• Eduardo Reina
  • De São Paulo para a BBC News Brasil

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Assassinato de Dana de Teffé estampou a capa de jornais no Brasil

O misterioso assassinato da socialite Dana de Teffé completará 62 anos sem solução no dia 29 de junho. O crime abalou a sociedade brasileira em 1961. O corpo da milionária nunca foi encontrado. É uma história com envolvimento do advogado Leopoldo Heitor de Andrade Mendes acusado, preso e inocentado em vários julgamentos considerados controversos.

A última vez em que Dana foi vista com vida era noite de quinta-feira, 29 de junho de 1961. Ela entrava no automóvel de Leopoldo Heitor, de acordo com o que a amiga Maria Elisa Tuccimei contou para jornalistas na época. O destino seria São Paulo. Ela tinha 48 anos, e ele 38.

Assim, o advogado passou a ser cogitado como o principal suspeito do desaparecimento/assassinato de Dana de Teffé.

O caso estampou a capa de quase todos os jornais cariocas e no Brasil durante muitas semanas em 1961. A cobertura perdurou por vários anos.

O advogado Leopoldo Heitor gostava de estar presente nas páginas dos diários cariocas. Era uma pessoa eloquente, de voz firme e rápido raciocínio. A Justiça nunca conseguiu incriminá-lo neste crime.

São três as versões sobre o sumiço da socialite que Leopoldo Heitor apresentou para a polícia e para a Justiça, em diversas ocasiões. A primeira mostrava que ao chegarem a São Paulo entre o dia 29 e 30 de junho de 1961, um homem muito distinto aproximou-se deles num restaurante e disse, num outro idioma, que a mãe dela havia tido problemas e estava internada num asilo na Tchecoslováquia. Tal notícia teria levado Dana a embarcar às pressas rumo a Praga, deixando tudo para trás. O que provocou seu suposto sumiço.

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O advogado Leopoldo Heitor de Andrade Mendes foi acusado pelo homicídio

Depois, Heitor mudou a versão contando a história de que houve algum problema mecânico no carro quando estavam na rodovia com destino a São Paulo. A pane os fez parar no acostamento, no Km 69, na subida da Serra das Araras. Momento em que teriam sido assaltados.

O advogado contou ainda que reagiu e trocou tiros com o bandido. No tiroteio, Dana teria sido atingida, mas morreu enquanto estava sendo levada ao hospital.

A versão complica quando Heitor revelou que estava receoso de ser acusado de homicídio, e então pediu ajuda a um amigo – cujo nome inicialmente não foi revelado – para enterrar o corpo da mulher. Só esse amigo saberia a localização da cova.

Na sequência, também segundo versão da polícia do Rio de Janeiro, surge uma nova explicação para o sumiço. Hélio Soares Vinagre, amigo do advogado, foi arrolado como coautor do que já estava sendo considerado assassinato.

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Crime que abalou a sociedade brasileira em 1961

Vinagre teria ajudado a matar e enterrar Dana no sítio de Heitor no município de Rio Claro, interior fluminense. A ação teria sido flagrada pelo caseiro Francisco da Silva. Funcionário este do advogado que depois também desapareceu.

Antes disso, o caseiro havia desmentido o patrão em depoimentos à polícia e mudou de versão várias vezes. Uma ossada chegou a ser localizada pelos investigadores no sítio, em local apontado por Silva. Mas eram ossos de um cavalo.

A última versão, sustentada até mesmo perante o tribunal, apontava que Dana havia sido sequestrada por um grupo de nazistas ou comunistas tchecos e levada para fora do Brasil.

“Quem conta três verdades, não conta nenhuma”, afirmava o promotor do caso José Ivanir Gussem à época, segundo a imprensa carioca.

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Entrevista com o assassino de Dana de Teffé no jornal Correio da Manhã

O Ministério Público sustentara a tese de que o advogado levara Dana ao sítio em Rio Claro, a matara e depois sumido com o corpo para ficar com seus bens. Mas o inquérito de cinco volumes e 917 páginas continha poucas provas documentais e testemunhais.

Durante todo esse período, Heitor fugiu várias vezes da polícia. Mas concedeu entrevista à imprensa enquanto foragido. E também ficou com os bens da vítima.

O chefe de reportagem e editor do diário Última Hora, José Alves Pinheiro Júnior, além de acompanhar in loco os desdobramentos do crime, é autor do livro “A febre de notícias ao entardecer”, onde relata suas memórias sobre o assassinato sem corpo.

Para a BBC, ele afirma crer “que Leopoldo Heitor tinha extrema habilidade para envolver pessoas. E até corromper, dispondo de fortunas absorvidas de clientes como a própria Dana”.

O ex-editor da UH tem versão própria do caso. “Dana foi possivelmente morta ou seu corpo descartado em ponto da via Dutra, próximo ou já dentro da estrada para Rio Claro. Se foi Leopoldo diretamente ou algum dos inúmeros chamados amarra-cachorros dele, nem o (repórter policial) Octávio Ribeiro soube esclarecer”.

Octávio Ribeiro, também conhecido como Pena Branca, foi um dos maiores repórter policial dos anos 1960 e 1970, falecido em 1986. Atuou na UH.

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Caso continua sendo um dos maiores mistérios sem solução no Brasil

Segundo Pinheiro Júnior, “os cariocas acompanhavam a cobertura como num folhetim de horror e mistério, sendo Dana a vítima extraordinária e personagem de destaque internacional, com Leopoldo delineado como vilão de capa e espada”.

Ele observa que o reportariado que fez a cobertura do caso “tinha até certo rigor pré-acusatório com relação a Leopoldo, sempre retratado como Advogado do Diabo”. Já Dana “era apresentada como uma vítima desse falso defensor que parecia desonrar a advocacia”.

“Quanto à polícia, como se sabe, era infestada de corruptos e subornáveis. Com raras exceções”, critica Pinheiro Júnior.

Octávio Ribeiro localizou Leopoldo Heitor escondido na Argentina, conta seu ex-editor. “(Heitor) Era um criminalista se achando tão senhor de seu poder persuasivo que se fez criminoso e merecedor da sombra legenda advogado do diabo”. O editor classifica o advogado como uma pessoa “de arrebatadora oratória, fantasia fácil e insuperável, nunca se furtava a dar entrevistas”.

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Correio da Manhã relata o caso

O envolvimento entre o Heitor Leopoldo e Dana de Teffé, explica Pinheiro Júnior, era público e notório. “Vítima e criminoso estavam sempre tão juntos que pareciam curtir em público um romance de pouco tempo. Um amor tão confiante que acabou fazendo do acusado o beneficiário de ampla procuração da cliente”.

Possível explicação para o sumiço do cadáver de Dana, diz Pinheiro Júnior, esbarra em várias hipóteses aventadas pela polícia e pelos repórteres. Esquartejamento e distribuições aos pedaços em canis de ferozes e esfomeados mastins, lançamento de despojos em pesqueiros no mar aberto de Angra dos Reis dominado por tubarões, sepulturas insuspeitas em remota área de desova de bandidos em matas próximas à Rodovia Presidente Dutra.

“Mas a versão mais cinematográfica apresentada pela defesa de Leopoldo Heitor atribuía o desaparecimento de sua cliente a uma conspiração. Seria vítima de um sequestro perpetrado por agentes da Guerra Fria. Teria sido levada de submarino para um país da Cortina de Ferro (Leste Europeu), possivelmente sua terra natal, onde teve de prestar contas de traições terríveis a agências de inteligência controlada pela então União Soviética. Lá ficaria presa para sempre ou fuzilada”, aponta Pinheiro Júnior.

Peripécias

Leopoldo Heitor acabou preso pela primeira vez no caso de Dana, em 31 de março de 1962, acusado de assassinato e ocultação de cadáver. Fugiu seis meses depois.

Recapturado em 1963, foi condenado a 35 anos de prisão. No ano seguinte, o Tribunal de Justiça do Rio anulou a primeira decisão e o advogado passou por novo júri. Foi absolvido por falta de provas materiais.

Foi submetido a outros julgamentos e sempre foi absolvido, o último ocorreu em 1971, na cidade de Rio Claro. A falta de provas materiais do crime fez com que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) não autorizasse a reabertura do processo.

O crime prescreveu em 1981.

Fuga no teatro

Bertholdo de Castro, repórter do diário Correio da Manhã, presenciou a fuga de Heitor Leopoldo da escolta policial, e depois conseguiu fazer uma entrevista com o foragido.

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Leopoldo Heitor escreveu dois livros sobre o caso

O repórter soube que o advogado iria até o Teatro Recreio na noite do dia 2 de setembro de 1966 para assistir a um ensaio da peça “A cruz do advogado do diabo”, que tinha sua esposa, Vera Regina Mendes, no elenco. Ela contracenava com Milton Moraes.

Heitor Leopoldo estava preso e tinha permissão de Romualdo Gama Filho, o juiz da comarca de Rio Claro, interior fluminense, para ir ao dentista na Guanabara duas vezes por semana. Em Rio Claro o advogado era processado criminalmente pela morte de Dana.

Quem escoltava o acusado era o 2º tenente da Polícia militar Victor Luiz de França. Heitor o convenceu a dar uma passada no teatro, pois estaria com saudades de Vera. O PM ficou na porta da casa de espetáculos e Heitor Leopoldo foi até o palco.

“Eu aproveitaria para ouvir o Leopoldo sobre a condenação por conta do processo da Dana. No entanto, ao chegar no local ele pediu ao militar que o escoltava para ir ao banheiro e sumiu”, revela Castro. A fuga se deu por uma porta dos fundos do teatro, com aceso para a Avenida Chile, próximo à esquina com a Rua do Lavradio.

Castro escreveu matéria sobre a fuga com o título “Leopoldo Heitor ilude tenente no teatro e escapa”, veiculada no dia 3 de setembro de 1966. No mesmo dia conseguiu fazer uma entrevista com o foragido, que estava em local que nem a polícia tinha informações.

“Convenci a Vera a pedir ao Leopoldo que me ligasse no Correio da Manhã. Depois de autenticar sua voz, conversei com ele. Por razões de segurança, ele não disse onde estava. Até insisti para uma entrevista pessoal, mas disse que não queria correr riscos”, recorda o repórter.

A entrevista foi feita por telefone, dentro do Teatro Recreio. O advogado fugitivo fez duas ligações. Numa conversou com Vera e reclamou dos maus tratos que vinha recebendo da polícia. Numa segunda chamada conversou com Bertholdo de Castro e, para espanto de todos, com policiais civis que lá estavam. Disse, conta Castro, que já fora inocentado por júri popular e por isso sua prisão era um absurdo. Ainda pediu garantias de vida e ameaçou fugir do país.

Sobre a leniência de policiais e de setores da justiça para com Heitor Leopoldo, Castro é claro: “Difícil afirmar sem provas, ainda que corrupção policial e do judiciário estejam presentes na sabedoria popular diante de tantas evidências. O Leopoldo, segundo os jornais da época, teria sido absolvido por levar o caso para uma cidade do interior onde era querido e conhecido. Além do mais, o crime não tinha cadáver, tese que insistia em alardear”.

Quem eram Dana e Heitor

Nascida Dana Edita Fitscherova em 4 de maio de 1921 na antiga Tchecolosváquia, Dana herdou o sobrenome de seu quarto marido, o brasileiro Manoel de Teffé, neto do Barão de Teffé, diplomata e piloto de automóveis, de quem recebeu muitos bens, dinheiro e joias.

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Indícios levavam ao advogado como suspeito da morte de Dana

Mas sua herança monetária já era enorme. Oriunda de família judia muito rica na cidade de Praga era uma mulher considerada muito bela e culta. Falava seis idiomas. O casamento com Manoel de Teffé terminou em 1960.

Pelas circunstâncias da vida e envolvimento na sociedade, Dana contratou o escritório de advocacia de Oscar Stevenson para cuidar da papelada do desquite e divisão dos bens.

É aí que surge o advogado Leopoldo Heitor de Andrade Mendes, sócio de Stevenson, que se tornou responsável pelo caso.

Leopoldo Heitor não tinha boa reputação no Rio de Janeiro. Já havia sido acusado de estelionato e peculato em outros casos por ele defendidos.

Nasceu em Carangola, Minas Gerais, era filho de um juiz e de uma dona-de-casa. Cursou Direito na Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, formando-se em 1946. Depois trabalhou como repórter em O Jornal e como diretor da Agência Meridional de Notícias, ambos dos Diários Associados.

Iniciou a carreira jurídica no escritório de seu ex-professor na Oscar Stevenson, o dono escritório contratado por Dana para fazer seu divórcio com Manoel de Teffé.

O nome de Leopoldo Heitor surgiu com destaque negativo no noticiário carioca pela primeira vez em 1952, por causa do julgamento do chamado “crime da ladeira Sacopã”, zona sul do Rio. Nesse ponto, num determinado dia, o bancário Afrânio Arsênio de Lemos foi encontrado morto.

O tenente da Força Aérea Brasileira (FAB) Alberto Bandeira foi acusado de matar o bancário. No julgamento do caso, Leopoldo Heitor apresentou testemunhas que ao invés de favorecerem o acusado, o incriminaram.

Andrade foi condenado a 15 anos de prisão, e o defensor passou a ser chamado pela alcunha de “Advogado do Diabo”.

Sua má fama se estendeu a 1957, quando retornou às manchetes dos jornais. Só que desta vez envolvido em estelionato, com a falsificação de um cheque de 18 milhões de cruzeiros. Condenado, não chegou a ser preso. Fugiu com a esposa para a Argentina, onde ficou até 1960, quando a sentença foi revogada.

Em 1961, a imprensa carioca já mencionava uma suposta relação amorosa entre Dana e Heitor Leopoldo, criada durante o processo de separação do quarto marido.

Depois do desaparecimento da socialite, a atriz Zélia Hoffman afirmou que a amiga “sabia das trapalhadas dele, mas a Dana sempre o defendia”.

Apropriação dos bens

Dias depois o desaparecimento de Dana de Teffé em 1961, sem que se tivesse notícias sobre seu paradeiro, Leopoldo Heitor, sua esposa Vera Regina Mendes e os filhos se mudaram para o amplo apartamento que pertencia à tcheca, no Edifício Marcília, que existe até hoje na praia de Botafogo.

O advogado teria apresentado uma procuração de sua cliente que lhe concedia direito de comercializar ou alugar os imóveis e todos os bens a ela pertencentes.

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Advogado apresentou três versões diferentes sobre o sumiço da socialite

De acordo com Maria de Fátima Costa de Oliveira em sua tese de doutorado na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro “In memoriam – Entre Dana e Eliza: Discursos, Imagens e Sentidos sobre a Mulher”, Leopoldo Heitor contou com a ajuda de muitas pessoas para ficar com os bens de Dana.

“Para isso ele teria tido a conivência de um escrevente de cartório na falsificação de uma procuração em que Dana de Teffé concedia a Leopoldo direitos irrestritos de dispor-se de seus bens e imóveis. Há provas nos autos da mudança de Leopoldo com a mulher e os filhos para o apartamento de Dana, no bairro de Botafogo; documentos sobre a transação da venda do imóvel; registros do envio de todos os móveis para um apartamento da mulher de Leopoldo, Vera Regina Mendes, em Brasília; comprovantes de armazenamento do restante da mobília e objetos pessoais de Dana de Teffé num guarda-móveis; a compra de dois carros; registros fotográficos de Vera, mulher de Leopoldo, usando joias reconhecidas como pertencentes a Dana de Teffé; e uma sucessão de informações falsas sobre onde estaria enterrado o corpo da vítima”, escreveu Maria de Fátima.

Todos os indícios levavam ao advogado como suspeito de ter matado Dana.

O antigo chefe, o também advogado Oscar Stevenson, chegou a declarar à polícia que seu sócio se tornara ex-amigo. E por isso apresentou um relatório onde sustentava que Leopoldo Heitor havia cometido o homicídio e desaparecido com o corpo de Dana.

Busca pelo corpo em Paraty

A busca pelo corpo de Dana mobilizou polícia, curiosos e jornalistas durante anos. Luarlindo Ernesto, então repórter de O Globo na época do crime, conta que enfrentou mar agitado e altas ondas para ir até uma praia deserta no litoral de Paraty, no Rio de Janeiro, à procura dos despojos da socialite.

“Recebemos notícias de que um avião havia feito pouso forçado e que estaria com o corpo de Dana. Isso aconteceu na mata próxima da Praia do Sono, região de Paraty. Fomos até lá, onde só era possível chegar de barco. O problema foi desembarcar. Enfrentamos altas ondas, mar muito agitado e pedras na praia”, contou Ernesto à BBC.

Na localidade, uma colônia de pescadores, o jornalista conseguiu um guia para leva-lo até onde o avião teria pousado.

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Corpo de Dana nunca foi encontrado

“Cavamos, cavamos e não encontramos nada”, relembra o jornalista que levanta possibilidade de a absolvição do advogado ter sido facilitada devido corrupção dentro da polícia e muitas falhas na investigação: “Foi mal ou incompleta a investigação. Cadê o corpo?”.

Outro experiente repórter policial, com décadas no exercício da função, Percival de Souza, esteve cara a cara com o advogado no período que ele estava preso num quartel da Polícia Militar na cidade de Niterói, no fim da década de 1960. A reportagem foi publicada no jornal paulistano Jornal da Tarde.

“Ele se revelou falante, bom de argumentação. Loquaz, fazendo de tudo para parecer convincente mesmo contando histórias inverossímeis. Ele sustentou as versões para o desaparecimento de Dana, sem titubear, fazendo de tudo para que eu acreditasse nele… Não conseguiu responder algo plausível sobre o que ele mesmo achava de ter vendido uma fortuna e Dana nunca mais ter dado sinal de vida, indiferente à perda do enorme patrimônio. Insistiu num vago amor pela mãe”, destaca Percival à BBC.

O cronista e integrante da Academia Brasileira de Letras, Carlos Heitor Cony, já falecido, elegeu Dana um de seus fantasmas. No artigo “Onde estão os ossos de Dana de Teffé?”, publicado em agosto de 2001 no jornal Folha de S.Paulo, Cony relata:

“Escrevo também, e frequentemente, sobre os ossos de Dana de Teffé, que foi assassinada, teve um assassino praticamente confesso, mas, como era advogado e homem inteligente, invocou a presença do cadáver para o processo. Pelo tempo decorrido entre o crime e o processo, ele exigiu a presença dos ossos da infeliz e houve, durante meses, uma busca desesperada e desvairada pelos tais ossos, que até hoje não se dignaram a aparecer… Tenho motivos para incluí-la entre meus fantasmas. Era uma judia tcheca (ou uma cigana também tcheca) que traiu parentes e amigos durante o nazismo, ganhando muito dinheiro com isso. Casou com um conde e dançou no balé de Monte Carlo. Casou depois com um diplomata brasileiro, que era também automobilista. Viúva, veio para o Brasil coberta de joias e dinheiro… Caiu na asneira de arranjar um amante que era advogado e esperto. Sumiu misteriosamente e como o corpo dela nunca apareceu, o assassino não foi condenado”, escreveu o cronista.

Em sua última entrevista à imprensa dada ao jornal O Estado de S. Paulo, em janeiro de 2001, Leopoldo Heitor desabafou: “A vida foi dura comigo”.

Ele escreveu dois livros. “A cruz do Advogado do Diabo”, com sua versão sobre o caso, e “Lastro de Chumbo”. Se casou outras duas vezes e teve dez filhos. Em maio de 1977, seu filho, Leopoldo Heitor de Andrade Mendes Filho, o Heitorzinho, foi assassinado a facadas por uma menina que ele havia tentado estuprar.

O Advogado do Diabo morreu de infarto em 2001, aos 78 anos de idade. Seu corpo está enterrado no cemitério São João Batista, em Botafogo, Rio de Janeiro, mesmo bairro onde teria tido início em 1961 a novela criminal envolvendo a morte de Dana de Teffé. O corpo de Dana nunca apareceu.