- Mariana Sanches – @mariana_sanches
- Da BBC News Brasil em Washington
Em visita à capital dos Estados Unidos, Washington D.C., nesta terça (31/1), a ministra da Saúde do Brasil, Nísia Trindade, disse que a crise humanitária que atinge a Terra Indígena Yanomami, em Roraima, precisa estar “na agenda internacional”.
Segundo ela, o que acontece ali serve como alerta ao mundo dos problemas associados ao garimpo ilegal na Amazônia.
“É muito importante que o tema esteja também na agenda internacional, até porque essa questão do garimpo ilegal, nós estamos vivendo uma situação muito crítica (com os yanomamis), mas pode ocorrer em outros territórios, pode ocorrer em outros países da região amazônica. Então, é muito importante que haja uma compreensão internacional, uma comunicação clara e é que a solidariedade sempre bem vinda”, afirmou a ministra.
Há dez dias, ela acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em uma viagem à região para verificar a situação dos indígenas – especialmente crianças e idosos – que sofrem com casos graves de desnutrição, malária e outras doenças atribuídos à intensa degradação ambiental causada por ação garimpeira na região nos últimos anos.
As imagens dos yanomamis com os ossos evidentes sob a pele fina chocaram a audiência internacional.
Na primeira viagem de um membro de alto escalão do governo Lula aos Estados Unidos, Trindade afirmou que a situação crítica do povo yanomami foi tratada em reuniões com seu homólogo americano, Xavier Becerra, e na Organização Mundial da Saúde (OMS) e no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
“Eu mesma me antecipei à discussão da crise em particular para um debate mais amplo de saúde indígena, de iniciativas na região amazônica, como um tratado amazônico que deve fortalecer cada vez mais a questão da saúde indígena e da autodeterminação dos povos indígenas”, disse Trindade.
A ministra, no entanto, descartou que o Brasil precise de qualquer recurso internacional para lidar com a crise neste momento.
A força-tarefa do governo federal na região atua para resgatar os pacientes mais graves para tratamento domiciliar ao mesmo tempo em que inicia ações para a retirada das dezenas de milhares de garimpeiros da área.
Proposta à OMS
Segundo Trindade, a crise serviu de estopim para que o Brasil apresentasse a primeira proposta de declaração sobre saúde indígena à Assembleia Mundial da Saúde, órgão decisório da OMS.
A expectativa é que na próxima reunião do colegiado a organização aprove diretrizes para boas práticas em relação às comunidades tradicionais.
Para tanto, Trindade terá um aliado importante dentro da organização, já que, nesta terça, o médico brasileiro Jarbas Barbosa assumiu a diretoria geral da Organização Panamericana de Saúde (Opas), o braço para as Américas da OMS.
É impossível olhar as imagens dos yanomami e não pensar no que fizemos de errado como continente, como país, como sociedade, para que pessoas estivessem naquela situação de desnutrição gravíssima, pessoas, crianças e adultos, numa situação totalmente inaceitável”, afirmou Barbosa, logo após sua cerimônia de posse para mandato de 5 anos à frente da Opas.
Mais Médicos
Barbosa, no entanto, descarta que a Opas possa voltar a fazer parte do programa Mais Médicos, uma das bandeiras das gestões petistas, extinta durante o governo Bolsonaro e que a gestão Lula pretende reativar.
Segundo Barbosa, a Opas deu o programa como encerrado ainda em 2018, com a saída em massa dos cubanos do Brasil.
Desde 2019, a Opas enfrenta um processo movido por médicos cubanos nos EUA que acusam a organização de ter promovido tráfico de pessoas e trabalho forçado em cooperação com o governo cubano.
Originalmente, o governo cubano ficava com boa parte da remuneração paga pelo governo brasileiro pelo trabalho dos profissionais de saúde cubanos.
De acordo com Trindade, o desenho do programa e um possível novo acordo com o governo de Havana ainda não estão definidos, mas o objetivo principal do Mais Médicos é estimular a presença dos médicos formados no Brasil nas regiões mais carentes dos profissionais.
Trindade disse ainda esperar a visita do colega americano, Xavier Becerra, no primeiro semestre, ao Brasil, para avançar com a possibilidade de financiamento americano para a produção brasileira de vacinas, testes e insumos médicos.
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