- Author, André Biernath
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
- Twitter, @andre_biernath
A Organização Mundial da Saúde (OMS) acaba de anunciar o fim da emergência de saúde pública global relacionada à covid-19.
Durante uma coletiva de imprensa, o biólogo etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da entidade, anunciou que resolveu acatar as orientações de um comitê criado para analisar a situação da doença causada pelo coronavírus.
“Há 1.221 dias, a OMS ficou sabendo de um aumento de casos de pneumonia em Wuhan, na China. No dia 30 de janeiro de 2020, […] eu declarei que estávamos numa emergência de saúde pública de importância internacional, o mais alto nível de alarme”, contextualizou ele.
“Em três anos, a covid-19 virou nosso mundo de cabeça para baixo. Quase 7 milhões de mortes foram registradas, mas nós sabemos que esse número é bem maior e chega pelo menos a 20 milhões de óbitos.”
Na sequência, Ghebreyesus explicou que, nos últimos 12 meses, a pandemia entrou numa “tendência de queda”, graças “ao aumento da imunidade populacional por meio da vacinação e das infecções”.
Ainda segundo o diretor-geral da OMS, essas estatísticas são analisadas de perto por um comitê de emergência da entidade. O órgão decidiu, então, “que era hora de diminuir o nível de alerta”.
Mas que dados são esses? E o que eles indicam sobre as tendências recentes da covid-19?
Todas as semanas, a OMS divulga um relatório sobre a doença, com os números de casos, hospitalizações e mortes por região do global. O mais recente desses documentos foi publicado na quinta-feira (4/5).
O primeiro gráfico mostra que os registros de casos e mortes por covid-19 têm se mantido relativamente estáveis desde abril de 2022.
A única exceção na série aparece em dezembro do ano passado, devido à grande onda que acometeu a China e alguns outros países asiáticos — representada na coluna rosa em 12 de dezembro no gráfico a seguir.
Quando olhamos a situação das Américas, a tendência de estabilidade (ou até de queda) se mantém.
A última grande onda de casos e mortes por covid-19 na região aconteceu entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022 — e esteve relacionada ao espalhamento da variante ômicron do coronavírus.
Desde então, os números até aumentaram ligeiramente entre maio e julho de 2022, mas voltaram a cair logo na sequência.
A situação é similar nas demais regiões do planeta, com pequenas variações locais.
O cenário de estabilidade se repete, mais uma vez, nos trechos do relatório da OMS que analisam as internações ou a necessidade de colocar o paciente com covid-19 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Esses números ficaram cada vez menores e estão no menor patamar desde que a doença virou uma emergência global.
No gráfico a seguir, a primeira parte reflete as hospitalizações, e a segunda foca especificamente nas internações em UTI.
Especificamente sobre as novas versões do coronavírus, a OMS não declarou nenhuma nova linhagem do patógeno como “variante de preocupação” desde a ômicron, em novembro de 2021.
No entanto, uma série de derivadas da ômicron são acompanhadas de perto pelas autoridades e ganharam a classificação de “variantes de interesse”. É o caso da XBB.1.5 e da XBB.1.16.
Há outras sete que são “variantes sob monitoramento”: BA.2.75, CH.1.1, BQ.1, XBB, XBB.1.9.1, XBB.1.9.2 e XBF.
Não é o fim da covid
A OMS dava mostras que mudaria o status da covid-19 há algum tempo.
Na quarta-feira (3/5), a entidade publicou um outro relatório em que discutia a necessidade de transição de uma resposta de emergência para um cuidado de longo prazo da doença.
O texto alerta que, embora os registros de casos e mortes estejam no nível mais baixo desde o início da pandemia, milhões de pessoas ainda se infectam e morrem todas as semanas por causa do coronavírus.
E, mesmo no anúncio sobre o fim da emergência global de covid-19, Ghebreyesus deixou claro que a doença continuará a ser um problema de saúde pública.
“Esse vírus chegou para ficar. Ele ainda está matando e continua a sofrer mutações. O risco segue, pois novas variantes podem surgir e causar novas ondas de casos e mortes”, alertou o diretor-geral.
“A pior coisa que qualquer país pode fazer agora é usar essa notícia como uma razão para baixar a guarda, desmantelar os sistemas que foram construídos ou falar às pessoas que a covid-19 não gera mais preocupações”, continuou.
“O que nosso anúncio significa é que as nações devem fazer uma transição do ‘modo emergência’ para lidar com a covid-19 junto com as demais doenças infecciosas.”
Por fim, Ghebreyesus declarou que esse é um “momento de celebração, pois chegamos aqui graças às habilidades e à dedicação dos profissionais de saúde, da inovação dos pesquisadores de vacinas, das duras decisões tomadas por governos e pelos sacrifícios que todos fizemos como indivíduos, famílias e comunidades”.
“Mas, por outro lado, esse é um momento de reflexão. A covid-19 deixou — e continua a deixar — cicatrizes profundas no nosso mundo”, disse ele.
“E essas cicatrizes precisam servir como um lembrete permanente do potencial de novos vírus surgirem, com consequências devastadoras”, concluiu o diretor-geral da OMS.
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