desaceleração da economia global, até os riscos de segurança no Leste Asiático, particularmente em relação à disputa do Mar da China Meridional e Taiwan”, disse Nguyen Khac Giang do envolvimento do Vietnã e da Indonésia.
Combatendo a China
Taiwan – e as tensões nos mares ao seu redor – certamente se tornou uma das maiores crises do ano passado.
E como líder do único membro asiático do G7, Kishida vê a cúpula como uma chance de responder à crescente demonstração de força militar da China em torno da ilha que afirma ser autônoma.
A mensagem de Tóquio para o Ocidente é direta – sua luta na Ucrânia também é nossa luta, mas isso deve funcionar nos dois sentidos.
Mas a China, que está efetivamente inserida nas cadeias de suprimentos globais, talvez seja um desafio mais complicado do que a Rússia.
Em uma recente viagem a Pequim, o presidente da França, Emmanuel Macron, alertou que a Europa não deve ficar “presa em crises que não são nossas”.
Suas palavras provocaram uma pequena briga no Ocidente, mas também renovaram um medo persistente de abandono no leste da Ásia.
Muitos se lembrarão das palavras da senadora republicana Lindsay Graham que, no auge das tensões com a Coreia do Norte, alertou: “Se milhares morrerem, eles vão morrer lá”. Então veio a ameaça do presidente Donald Trump de reduzir as tropas americanas na Coreia do Sul.
A voz da China, dizem os analistas, é ouvida claramente porque, ao contrário das democracias ocidentais, sua posição não muda após cada eleição.
É claro que os EUA, no ano passado, não vacilaram em seu apoio à Ucrânia ou em seu compromisso com Taiwan. E fez demonstrações de força no Pacífico, ao lado dos aliados Japão, Coreia do Sul, Filipinas e Austrália.
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