Os goleiros brasileiros eram bebês ou crianças quando Cláudio Taffarel defendeu o pênalti de Daniele Massaro em Pasadena, deixando o Brasil a um passo do tetracampeonato mundial. Quase três décadas depois, o herói do título busca mais uma conquista, desta vez como preparador de goleiros da seleção.
“Sai que é sua, Taffarel!”, gritou Galvão Bueno, frase lembrada até hoje, quando o camisa ‘1’ defendeu a cobrança do atacante italiano.
O pênalti seguinte da Itália no estádio americano Rose Bowl, em 17 de julho de 1994, deu ao time de Romário o quarto título mundial, o primeiro desde a vitória da equipe comandada por Pelé no México-1970.
“Eu gritava Taffarel! Algo que ficou marcado não só na minha infância, mas na de muitos brasileiros”, disse Alisson, titular da camisa 1 de Tite, ao site do Globo Esporte em novembro ao relembrar a emoção ao vê-lo em ação.
Hoje aos 56 anos, Taffarel é o professor do trio de goleiros do Brasil que busca o hexacampeonato no Catar: Alisson (Liverpool, ING), Ederson (Manchester City, ING) e Weverton (Palmeiras).
A Croácia, vice-campeã na Rússia-2018, é o obstáculo a ser superado na sexta-feira para avançar às semifinais.
Admiração e confiança
Ele é “a principal referência (como goleiro)”, disse Alisson, de 30 anos, que teve atuação marcante na vitória sobre a Coreia do Sul (4 a 1), nas oitavas de final.
“E depois, o que mais me marcou, quando comecei a conviver com ele na Seleção foi ver a essência dele como pessoa (…) A sua capacidade de transmitir para nós, goleiros, de uma maneira natural, sem ser forçado, todo o conhecimento dele. Ele tem um impacto grande na minha evolução como goleiro”, garantiu.
Considerado por muitos o melhor goleiro da história do Brasil, Taffarel divide a função de preparador da Seleção, na qual está desde 2014, com o mesmo cargo no Liverpool de Jürgen Klopp (desde novembro de 2021).
“Queremos criar uma filosofia própria para os goleiros. Para isso, achamos que fazia sentido misturar nossos goleiros com um preparador que fosse um jogador de nível mundial”, disse Klopp dias depois de “Taffa” ser apresentado pelos ‘Reds’.
Ele passou a se dedicar a essa função dois anos depois de pendurar as luvas. A lenda romena Gheorghe Hagi, seu ex-companheiro de equipe no Galatasaray, o convidou em 2005 para ser o preparador de goleiros quando assumiu a direção técnica do clube turco.
O colombiano Faryd Mondragón, que disputou as Copas de 1994, 1998 e 2014, foi seu primeiro aluno.
“Cláudio é um ser humano extraordinário, um grande profissional. Tem uma excelente técnica com os dois pés, além do conhecimento da posição. Alisson, Ederson, Weverton não poderiam estar em melhores mãos”, comentou à AFP.
“Para um goleiro, o mais importante é ter alguém que você admira, mas também em cujo conhecimento você confia”.
Rodízio e solidez
Taffarel foi atualizando seu entendimento sobre o gol conforme a posição evoluía, principalmente com o uso do pé como condição inegociável para muitos treinadores.
Ele frequentemente analisa vídeos de treinos de outros preparadores para adicionar ou adaptar às suas rotinas.
“Queremos sair de campo sem tomar gols, porque quando não sofremos temos mais tranquilidade para atacar”, disse há alguns dias em Doha, antes de o alemão Manuel Neuer o ultrapassar como goleiro com o maior número de jogos em Copas do Mundo (19 contra 18).
No caminho para o Catar, os goleiros brasileiros foram os menos vazados nas eliminatórias sul-americanas (5 gols sofridos em 17 jogos) e sugeriram a Taffarel a ideia de rodízio devido ao seu alto nível.
A comissão técnica aceitou e todos tiveram minutos nas eliminatórias e na Copa América-2021, perdida para a Argentina no Maracanã.
“A capacidade e o conhecimento de Taffarel, somados a sua experiência, permitem que ele prepare seus goleiros da melhor maneira”, disse à AFP o ex-goleiro venezuelano Rafael Dudamel.
No Catar, Alisson foi titular em três jogos, enquanto Ederson, de 29 anos, teve ótima atuação na derrota por 1 a 0 para Camarões, no encerramento do Grupo G, e Weverton, de 34, jogou os minutos finais do confronto contra os coreanos.
Em quatro jogos, sofreram dois gols, um a mais que o Marrocos, a defesa menos vazada da Copa.
“Acho que aqui vai se formando uma família com afeto, carinho, respeito e, principalmente, resultado dentro de campo, que é o que mais importa”, comentou o goleiro do Palmeiras.
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Fonte: Folha PE