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China fez uma série de advertências sobre uma possível escalada no conflito com o Ocidente

  • Author, Frank Gardner
  • Role, Correspondente de Segurança da BBC

A China reagiu com previsível fúria ao anúncio oficial do chamado pacto Aukus, um acordo histórico de segurança que une Austrália, EUA e Reino Unido que é destinado a enfrentar a expansão militar chinesa na região do Indo-Pacífico.

Os detalhes foram revelados na segunda-feira (13/3) em San Diego, na Califórnia.

Pelo pacto, os australianos terão seu primeiro submarino nuclear fornecido pelos EUA. Serão no mínimo três. A partir de 2027, submarinos norte-americanos e britânicos ficarão estacionados em algumas cidades da Austrália.

“Entrando em um caminho perigoso”, “não levar em consideração preocupações da comunidade internacional” e até “arriscar uma nova corrida armamentista e de proliferação nuclear” são apenas algumas das acusações feitas por Pequim ao trio de aliados.

Desde que a presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, fez sua controversa visita a Taiwan no ano passado, a China não expressava uma desaprovação tão intensa a respeito de ações ocidentais.

A China, a nação mais populosa do mundo, com o maior exército e a maior marinha do mundo, diz que está começando a se sentir “encurralada” pelos EUA e seus aliados no Pacífico ocidental.

Em resposta, o presidente Xi Jinping anunciou recentemente que a China aceleraria a expansão de seus gastos com Defesa e nomeou a segurança nacional como a principal preocupação dos próximos anos.

Não é de admirar que o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, tenha falado nesta semana sobre uma década perigosa pela frente e a necessidade de se preparar para enfrentar os crescentes desafios de segurança.

Então, como chegamos a esse ponto? O mundo está se aproximando de um conflito catastrófico no Pacífico entre a China e os EUA e seus aliados?

Um entendimento errado do cenário

Crédito, AFP via Getty Images

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O presidente americano Joe Biden em reunião virtual com o presidente chinês Xi Jinping em dezembro de 2021

O Ocidente fez uma leitura incorreta da China. Durante anos, houve um entendimento ingênuo nos ministérios das Relações Exteriores de que a liberalização econômica chinesa levaria inevitavelmente a uma abertura da sociedade e a uma maior liberdade política.

Segundo esse raciocínio, à medida que empresas multinacionais ocidentais estabelecessem joint ventures no país e centenas de milhões de cidadãos chineses começassem a desfrutar de um padrão de vida mais alto, o Partido Comunista Chinês (PCC) certamente afrouxaria seu controle sobre a população, permitiria algumas reformas democráticas modestas e se tornaria integrante da chamada “ordem internacional que respeita regras”.

Mas não funcionou dessa maneira.

Sim, a China se tornou um gigante econômico, uma parte vital e integral da cadeia de suprimentos global e o parceiro comercial mais importante para diferentes países de todo o mundo.

Mas essa nova posição não foi acompanhada por uma mudança em direção à democracia e à liberalização. Pequim, na verdade, tomou um caminho que alarmou os governos ocidentais e muitos de seus vizinhos, como Japão, Coreia do Sul e Filipinas.

Qual caminho? A lista é longa, mas aqui estão os principais pontos de discórdia entre a China e o Ocidente:

  • Taiwan: a China prometeu diversas vezes tomar a ilha autônoma e pela força, se necessário. O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que os EUA viriam em defesa de Taiwan, embora a política oficial dos EUA não se comprometa com uma ação militar.
  • Mar do Sul da China: nos últimos anos, a China usou sua poderosa marinha para colonizar partes dessa área marítima, reivindicando-a como seu próprio território, em violação do direito internacional
  • Tecnologia: a China vem recebendo cada mais acusações de coletar secretamente grandes quantidades de dados pessoais, bem como de roubar propriedade intelectual para obter vantagem comercial
  • Hong Kong: Pequim esmagou com força a democracia na ex-colônia britânica, impondo longas sentenças de prisão a ativistas
  • Muçulmanos Uigures: dados de satélite e relatos de testemunhas oculares apontam para o internamento forçado de até 1 milhão de muçulmanos uigures em campos na província de Xinjiang.

Militarmente, a China hoje é uma força que não pode ser subestimada. Nos últimos anos, o Exército Popular de Libertação, que comanda as forças militares chinesas, fez enormes avanços em tecnologia e inovação, bem como no poderio do arsenal.

Os mísseis hipersônicos Dong Feng da China, por exemplo, podem viajar cinco vezes mais a velocidade do som e são armados com um explosivo potente ou um ogiva nuclear.

Isso está fazendo a 7ª Frota da Marinha dos EUA, que atua no Oceano Pacífico e no Índico e tem base em Yokosuka, no Japão, parar para pensar sobre sua capacidade militar frente às numerosas baterias de mísseis da China em terra.

A China também organizou um programa de rápida expansão de seus mísseis balísticos nucleares com o objetivo de triplicar o número de ogivas ao mesmo tempo que constrói instalações subterrâneas para abrigar esse armamento em remotas regiões no oeste do país.

Nada disso, porém, significa que a China quer ir para a guerra. Quando se trata de Taiwan, Pequim prefere exercer uma pressão suficiente para que a ilha capitule e se submeta sem que os militares chineses dispararem um único tiro.

Sobre Hong Kong, os uigures e a propriedade intelectual, o PCC sabe que, com o tempo, as críticas perdem força porque as relações comerciais com a China são importantes demais para o resto do mundo.

Portanto, embora as tensões tenham crescido muito agora e possam aparecer novos incidentes dentro desse conflito, ambos os lados — China e Ocidente — sabem que uma guerra no Pacífico seria catastrófica para todos.

Apesar da retórica raivosa, a escalada desse enfrentamento não interessa a ninguém.