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Foto de arquivo mostra norte-coreanos participando de evento anual de plantio de arroz na cidade de Nampho em 2019

A Coreia do Norte está passando por uma crise alimentar crítica, segundo especialistas.

O país está habituado à escassez crônica de alimentos, mas os controles de fronteira, o mau tempo e as sanções agravaram a situação nos últimos anos.

A expectativa é de que autoridades do alto escalão se reúnam no fim deste mês para discutir uma “mudança fundamental” na política agrícola, informou a imprensa estatal.

Esta é uma “tarefa muito importante e urgente”, em meio a questões agrícolas “prementes”, publicou o agregador de notícias estatal KCNA Watch.

A crise alimentar acontece enquanto Pyongyang continua dando demonstrações do seu poderio militar.

Há relatos de que o Ministério da Unificação da Coreia do Sul também alertou sobre a alimentos no vizinho e pedido ajuda ao Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês), agência ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).

Imagens de satélite das autoridades sul-coreanas mostram que o Norte produziu 180 mil toneladas a menos de alimentos em 2022 do que em 2021.

Em junho, o WFP expressou preocupação de que condições climáticas extremas, como secas e inundações, poderiam reduzir a produção tanto nas colheitas de inverno quanto de primavera. A imprensa estatal também noticiou no fim do ano passado que o país estava passando por sua “segunda pior” seca já registrada.

Como previsto, os preços de alimentos subiram neste ano em meio às colheitas fracas, e a população se voltou para alternativas mais baratas, afirma Benjamin Katzeff Silberstein, que trabalha para o site 38North.org, especializado em Coreia do Norte.

Diante da maior procura por milho, um alimento básico e acessível, mas não tão popular quanto o arroz na região, o preço do grão subiu 20% no início de 2023, informou a Rimjin-gang, revista norte-coreana com sede no Japão.

“Se as pessoas estão comprando mais milho, isso significa que os alimentos em geral estão ficando mais caros e alimentos básicos como o arroz em particular”, explica Silberstein. Atualmente, um quilo custa cerca de 3.400 won norte-coreanos (US$ 3,80).

A Coreia do Norte é classificada como um dos países mais pobres do mundo. Estimativas recentes são escassas, mas a publicação CIA World Factbook projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do país era de cerca de US$ 1.700 em 2015.

Dito isto, a situação concreta e os números não são claros, dada a economia pouco transparente da Coreia do Norte.

“Devido às rigorosas medidas de fronteira impostas pela Coreia do Norte em relação à covid-19 para mercadorias e pessoas, não há como alguém de fora entrar no país e verificar por conta própria qual é a situação”, diz James Fretwell, analista da NK News.

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País está familiarizado com a escassez crônica de alimentos

Segundo ele, essas medidas também dificultaram o envio de ajuda por parte de organizações fora da Coreia do Norte em momentos de crise.

A Coreia do Norte também restringiu rigorosamente o comércio e o tráfego transnacional desde janeiro de 2020.

Sokeel Park, diretor nacional da organização sem fins lucrativos Liberty in North Korea (LiNK), classifica a resposta do regime à pandemia de covid-19 como “extrema e paranoica”.

Park, cuja organização ajuda a realocar refugiados norte-coreanos na Coreia do Sul e nos EUA, afirma que o suprimento de necessidades básicas no Norte vem diminuindo desde o início da pandemia. A LiNK ouviu inúmeros relatos confiáveis ​​de pessoas morrendo de fome, segundo ele.

O país também observou um declínio significativo na ajuda humanitária da comunidade internacional — o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários afirmou que a Coreia do Norte recebeu US$ 2,3 milhões de organizações internacionais e outras agências no ano passado, número bastante inferior aos US$ 14 milhões que recebeu em 2021.

Embora isso possa ser resultado do fechamento prolongado das fronteiras, alguns funcionários desse setor disseram à BBC que as sanções internacionais, que se tornaram mais rígidas em resposta às provocações militares da Coreia do Norte, também impediram a entrega de suprimentos de ajuda humanitária.

Ainda assim, há alguns sinais de que a atividade econômica transnacional está sendo reativada. O Nikkei Asia informou na semana passada que algumas viagens de caminhão para a China, que responde por mais de 90% do comércio da Coreia do Norte, foram retomadas.

Mas isso não significa necessariamente que o padrão de vida vai melhorar para o cidadão comum norte-coreano.

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Grande parte dos gastos da Coreia do Norte vai para as forças armadas — seus lançadores de mísseis mais recentes foram apresentados no início de fevereiro

Park afirma que o regime concentrou seus recursos na capacidade bélica e na propaganda, com altos custos sociais. Pyongyang disparou um número recorde de mísseis balísticos no ano passado — mais de 70, incluindo mísseis balísticos intercontinentais, ou ICBMs, que têm o potencial de atingir o continente americano. No início deste mês, fez sua maior exibição de ICBMs em um desfile militar.

“O regime reconheceu como as coisas estão difíceis para o povo norte-coreano comum, mas continua a priorizar a propaganda e a ostentação para a família Kim, lançamentos de mísseis e controles rígidos sobre a população”, acrescenta Park.

Especialistas temem que a situação se deteriore ainda mais, levando a uma fome tão devastadora quanto a que arrasou o país em meados da década de 1990, muitas vezes chamada em documentos oficiais de “Marcha Árdua”. As estimativas colocam o número de mortes entre 600 mil e um milhão.

“Não parecemos estar perto dos níveis da fome dos anos 1990”, diz Silberstein.

“Mas os limites são muito tênues. Então, até mesmo um suprimento ligeiramente menor de alimentos pode ter consequências terríveis.”