- Chris Baraniuk
- Repórter de tecnologia
Natalie Brown transformou seu blog em um negócio próspero ao longo de uma década, investindo bastante esforço nele. Até que, um dia, ele desapareceu.
“Eu passei mal. Lentamente me dei conta… que simplesmente tinha sumido”, conta Brown, blogueira que escreve sobre maternidade e é autora do livro Confessions of a Crummy Mummy.
O site dela estava hospedado no provedor de serviços de nuvem Gridhost, que fechou em novembro. Brown nunca recebeu qualquer notificação sobre o fechamento porque seu blog havia sido criado por uma empresa terceirizada, que havia parado de operar.
E ela tampouco tinha acesso ao backup do blog, já que também havia sido hospedado na nuvem pela Gridhost. Seguiram-se dias de estresse. Muitas lágrimas foram derramadas.
A computação em nuvem, na qual informações e softwares são armazenados em data centers distantes e acessados via internet, é cada vez mais popular. Ela permite, por exemplo, que pequenas empresas configurem e-mails ou instalações de processamento de dados sem ter que manter sua própria infraestrutura de TI.
Mas quando as coisas dão errado, as consequências podem ser terríveis. Os serviços em nuvem podem estar sujeitos a interrupções intermitentes ou paralisações totais causadas por falhas técnicas, ataques à segurança cibernética ou até mesmo raios.
No caso de Brown, o blog é uma fonte direta de renda. As empresas que fabricam produtos voltados para maternidade/paternidade pagam a ela, por exemplo, para colocar um link para eles ou para publicar determinado conteúdo no blog.
“Literalmente põe comida na nossa mesa”, diz ela.
Brown afirma que a tsoHost, dona da Gridhost, não permitiu a ela acessar os dados do blog, e ela só conseguiu recuperá-los depois de contar com a ajuda de seu ex-desenvolvedor de web.
“Ele disse que levou cerca de seis horas negociando com eles”, ela relembra.
O blog está novamente no ar agora em outra plataforma, e Brown agendou backups com um outro provedor.
Um porta-voz da tsoHost disse que a empresa tentou entrar em contato com os clientes antes do fechamento da Gridhost:
“Entendemos que a decisão de aposentar a plataforma Gridhost será decepcionante, e a tsoHost está trabalhando de perto com os clientes para oferecer suporte às migrações”.
O uso de serviços em nuvem, por definição, torna uma empresa dependente de terceiros, diz Vili Lehdonvirta, professor do Oxford Internet Institute, no Reino Unido, e autor do livro Cloud Empires (“Impérios da Nuvem”, em tradução livre).
“O que é a nuvem? Bem, a nuvem é o computador de outra pessoa”, ele explica.
E as interrupções na nuvem não são incomuns. A Amazon Web Services, maior provedora de serviços em nuvem do mundo, sofreu uma interrupção parcial em dezembro de 2021, afetando milhares de clientes.
Além disso, os serviços em nuvem às vezes são desativados, como a Gridhost. O Google vai aposentar sua plataforma de nuvem IoT Core em agosto. As pessoas usam a mesma para conectar dispositivos domésticos inteligentes, entre outras coisas.
Dados do Uptime Institute, uma organização de consultoria, sugerem que, embora a nuvem não esteja ficando significativamente menos confiável de uma maneira geral, interrupções de alto custo estão se tornando mais comuns.
“Mais de 60% das falhas resultam em pelo menos US$ 100 mil (cerca de R$ 512 mil) em perdas totais, substancialmente acima dos 39% em 2019”, diz o instituto.
A computação em nuvem é cada vez mais popular entre as empresas, afirma Kristina McElheran, da Universidade de Toronto, no Canadá. Ela e seus colegas conduzem regularmente pesquisas em larga escala com centenas de milhares de empresas nos Estados Unidos.
Citando outros estudos, ela também observa que a migração para o trabalho remoto durante a pandemia de covid-19 acelerou ainda mais a adoção da nuvem.
“A nuvem é um divisor de águas para sobrevivência, crescimento e produtividade para as novas (empresas), especialmente as novas e pequenas (empresas)”, explica McElheran, se referindo às startups.
“Mas é aqui que entra a contrapartida — elas perdem o controle.”
Uma pequena empresária que sabe disso muito bem é Pokey Bolton, artista e organizadora de eventos baseada no vale do Napa, na Califórnia. No início de dezembro de 2022, seu provedor de e-mail na nuvem Rackspace foi alvo de um ataque de ransomware, afetando milhares de clientes.
“Estou furiosa”, diz ela.
Isso aconteceu em um momento particularmente delicado, porque o início de dezembro é quando Bolton tradicionalmente recebe muitas reservas para suas oficinas de artesanato anuais em janeiro.
“É meu grande gerador de caixa, é essencial para o meu negócio”, observa.
Centenas de pessoas costumam se inscrever — mas, como ela ficou sem acesso ao e-mail por vários dias, não tem certeza de quantas inscrições podem ter sido perdidas neste ano.
Bolton trocou de provedor de e-mail e diz que tentou fechar sua conta na Rackspace, mas ainda não recebeu confirmação por escrito disso. Ela também não sabe se os hackers acessaram suas contas de e-mail, que continham alguns dados de clientes e outras informações confidenciais.
Uma porta-voz da Rackspace afirmou que a empresa havia conseguido ajudar mais de três quartos dos clientes afetados a configurar novos serviços de e-mail em outra plataforma.
“Estamos proativamente entrando em contato individualmente com aqueles que ainda precisam de assistência”, ela acrescentou.
A Rackspace está publicando atualizações sobre a situação online.
É importante lembrar, no entanto, os vários benefícios da computação em nuvem, diz Lehdonvirta, principalmente quando se trata de tempo de atividade, uma medida de quanto tempo um sistema de computador funciona sem falhar.
“Apesar dessas famosas interrupções… [os provedores de nuvem] são capazes de oferecer tempos de atividade absurdos, que são muito difíceis de alcançar em uma operação de menor escala”, ele explica.
Além disso, o software executado na nuvem pode obter as atualizações mais recentes instantaneamente, o que deve ajudar a mantê-lo seguro.
Em geral, as empresas de nuvem são capazes de oferecer serviços bastante confiáveis porque podem espalhar a computação por vários data centers, afirma Paul Watson, diretor do Centro Nacional de Inovação de Dados da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
“O que você pode fazer é detectar a falha de um data center e passar a usar os recursos em outro”, diz ele.
Poucas pequenas empresas ou startups têm essa capacidade — se é que existe alguma que tenha.
De vez em quando, no entanto, uma empresa vira as costas para a nuvem. O diretor de tecnologia da companhia de software americana 37signals revelou recentemente que sua empresa deixaria a nuvem, em parte por causa dos custos, mas também por questões de confiabilidade.
Informações de melhor qualidade sobre o risco de interrupções podem ajudar as empresas a fazer escolhas informadas, observa McElheran.
E se a indústria de computação em nuvem se tornar menos competitiva e menos confiável ao longo do tempo, os formuladores de políticas podem ter que intervir para forçar melhorias.
Mas, apesar das recentes interrupções, ela acrescenta:
“Acho que ainda não chegamos lá”.
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