Uma das mais belas histórias de amor e dedicação aos mais pobres vividas nos últimos anos no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (RMR), está sendo contada no novo livro do jornalista José Ambrósio dos Santos, A mãe de Juçaral. O lançamento está programado para o próximo sábado (25.02), no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Juçaral, às 16h, e será precedido por missa a ser celebrada pelo Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido.
Com 157 páginas, a publicação aborda a ação inspiradora e transformadora da enfermeira e missionária francesa Colette Marie Josephe Catta, que salvou muitas crianças da morte iminente por desnutrição, e mudou o destino de centenas de jovens do distrito de Juçaral a partir de 1974, quando ela lá chegou.
O Brasil vivia os chamados anos de chumbo, sob a ditadura Civil/Militar instaurada dez anos antes, em abril de 1964. Foi nesse contexto da vida do País que Colette Catta chegou a Juçaral, um distrito localizado na paupérrima zona canavieira do município com a missão de se doar na ajuda aos mais pobres e a salvar vidas.
Primeiro Distrito Industrial de Pernambuco, o Cabo de Santo Agostinho já contava com plantas de importantes indústrias – entre elas a francesa Rhodia Nordeste – e despontava como uma das cidades mais importantes do estado, do ponto de vista da economia. Mas, na área rural, em geral a pobreza era extrema.
Mais longínquo distrito e ponto mais elevado da RMR – topo da Pedra da Pimenta -, Juçaral registra as menores temperaturas da região, principalmente durante o inverno. Rodeado por engenhos de cana de açúcar – principais empregadores – a comunidade era considerada um dos lugares mais pobres do emergente município. O destino de grande parte das crianças e jovens era a morte precoce, a dureza dos canaviais e os biscates, trabalhos que não exigem qualificação profissional.
A fome e a desnutrição consumiam a vitalidade de famílias inteiras e a morte, principalmente de crianças, por desnutrição, era uma ocorrência constante. Os pequenos caixões azuis conduzidos por pessoas esquálidas e aparência resignada com a morte dos seus filhos já faziam parte da paisagem bucólica, mas perversamente desigual.
“Assistia mães trancarem portas e janelas e sair na madrugada para os canaviais, deixando crianças de nove anos cuidando de outras mais novas. Também vi mulheres prepararem comida para seus maridos bêbados, enquanto seus filhos, com fome, desmaiavam. A cada 15 dias morria uma criança”.
Colette Catta
Apesar do nobre propósito, Colette foi recebida com preconceito e desconfiança por muitos da comunidade, especialmente aqueles que representavam o sistema.
A animosidade não a assustou. Nascida em Nantes, uma cidade às margens do rio Loire, na região da Alta Bretanha, oeste da França, em 02 de setembro de 1921, Colette Catta viveu os horrores da Segunda Guerra Mundial (1939/1945). Inspirada na vocação religiosa e na determinação de se doar herdada da sua avó materna, Aline Bricard (1855-1936) – que a ensinou a amar a quem não tem nada, e não apenas a dar esmolas -, ela dedicou os últimos 42 anos da sua vida a cuidar dos mais pobres da comunidade.
Ao fechar os miúdos olhos azuis, no dia 04 de novembro de 2016, aos 95 anos de idade, o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, a ela se referiu como sendo a mãe de Juçaral, durante a missa por ele celebrada em sua homenagem no Salão Paroquial da Igreja de São José.
Por sua doação aos mais humildes, Colette Catta foi agraciada com a insígnia de Cavaleira da Ordem do Mérito Nacional pelo presidente francês François Miterrand, em 1989.
Colette Catta também recebeu o Título de Cidadã do Cabo de Santo Agostinho, em abril de 2008, por iniciativa da vereadora Ana Selma dos Santos. “Colette é exemplo de amor e de desprendimento para todos os cabenses. Ela representa a força da mulher que faz renúncias em favor das causas dos mais excluídos e necessitados”, destacou a parlamentar ao entregar a honraria.
Editorada e impressa pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), a publicação traz trechos do diário de Colette que são bastante reveladores do quanto ela se doava à comunidade. E conta com depoimentos de pessoas que conviveram e colaboraram com Colette na missão à qual se dedicou até os últimos dias.
A sua contribuição foi tão intensa, extensa e marcante, que o jornalista José Ambrósio dos Santos precisou utilizar 16 capítulos para entregar um relato mais próximo do seu significado. No último capítulo, que tem o título Au revoir, Colette, sua conterrânea Béatrice Bussac sintetiza o sentimento da legião de amigas e amigos pelo Brasil e pelo mundo.
Diz ela na crônica escrita em 22 de dezembro de 2016, pouco mais de um mês após o falecimento da amiga: “Para nós, sua mensagem nos convida a contagiar tudo o que ela nos deu; sua grande fé, esse gosto pela vida e sua generosidade incondicional. Ela nos convida a estar perto de todos, sem limites, sem barreiras, na alegria”.
O livro tem prefácio assinado pelo Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido. Natural de Juçaral e conhecedor da ação de Colette, o religioso a define como “uma mulher movida pelo amor”.
Presidente da Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco, Evaldo Costa diz, na orelha do livro: “Livros podem ter muitos usos. Alguns são pura diversão inconsequente. Outros deformam, porque desinformam. Este escrito de José Ambrósio é daquela categoria dos livros necessários, que era urgente que fosse escrito e publicado, para prover alguma esperança, enquanto enfrentamos essa quadra deprimente. E para demonstrar que a espécie humana não é um caso de todo perdido”.
SERVIÇO:
Lançamento do livro A mãe de Juçaral
Dia: 25.02.2023 (sábado)
Hora: 16h
Local: Santuário de Nossa Senhora Aparecida (Juçaral)
Mais Informações: José Ambrósio dos Santos (55 81 993726425)
Como chegar: Acesso pela PE-45, que liga os municípios de Escada e Vitória de Santo Antão. A rodovia encontra-se em manutenção e recomenda-se acessar a partir de Vitória, trecho já concluído até a entrada da PE-37, à esquerda, que liga a Juçaral. O trecho a partir de Escada ainda apresenta muitos buracos, mas não inviabiliza o tráfego mesmo para veículos de passeio, conforme moradores.
Sobre o autor:
José Ambrósio dos Santos é jornalista graduado pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Natural de Vitória de Santo Antão, nasceu no dia 1º de janeiro de 1957. Chegou ao Cabo de Santo Agostinho aos 15 anos de idade. Em sua trajetória profissional atuou como repórter na Editoria de Política do Jornal do Commercio (Recife- PE) entre 1987 e 1996. Ao sair do JC, em dezembro de1996, voltou ao Cabo para assumir a Assessoria de Imprensa (depois transformada em Secretaria Executiva de Imprensa e Comunicação) entre1997/2000 e 2001/2004, gestões do prefeito Elias Gomes. Entre abril de 2005 e dezembro de 2006 foi responsável pela Assessoria de Imprensa da Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos. De 2007 a 2010 editou o jornal Tribuna Popular, semanário que circulava em parte da Região Metropolitana do Recife, inclusive na Capital. É membro da Academia Cabense de Letras. Autor do livro Rádio Calheta FM – 20 anos fazendo valer os direitos do povo cabense (2019), e Douglas Menezes, um operário das letras (2022).
Fonte: Blog do Jorge Lemos
Foto: Divulgação