Dentre os milhões de brasileiros extasiados ao verem o atacante Richarlison balançar, por duas vezes, a rede da Sérvia na estreia do Brasil na Copa do Mundo, no último dia 24 de novembro, poucos devem ter vibrado tanto quanto a nutricionista e estudante de medicina Laryssa Nogueira, de 29 anos, e o pai dela, José Edgar Ferreira de Souza, de 57.
Morador de Ibimirim, no Sertão pernambucano, o consultor financeiro aposentado vive hoje com mais saúde e independência graças, em parte, ao apoio do camisa 9 da Seleção.
A história remonta a 2016, ano em que Edgar foi recomendado a fazer uma cirurgia de estimulação cerebral profunda (ECP ou DBS, em inglês), tratamento que visa combater sintomas do mal de Parkinson, diagnosticado precocemente quando ele tinha 36 anos.
Nesse momento, aos 51, o consultor já não respondia bem à medicação que tomava para controlar a doença.
“Os pacientes com indicação cirúrgica também devem ter uma idade viável para a cirurgia, o que era o caso dele. Mas, na época, o HC (Hospital das Clínicas de Pernambuco) não estava fazendo o procedimento por falta de verba. Nós entramos na Justiça, mas as coisas andavam muito devagar”, conta Laryssa.
Mobilização solidária
Sem perspectiva de conseguir, no curto prazo, a realização da cirurgia, ao mesmo tempo em que via a condição do pai se agravar, Laryssa recorreu às redes sociais.
“Ele já não andava mais, estava totalmente dependente, e minha mãe deixou de trabalhar porque cuidava dele. Toda essa situação me deixava muito nervosa. Então, eu vi que precisava arranjar dinheiro de alguma forma e comecei a fazer uma campanha”, diz.
Para impulsionar a “vaquinha”, que crescia por meio da venda de rifas no valor de R$ 100, a estratégia de Laryssa e dos familiares e amigos que a ajudaram na iniciativa foi chamar a atenção de famosos e influenciadores. A ideia não era pedir dinheiro diretamente, mas que eles usassem a influência que têm na internet para mobilizar os seguidores e conseguir mais doações.
A adesão foi maior do que se imaginava. Até hoje, é possível ver, no perfil da campanha no Instagram (“Ajude Edgar”), vídeos de gente como Carlinhos Maia e Wesley Safadão. Também nessa época o grupo procurou Nenê, do Vasco, time do coração de Edgar. O craque topou ajudar e, logo depois disso, chegou a mensagem de um outro jogador, um certo atacante brasileiro que defendia o Watford, da Inglaterra.
“Richarlison simplesmente apareceu e mandou um ‘direct’, dando a ideia de dar uma camisa autografada para poder rifar. O pai dele mandou a camisa por correio. Foi muito legal, eu me emocionei muito. Comecei a pedir camisas para outros jogadores também, e a campanha só fez crescer”, afirma Laryssa.
Gol nas redes e na vida
Antes de seguir com a história, vale contar um detalhe importante. No meio da campanha, em 2017, o médico de Edgar, o neurocirurgião Antonio Marco Duarte, abriu mão de receber o pagamento da cirurgia. Mas continuava sendo necessário comprar o aparelho da DBS, que, uma vez instalado no cérebro, emite eletrodos capazes de controlar alguns efeitos do Parkinson.
Para Edgar, o equipamento custou R$ 230 mil. Mas, com a mobilização impulsionada pelo camisa 9, o dinheiro foi arrecadado em dois meses e o aposentado fez a cirurgia no dia 28 de novembro de 2017.
“Ele está ótimo. Hoje é independente, caminha, vai sozinho à terapia”, conta a filha, alegre, que não teve como conter a emoção quando viu o atacante girar, no voleio, para arrematar o jogo contra os sérvios.
“Eu saí correndo desesperada pela casa. Fui ver de novo a conversa com ele, postei despretensiosamente no Twitter e viralizou. Se eu não falasse, ninguém nunca ia saber. E eu tenho o maior prazer de contar essa história”, celebra Laryssa.
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Fonte: Folha PE