- Leandro Prazeres – @PrazeresLeandro
- Da BBC News Brasil em Brasília
George Washington de Oliveira Sousa e Alan Diego dos Santos Rodrigues são, segundo a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e veículos de imprensa, os nomes dos dois primeiros suspeitos de terem planejado a explosão de ao menos uma bomba em Brasília. De acordo com as informações divulgadas até o momento, eles viviam em estados diferentes (a pelo menos 1.300 quilômetros de distância um do outro) e não se conheciam.
Agora, Sousa está preso e Rodrigues, segundo o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), é procurado pelas autoridades. De acordo com o depoimento do primeiro, a discussão envolveu outros manifestantes acampados em frente ao Quartel General do Exército na capital federal.
As investigações sobre a dupla começaram na manhã de sábado (24/12), quando o motorista de um caminhão carregado com querosene encontrou um artefato explosivo. O veículo estava próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília. A Polícia Militar foi acionada e desarmou a bomba.
Horas depois, a Polícia Civil prendeu George Washington de Oliveira Sousa no estacionamento de um prédio em uma área de classe média de Brasília, onde ele estava hospedado. Ele confessou ter sido o responsável pela montagem da bomba. Com Sousa, a polícia encontrou diversas armas, entre elas carabinas, escopetas, revólveres, pistolas e centenas de munições.
Gerente de posto, bolsonarista e inconformado
De acordo com documentos obtidos pela BBC News Brasil, Sousa tem 54 anos de idade e é um gerente de posto de gasolina na região de Xinguara, no sul do Pará. Ele conta que se revoltou com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições a ponto de se mudar para Brasília e participar do acampamento de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro próximo ao QG do Exército pedindo uma intervenção militar que impedisse o petista de assumir o poder.
A região de Xinguara é conhecida por ostentar grandes taxas de desmatamento e, em 2022, votou majoritariamente no presidente Jair Bolsonaro (PL). Em Xinguara, por exemplo, Bolsonaro obteve 63,19% dos votos contra 36,81% de Lula.
Segundo o depoimento registrado junto à Polícia Civil, Sousa disse ser apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) desde sua eleição, em 2018, “por acreditar que ele é um patriota e um homem honesto”.
A partir de outubro de 2021, segundo ele, obteve licenças de Caçador, Atirador e Colecionador (CAC) e passou a comprar armas e munições. No total, teria gasto R$ 160 mil em armamentos.
“O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro que sempre enfatizava a importância do armamento civil dizendo o seguinte: ‘Um povo armado jamais será escravizado’. E também minha paixão por armas que tenho desde a juventude”, diz um trecho do depoimento de Sousa à Polícia Civil.
O apoio de Sousa a Bolsonaro ganhou novos contornos depois do segundo turno das eleições, quando o presidente perdeu para Lula. O gerente contou que após os resultados serem divulgados, ele passou a participar de protestos no Pará. No dia 12 de novembro, decidiu se mudar para Brasília, onde centenas de pessoas se aglomeram em frente ao QG do Exército.
“Após o segundo turno das eleições eu passei a participar de protestos no Pará e no dia 12/11/2022 eu vim à Brasília com a minha caminhonete Mitsubishi Triton levando comigo duas escopetas calibres 12; dois revólveres calibre .357; três pistolas, sendo duas Glocks e uma CZ Shadow 2; um fuzil Springfield calibre .308; mais de mil munições de diversos calibres e cinco bananas de dinamite”, diz um trecho do depoimento de Sousa.
Com as armas, Sousa disse à polícia que seu objetivo era claro.
“A minha ida até Brasília tinha como propósito participar dos protestos que ocorriam em frente ao QG do Exército e aguardar o acionamento das forças armadas para pegar em armas e derrubar o comunismo. A minha ideia era repassar parte das minhas armas e munições a outros CACs que estavam acampados no QG do exército assim que fosse autorizado pelas forças armadas”, diz outro trecho de seu depoimento à polícia.
Ainda de acordo com o que declarou às autoridades, Sousa disse que foi no acampamento que surgiu a ideia de usar bombas. A ideia teria surgido após protestos que resultaram na queima de um ônibus e carros em Brasília depois que um indígena bolsonarista foi preso pela Polícia Federal por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Na ocasião, ninguém foi preso em decorrência dos atos de vandalismo.
“Porém, ultrapassado quase um mês (desde o resultado do segundo turno) nada aconteceu e então eu resolvi elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das forças armadas e a decretação de estado de sítio para impedir instauração do comunismo [no] Brasil”, diz um trecho do depoimento.
“Vários manifestantes do acampamento conversaram comigo e sugeriram que explodíssemos uma bomba no estacionamento do Aeroporto de Brasília durante a madrugada e em seguida fizéssemos denúncia anônima sobre a presença de outras duas bombas no interior da área de embarque”, contou Sousa.
É nesse momento que, segundo o depoimento de Sousa, o destino dele e de Alan se cruzam.
Ex-candidato a vereador e suspeito
A identidade completa de Alan Diego Rodrigues vem sendo divulgada por veículos de imprensa como os portais G1, Metrópoles e Folha de S. Paulo. Procurada, a Polícia Civil não se pronunciou oficialmente sobre ele. Ele é citado como um dos suspeitos de ter executado a tentativa de atentado a bomba, ao lado de George Washington de Oliveira Sousa.
Segundo o portal UOL, Rodrigues vivia em Comodoro, cidade de Mato Grosso na divisa com Rondônia. A região é parte de um importante reduto bolsonarista. No segundo turno, por exemplo, Bolsonaro obteve 64,34% dos votos em Comodoro, contra 31,47% de Lula.
Ainda de acordo com o UOL, Rodrigues foi candidato a vereador pelo PSD em 2016, mas não foi eleito. Ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele declarou um patrimônio de R$ 203 mil.
Em suas redes sociais, há fotos dele com políticos bolsonaristas como o senador eleito Magno Malta (PL-ES), o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e o deputado federal eleito Zé Trovão (PL-SC). Ele também postou imagens em frente ao Palácio da Alvorada, no acampamento em frente ao QG do Exército, de uma pistola e a imagem de um leão com a legenda: “Patriotas #TACHEGANDOAHORA”.
No depoimento dado por George Washington de Oliveira Sousa à polícia, ele disse que o plano inicial discutido com outros manifestantes era explodir uma bomba no aeroporto e fazer uma denúncia anônima dizendo que outros dois artefatos estariam armados na área de embarque do local.
Sousa, porém, disse que não concordou com a ideia e passou a defender que a bomba fosse instalada em postes de energia elétrica próximos a uma subestação de eletricidade em Taguatinga, uma das maiores cidades-satélites do Distrito Federal. Uma mulher que havia se voluntariado para levar a bomba ao local planejado não compareceu.
Foi aí que, segundo Sousa, Rodrigues entrou na história.
“Ao contrário da mulher, um homem chamado Alan que eu já tinha visto algumas vezes no acampamento se mostrou mais disposto e se voluntariou para instalar a bomba nos postes […] que ficam próximos à subestação de Taguatinga, já que era mais fácil derrubar os postes do que explodir a subestação como foi pensado originalmente”, diz um trecho do depoimento de Sousa.
O gerente de postos afirmou que, no dia 23, entregou a bomba a Rodrigues para que ele a instalasse nos postes.
“Eu entreguei o artefato ao Alan e insisti que ele instalasse em um poste de energia para interromper o fornecimento de eletricidade, porque eu não concordei com a ideia de explodi-la no estacionamento do aeroporto. Porém, no dia 23/12/2022 eu soube pela TV que a polícia tinha apreendido a bomba no aeroporto e que o Alan não tinha seguido o plano original”, consta em outro trecho do depoimento de Sousa à Polícia Civil.
Desde a prisão de Sousa, a polícia vem fazendo buscas para localizar Rodrigues. Nesta terça-feira (27/12), porém, o governador Ibaneis Rocha disse, ao ser questionado sobre o assunto, que tudo indica que o homem fugiu do Distrito Federal.
“A polícia já identificou essa pessoa, está fazendo as buscas. Pelo que foi alcançado pela polícia, ele já se evadiu do Distrito Federal, mas estão atrás e a gente deve ter notícia nas próximas horas”, disse Ibaneis durante uma entrevista coletiva.
A BBC News Brasil procurou a defesa de George Washington de Oliveira Sousa, mas o advogado que inicialmente o atendia informou que não está mais conduzindo o caso. No sistema da Justiça do Distrito Federal e Territórios, não há nenhum outro advogado cadastrado para defendê-lo.
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