Pilar, no Bairro do Recife, concentra mais de 40 mil fragmentos de objetos diversos e mais de 100 ossadas, além de vestígios do Forte de São Jorge, construído no Século XVI e um dos mais antigos do Brasil. Neste sábado, dia do aniversário do Recife, o prefeito João Campos esteve no local (Foto: Rodolfo Loepert/PCR)
Um dos sítios históricos mais antigos da capital pernambucana, o Bairro do Recife se tornou palco de um verdadeiro tesouro arqueológico que revisita as primeiras ocupações do povoamento da urbe, ainda no Século XVI. É nesta localidade que, com o início das construções de um conjunto habitacional dedicado à moradia popular, passaram a ser descobertas verdadeiras relíquias que, após análises minuciosas da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), alçaram a descoberta ao posto de maior achado arqueológico urbano do país. Com a medida, a Prefeitura do Recife estuda transformar o local em um parque arqueológico, onde a população e turistas possam reconectar-se ao passado de olho no futuro da cidade.
“A gente está aqui na comunidade do Pilar, numa ação da Prefeitura. Aqui está prevista a construção de alguns habitacionais. No momento em que a gente estava fazendo as escavações, a gente encontrou alguns achados arqueológicos. Com isso, a Universidade Federal Rural de Pernambuco foi chamada para participar do projeto, foram feitas várias escavações e aqui foi encontrado talvez um dos maiores achados arqueológicos em áreas urbanas do Brasil. São mais de 100 ossadas, também foram encontrados um antigo cemitério e um antigo forte que remetem ao século XVII, construção de, aproximadamente, ano 1630. Certamente foi um espaço construído pelos portugueses para fazer a resistência contra os holandeses”, detalhou João Campos.
“Devido a esse achado, a gente está agora formando um grupo de estudos na Prefeitura, com Instituto Pelópidas Silveira, a URB e a secretaria de Infraestrutura para poder definir quais serão os próximos passos. A gente está diante de um grande achado arqueológico e lógico que a gente vai preservar esse material, preservar essa área e construir novas alternativas para as habitações aqui planejadas. Para que a gente possa conciliar a necessidade de construção de moradias com a necessidade de preservação do nosso patrimônio histórico, afinal de contas aqui está mais um superlativo recifense: um dos maiores achados arqueológicos em áreas urbanas do Brasil”, acrescentou o gestor municipal.
O trabalho de pesquisa e mapeamento foi realizado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, por meio da Fundação Apolônio Salles de Desenvolvimento, entre os anos 2014 até 2020, e contabilizou cerca de 40 mil fragmentos entre cerâmicas, peças de jogos, tijolo holandês, garrafas de bebidas, perfume, remédio, moedas, bala de canhão, escova de dente e ossadas. Durante a investigação, os pesquisadores também descobriram alguns vestígios do Forte de São Jorge sob a Igreja do Pilar e, ainda na fase de pesquisa, foram constatadas algumas obras do século XVI, como a ocupação de casas e armazéns.
O local também abriga vestígios de um cemitério. Para os estudiosos que estão à frente do trabalho esse pode ser o maior cemitério arqueológico já encontrado no Brasil. A área conta com uma estrutura que dispõe de enterramentos articulados, no qual é possível recontar a história a partir dos seus achados. Mais de 100 ossadas humanas já foram encontradas nessa área e estão em estudos na UFRPE. Há indícios de que pessoas mortas na guerra e vítimas de doenças, como a cólera e gripe espanhola, que matou mais de quatro mil recifenses, entre os séculos de XVI ao XX, possam ter sido colocadas no cemitério.
Forte de São Jorge – O Forte de São Jorge é a maior edificação do gênero instalada no território brasileiro durante o Século XVI. O local é um bastião da resistência dos portugueses contra a invasão holandesa. A área dispõe de uma das mais modernas estruturas da época. Dados da iconografia apontam que os holandeses denominaram “Forte de Castelo de Terra”. O que leva a crer que sua aparência é de um castelo. Em 1630, o espaço foi palco de um importante conflito, quando os holandeses tentaram invadir a cidade do Recife.
Perto dali, havia o Forte de São Francisco, que fazia o controle das embarcações que chegavam pelo mar. Por causa da resistência, os holandeses não obtiveram sucesso nos planos. Diante disso, investiram no plano de invadir a capital pernambucana indo pela cidade de Olinda. Sem esperar, os guardiões do Forte de São Jorge acabaram sendo surpreendidos pela investida. A partir daí, eles conseguiram dominar o território.
Diante do ocorrido, instalou-se uma guerra que trouxe caos e muito danos à vida das pessoas e a arquitetura do forte, com tiros e explosões de canhão. Mesmo diante do cenário de devastação, no pós-conflito, os holandeses passaram a se apropriar do forte. Em 1645, desgastado pelo tempo e a falta de manutenção, por conta da batalha, os holandeses transformaram a área em uma enfermaria, uma espécie de hospital de campanha. Já em meados de 1679, a área ficou em ruínas, e encontrava-se totalmente abandonada. Por conta disso, o governador da época, Ari Souza de Castro, fez doação ao Capitão-mor, João Rêgo Barros. O ato foi marcado por uma entrega de uma carta de sesmaria, com a ressalva que João do Rêgo deveria construir naquele ponto uma igreja, onde está localizada a Igreja do Pilar. A edificação tornou-se realidade em 1680, mas de lá para cá passou por outras reformas. Inclusive, para construção da igreja, foram usadas várias pedras e sobras das edificações do forte. Além da igreja, é possível encontrar sobras do Forte de São Jorge, que foram reutilizadas no Forte do Brum, por exemplo.