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“Queremos esporte praticado por muitos”, diz Ana Moser, nova ministra do Esporte

Medalhista olímpica e uma das atletas de mais destaque da sua geração, Ana Moser afirmou estar sentindo falta dos treinos de vôlei. Na primeira semana como ministra do Esporte, disse que ainda está tomando pé de todos os assuntos. Promete, porém, que os resultados virão, a exemplo do que entregava nas quadras.

Em entrevista ao Globo, a primeira mulher a assumir a pasta disse que recebeu a missão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de levar o esporte para todas as camadas da população. Ela diz que o novo governo não tem nada contra o esporte de alto rendimento, mas que é preciso dosar os investimentos.

Na sua posse como ministra, a senhora falou que recebeu uma missão especial do presidente Lula. Que missão é essa?


Sempre tive essa postura de lutar pelo esporte para todos: esporte para crianças, para jovens, para adultos. Algo que vai além do esporte de competição. Sempre fui uma das únicas vozes a falar sobre isso. Ao me convidar, é porque ele quer o que eu defendo. Ele tem falado em todos os discursos que o objetivo do governo é acabar com a fome, atender a população pobre, o SUS funcionar, educação de qualidade para todos. Então, ele pediu essa revolução também no esporte.


 

Essa revolução é focar menos no alto rendimento?


(O esporte de alto rendimento) É praticado por poucos, a gente quer um esporte praticado por muitos. Mas não é “vou fazer isso, não vou mais fazer aquilo”. Não é isso.

Mas como será feita essa divisão de esporte para todos e, ao mesmo tempo, esporte de alta performance? A senhora pensa em mudar o Bolsa Atleta?


Não tem porque mudar o Bolsa Atleta. Só se for para melhorar. São escolhas a serem feitas, mas não no sentido de cortar porque agora queremos fazer esporte para todo mundo.

Qual sua posição em relação à Lei Geral do Esporte?


A Lei Geral do Esporte é um investimento de anos de todo o setor esportivo e está bem avançada, teria sido aprovada ano passado se não houvesse mudanças na Câmara.

Teve a pressão dos atletas também que diziam que perdiam os benefícios…


Teve. Foi esse apenso que foi feito na Câmara. A lei ainda não está 100%. Vejo mais problemas nas questões que queremos implementar e tem a ver com o fundo nacional, que no primeiro momento foi desenhado para financiar o esporte de participação. Temos que focar no Plano Nacional de Esporte. A população precisa ser mais atendida. Nós pretendemos fazer uma nova proposta de texto e debater com o Congresso.

O velório do Pelé ficou marcado pela ausência de atletas, inclusive os da seleção e os pentacampeões. A que atribui esse comportamento?


Há um distanciamento grande. É preciso trabalhar pelo amadurecimento de participação dos atletas, fazer uma espécie de uma formação política dos atletas. O esporte é o retrato da sociedade em que está inserido.

E como vê o engajamento político partidário de atletas como Neymar, que nas eleições declarou apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro?


Se eu critico o Neymar, eu também vou criticar o (ex-jogador Walter) Casagrande (apoiador de Lula) ou a mim? Não vejo problema, acho que deve se aceitar. Cada um tem a liberdade de ter o seu posicionamento político.

Gestões anteriores do PT foram responsáveis por trazer a Copa e a Olimpíada ao Brasil. O novo governo Lula voltará a defender a realização dos grandes eventos no país?


Tem que fazer, lógico. O Brasil não tem problema nenhum com esporte de rendimento, nem com grandes eventos. O que não pode é fazer só isso, essa é a questão.

Mas há críticas sobre o legado deixado, que ficou só na promessa. Qual a sua opinião?


Houve sim alguns legados, alguns avanços, mas mais no nível do esporte de rendimento. Avançou em termos de visibilidade do esporte, empresários passaram a se mobilizar para apoiar, teve legislação aprovada. Mas é mais concentrado mesmo no alto rendimento. E aquele negócio: vamos fazer um estádio que depois vai virar quatro escolas? Nunca virou, porque quem quer fazer escola faz escola.

Como a senhora se posiciona no debate sobre atletas trans e como o governo pode contribuir para essa inclusão?


Eu preciso me aprofundar mais nisso. É um dilema moral, social e científico. O esporte é um meio tradicionalmente conservador, pragmático, mas ao mesmo tempo tem que estar dentro do espírito do tempo atual.

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Fonte: Folha PE

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