O que a clarividência, as casas de apostas, a inteligência artificial, os bancos de investimento e o bolão do seu grupo de amigos têm em comum? São algumas das maneiras pelas quais as pessoas tentam prever os resultados da Copa do Mundo de futebol.
Os motivos também são variados: as casas de apostas, por exemplo, ganham muito dinheiro com os apostadores que erram.
As instituições financeiras visam mostrar a precisão dos modelos de previsão normalmente usados para prever os movimentos do mercado. Mas a imprevisibilidade dos jogos dificulta seriamente a precisão de seus modelos.
Uma lógica semelhante se aplica às previsões dos chamados “místicos”, como o brasileiro Athos Salomé. Ele afirma ter previsto a pandemia de covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia. Acertar os resultados das partidas de futebol serve como uma espécie de validação de seus “poderes”.
Não podemos nos esquecer das mesas redondas com jogadores e técnicos que os meios de comunicação do mundo todo promovem antes da competição. E é claro, eles erram com bastante frequência.
A Copa do Mundo, a competição mais importante do esporte mais popular da Terra, tem enorme apelo em todo o mundo. A Federação Internacional de Futebol (Fifa) estima que cinco bilhões de pessoas vão assistir aos jogos no Catar.
“O comportamento de apostar está ligado a um desejo humano de gratificação, seja retorno financeiro ou um pouco mais de emoção, mesmo quando não há dinheiro envolvido”, explica Robert Simmons, professor especialista em economia da Universidade de Lancaster, no Reino Unido.
A ironia aqui é que a Copa do Mundo não costuma ser uma competição totalmente imprevisível. Mas derrotas chocantes de seleções consideradas favoritas — como a Argentina perdendo para a Arábia Saudita, e a Alemanha para o Japão — já mostraram o quão arriscado pode ser seguir qualquer previsão.
Com isso em mente, mostramos a seguir algumas maneiras pelas quais as pessoas tentam adivinhar resultados.
A BBC não endossa nenhum desses métodos.
Computador revela ‘campeão’
Algoritmos e inteligência artificial são as formas mais recentes de prever qual país vai erguer a taça em 18 de dezembro.
Os cientistas do Alan Turing Institute, um importante centro de pesquisa de ciência de dados e inteligência artificial do Reino Unido, fizeram 100 mil simulações de computador dos 64 jogos da Copa do Mundo, usando estatísticas e resultados anteriores.
Cinco vezes campeão, o Brasil ficou em primeiro lugar em praticamente uma em cada quatro simulações, seguido pela Bélgica e os bicampeões Argentina e França.
As previsões da Argentina, no entanto, já parecem duvidosas depois da derrota na primeira fase.
“Certamente não recomendaríamos ninguém a apostar em nenhuma das nossas previsões”, disse o instituto em um comunicado.
“Não importa o quão bom seja o seu modelo, o futebol é um jogo bastante aleatório.”
De fato, várias instituições financeiras, incluindo Goldman Sachs, UBS e ING erraram os vencedores nos últimos dois torneios.
Uma exceção é a Liberium Capital, com sede em Londres, cujo estrategista Joachim Klement desenvolveu um algoritmo que previu corretamente os vencedores de 2014 (Alemanha) e 2018 (França).
Mas será que pode ter sido apenas sorte? Até Klement diz que este fator é mais relevante do que qualquer outro.
Ele afirmou ao site de notícias financeiras Marketwatch que seu modelo determina apenas 45% da chance de uma equipe vencer o torneio, sendo os 55% restantes pura sorte.
Pandas, alpacas, furões e camelos estão entre os animais “videntes” que já foram consultados.
Essa tendência é culpa do polvo Paul. O molusco ganhou fama como “oráculo” após uma série de previsões corretas durante a Copa do Mundo de 2010 — incluindo a Espanha como vencedora do torneio.
Paul, da cidade alemã de Oberhausen, era colocado diante de duas caixas contendo alimentos, cada uma decorada com a bandeira de um país que disputaria a partida seguinte. Ele escolheu a caixa “correta” em 12 das 14 ocasiões.
Infelizmente, Paul morreu alguns meses depois daquele torneio.
Os cientistas, no entanto, questionam com frequência tais “poderes paranormais”. No caso do Paul, existe até a suspeita científica de que os polvos são mais atraídos por listras horizontais do que verticais, o que poderia explicar uma preferência por algumas bandeiras.
As casas de apostas, às vezes, acertam
Isso não é de forma alguma um incentivo a apostar nos resultados da Copa do Mundo, mas mesmo especialistas como Simons admitem que as casas de apostas estão “bem posicionadas” ao escolher uma variedade de resultados.
“Nenhuma previsão é totalmente boa, mas as casas de apostas são uma boa fonte de informação, porque se errarem, vão pagar muito dinheiro”, diz ele.
Simons está se referindo à distribuição das probabilidades de um determinado resultado. O Brasil, por exemplo, aparece como favorito com 3/1 em alguns sites de apostas, enquanto a Croácia, finalista do último torneio, está listada como 100/1. Já o Catar, país sede da Copa do Mundo, é avaliado como tendo uma chance em mil de conquistar o título.
As probabilidades são definidas para garantir que a casa de apostas ganhe mais dinheiro do que os apostadores, portanto, seguir essas estatísticas não é garantia de sucesso.
História (e geografia) importam — e muito
A Copa do Mundo mudou muito desde que foi realizada pela primeira vez no Uruguai em 1930. O evento cresceu em tamanho, popularidade e importância. Mas algumas coisas permaneceram bastante previsíveis, como:
- Embora 79 países tenham participado das 21 edições anteriores do torneio, apenas oito venceram — Brasil (cinco vezes); Itália e Alemanha (quatro vezes); França, Uruguai e Argentina (duas vezes); e Inglaterra e Espanha (uma vez);
- Desde 1978, apenas três finais contaram com uma seleção que nunca havia vencido o torneio;
- A última vez que um campeão conquistou títulos consecutivos foi em 1962, quando o Brasil triunfou;
- Somente Brasil, Alemanha e Espanha venceram uma Copa do Mundo fora do seu continente;
- Nenhuma nação africana passou das quartas de final; a Coreia do Sul foi o único país asiático a chegar às semifinais (em 2002);
- Apenas a Espanha conseguiu vencer o torneio após uma derrota na primeira partida (em 2010).
Peça ajuda de um italiano ou alemão
Por último, mas não menos importante, precisamos falar sobre o efeito Bayern de Munique e Inter de Milão. Desde 1982, pelo menos um jogador destes times (alemão e italiano, respectivamente) disputou uma final de Copa do Mundo.
Isso pode se repetir no Catar? O Bayern tem 17 jogadores na Copa do Mundo de 2022 em diferentes seleções, enquanto o Inter tem seis.
Isso pode devolver o ânimo a alguns torcedores argentinos cabisbaixos — o atacante Lautaro Martinez é um dos melhores jogadores do Inter de Milão.
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