- Author, Nicholas Yong
- Role, Da BBC News em Cingapura
Vira e mexe, Hiskandar Zulkarnaen vai até o Aeroporto de Changi, em Cingapura, com a esposa e os dois filhos pequenos a tiracolo.
O destino deles? O Jewel, o shopping de aproximadamente 130 mil m² ligado ao Terminal 1, projetado pelo renomado arquiteto canadense Moshe Safdie e sua equipe.
As crianças gostam especialmente do chamado Rain Vortex, a cachoeira interna mais alta do mundo, com altura equivalente a sete andares. Um show de luzes e música com tema da Disney também faz sucesso entre eles.
A família para então no Terminal 3, a poucos minutos de ônibus ou trem elétrico, para usufruir do playground infantil com uma série de atrações e jogos.
“Ainda não conheci outro aeroporto que se apresente propositalmente como um destino de lazer, comércio e gastronomia”, diz Zulkarnaen, comparando a ida a Changi a uma visita à Orchard Road, a mundialmente famosa área de compras de Cingapura.
Bem-vindo ao que é o considerado melhor aeroporto do mundo, segundo a Skytrax, consultoria que classifica e avalia aeroportos.
A Skytrax afirma realizar a maior pesquisa anual global de satisfação do cliente em aeroportos, na qual os viajantes avaliam serviços e instalações em mais de 550 aeroportos.
O Changi foi eleito o melhor aeroporto do mundo pela 12ª vez pela Skytrax, sendo oito vezes na última década.
Ele recuperou a primeira posição do ranking em março, depois de ficar atrás do Aeroporto Internacional Hamad, em Doha, e do Aeroporto Haneda, em Tóquio, nos últimos dois anos, recebendo elogios da Skytrax por suas “experiências inigualáveis para os passageiros”.
Antes da pandemia de covi-19, em 2019, cerca de 382 mil voos decolaram ou pousaram em Changi, transportando mais de 68 milhões de passageiros.
Embora ainda esteja recuperando seu volume de passageiros, Changi não é um mero hub de viagens: é um ponto de encontro quase icônico, amado pelos moradores de Cingapura.
Pergunte a Rachel Tan, que regularmente leva 15 minutos de carro até o Jewel para ir ao mercado — compras à parte, “você pode sentar na fonte e aproveitar a experiência de estar no Jewel”, diz a advogada de 34 anos.
Facilmente acessível de metrô e ônibus, não é raro encontrar pessoas que passam o dia inteiro no Changi.
Você pode assistir a um filme, comer, fazer compras e até mesmo encontrar um local tranquilo para estudar para uma prova. Ao longo dos anos, também se tornou um destino para fotos de casamento e celebrações especiais.
Outras atrações incluem uma floresta tropical com ar-condicionado, um labirinto de cerca-viva e um tobogã de 12 metros de altura.
Se você vai pegar um voo e chegar cedo demais ao aeroporto, a área de trânsito está equipada com spa, sala de cinema gratuita e piscina, além de cadeiras de massagem e um borboletário.
Perfume e dinossauros
O aeroporto ainda tem seu próprio aroma: uma fragrância personalizada com notas florais e especiarias que se espalha por Changi.
E do lado de fora do Terminal 4, há uma exposição de dinossauros em tamanho real que se estende por mais de um quilômetro.
Em um país obcecado por rankings, sejam eles de escolas ou atores locais, Changi se destaca como um motivo especial de orgulho. Um jornalista indiano até tuitou que a população de Cingapura está “irracionalmente orgulhosa” dele, gerando uma reação previsivelmente mal-humorada.
E as autoridades de Cingapura acompanham os rankings dos aeroportos “religiosamente”, diz Shukor Yusof, da consultoria de aviação Endau Analytics.
“Isso dá não apenas o direito de se gabar, mas consolida sua reputação como um dos principais destinos das companhias aéreas.”
Mesmo enquanto seus balcões de check-in e duty-free shops ficaram estranhamente silenciosos durante a pandemia, o governo estava otimista de que Changi se tornaria um hub de viagens novamente, injetando mais de um bilhão de dólares de Cingapura no setor de aviação.
O ministro dos Transportes de Cingapura disse na época que o setor desempenha um “papel crucial” para garantir a posição da cidade-Estado como um hub global de comércio e negócios.
“Changi é um dos melhores aeroportos, senão o melhor, para se fazer conexão”, diz Alex Chan, de Zurique, que faz escala em Cingapura até quatro vezes por ano durante várias viagens de trabalho.
Embora Changi seja “enorme”, Chan considera que é muito mais bem organizado e mais eficiente do que o aeroporto de Frankfurt ou o Schipol, de Amsterdã.
“Eu costumo viajar com um grupo grande de cerca de 60 pessoas, mas ainda não vi nenhuma bagagem perdida aqui. Nos outros grandes hubs de aeroportos ao redor do mundo, é muito fácil perder seu voo de conexão, mas isso nunca parece acontecer em Changi.”
Apesar de uma falha técnica que interrompeu recentemente a autorização de imigração por várias horas em postos de controle terrestres e aéreos, muitos viajantes internacionais optam por fazer escala em Changi porque as chances de seu itinerário ser interrompido são baixas, afirma Shukor.
“Se você olhar para a quantidade de tempo, energia e investimento gastos em qualquer aeroporto em particular, então Cingapura é de longe o que mais fez isso”, diz ele.
Na década de 1990, quando praticamente a única coisa para assistir na TV de Cingapura eram séries dramáticas produzidas pela emissora estatal, a icônica torre de controle do aeroporto de Changi costumava ser o elemento central na cena de abertura de uma nova série.
Isso envolvia invariavelmente um personagem, que havia estado ausente por muitos anos, pousando em Changi e fazendo uma viagem com vistas panorâmicas de táxi para casa antes de exclamar para seus parentes o quanto o país havia mudado. Afinal, o aeroporto de Changi foi inaugurado em 1981 com apenas um terminal e uma pista.
E seu apelo resistiu. Em 2019, o Jewel recebeu 50 milhões de visitantes nos primeiros seis meses de sua inauguração. Um quinto terminal está sendo construído agora e deve estar operacional em meados da década de 2030.
“Acho que nenhum outro aeroporto no mundo pode se gabar de que a população local o visita apenas para se divertir”, diz Adrian Tan, advogado e analista social. Ele diz que os moradores de Cingapura o conhecem tão bem quanto o kopitiam, ou a cafeteria, do bairro.
Tan descreveu ironicamente o “ritual nacional” ao pousar em Changi após uma longa viagem: comentar sobre o quanto é melhor do que outros aeroportos, passar rapidamente pela imigração, sorrir ao ouvir os acordes de “bem-vindo de volta” e comer, na sequência, um prato local, como arroz de frango, “para que possamos reafirmar nossa superioridade culinária sobre o resto do mundo”.
“É por isso que Changi é ótimo. Representa tudo em que Cingapura é boa: eficiência e cortesia com um sabor de Cingapura.”
Você precisa fazer login para comentar.