- Nathalia Passarinho
- Enviada da BBC News Brasil a Sharm El-Sheikh (Egito)
O ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide, disse na terça-feira (15) à BBC News Brasil que deve ampliar o envio de dinheiro do país nórdico para projetos de conservação na Amazônia após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro.
Segundo ele, o governo norueguês já vai começar a negociar com a equipe de transição de Lula as condições para o desbloqueio do Fundo Amazônia, assim como a possibilidade de aumentar os repasses do país nórdico para a preservação da floresta.
“Queremos desbloquear o Fundo Amazônia assim que entrarmos em acordo sobre a estrutura institucional dele. O que o presidente Lula disse na campanha, o que a equipe dele tem falado com a gente e a experiência que tivemos no passado sugerem que é algo que podemos resolver rapidamente”, disse Eide, que está no Egito para a COP27, a cúpula das Nações Unidas sobre mudanças climáticas.
“Já vamos conversar com a equipe de Lula para preparar isso. E, uma vez no poder, ele deverá tomar algumas decisões que achamos que vai tomar e o fundo vai ser reaberto rapidamente”, disse
O ministro lembrou que há atualmente cerca de US$ 540 milhões no Fundo Amazônia, congelados desde 2019 quando Noruega e Alemanha se desentenderam com o governo Jair Bolsonaro sobre a forma como os repasses deveriam ser gerenciados. Eide destacou que, além desse dinheiro, outros recursos devem ser disponibilizados pelo país nórdico a partir de janeiro de 2023.
“Esse dinheiro já está lá, mas também estamos muito prontos para cooperar com o Brasil em outros projetos para a Amazônia. O ecossistema não respeita fronteiras. Então, estamos muito animados para melhorar nosso relacionamento com o Brasil, o que eu acho que vai acontecer.”
Perguntado pela BBC News Brasil se havia espaço para mais dinheiro ser aplicado no Fundo Amazônia, ele respondeu:
“Sim, a princípio sim. O primeiro passo é desbloquear o dinheiro que já está lá, mas queremos ter conversas para fechar novas colaborações.”
Mais cedo, em um evento com governadores de Estados que abrigam áreas de floresta Amazônica, o diretor do programa do governo norueguês que administra os repasses do Fundo Amazônia, Andreas Dahi Jorgensen, disse que, com Lula no cargo, “o mundo” precisa mobilizar recursos para ajudar o Brasil.
“O Brasil mostrou os melhores resultados de mitigação de emissões da história na Presidência do Lula. Temos o presidente eleito dizendo que quer repetir esse feito, o que é de um significado global enorme. Então o mundo tem que se juntar para mobilizar os recursos e as ferramentas para ser parceiro do Brasil de uma maneira nunca vista antes”, afirmou Jorgensen.
Alemanha fala em desbloqueio antes da posse
Já a Alemanha, que contribui com um montante menor que a Noruega no Fundo Amazônia, disse que pode desbloquear a sua parte até mesmo antes da posse.
“O Fundo Amazônia funciona de acordo com a performance. Se diminui o desmatamento, o dinheiro flui. Eu já anunciei em público que temos que voltar com o Fundo Amazônia, o financiamento vai estar disponível até antes do início do ano que vem”, disse Jochen Flasbarth, secretário de Estado do Ministério da Economia da Alemanha, em evento com governadores brasileiros na COP27.
“Estamos muito atraídos pela ideia de uma economia da floresta em pé. É isso que queremos ver e apoiar. Nós sabemos que o Brasil e a região Amazônica precisam ter crescimento para melhorar o bem-estar das pessoas e é por isso que a gente está renovando essa parceria com nossos amigos brasileiros.”
Lula na COP26
Lula participa nesta quarta-feira (16) da COP27 em Sharm El-Sheikh, no Egito. A presença dele é uma das aguardadas por lideranças internacionais e a imprensa estrangeira.
Por volta das 17h do horário local, ele vai fazer um pronunciamento. Na terça (15), já no Egito, estavam previstas reuniões reservadas com os enviados especiais dos Estados Unidos, John Kerry, e da China, Xie Zhen Hua.
Antes de se encontrar com Lula, John Kerry disse à BBC News Brasil que estava “animado” para conversar com o presidente eleito e que esperava uma “guinada completa” na política ambiental brasileira.
“Estou animado para encontrar com ele”, disse Kerry. Ao ser perguntando pela BBC News Brasil se os EUA vão injetar recursos no Fundo Amazônia, ele respondeu: “Vamos analisar… Obviamente eu quero ter a chance de conversar (com Lula), mas estou confiante de que ele vai promover uma completa guinada nas políticas.”
“Estamos animados para trabalhar com ele e confiantes de que faremos tudo o que podemos (para preservar a Amazônia.”
Durante a COP27, Kerry se reuniu também com a deputada federal eleita Marina Silva, um dos nomes mais cotados para assumir o Ministério do Meio Ambiente. Ela disse em entrevista à BBC News Brasil que pediu aos EUA e representantes de outros países ricos, como Canadá, Alemanha e Noruega, para que contribuam financeiramente com o Fundo Amazônia.
“Todas as lideranças com quem conversei sinalizaram que têm interesse em aumentar a cooperação com o Brasil. Nós somos o maior país da América Latina. Temos um papel importante no terreno da geopolítica e o mundo tem consciência disso. Sabe que a gente vive uma crise econômica, social e política e está muito solidário em ajudar o Brasil nesses quatro anos”, disse.
“Nas conversas que tive com Alemanha, Reino Unido, Canadá, Noruega, enfim, todos os parceiros têm sinalizado e entendido que o Brasil é o país que pode mudar o paradigma, porque reúne as melhores condições para fazer isso. E as pessoas querem ver o Brasil liderando pelo exemplo.”
Representantes de quase 200 nações estão reunidos no Egito com o objetivo de discutir novos compromissos para garantir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C.
Na cúpula do ano passado, a COP26, o Brasil assinou um importante acordo sobre proteção de florestas, que estabelece como meta desmatamento zero no mundo até 2030. O documento prevê US$ 19,2 bilhões em recursos públicos e privados para ações ligadas à preservação das florestas, combate a incêndios, reflorestamento e proteção de territórios indígenas. O presidente Jair Bolsonaro não compareceu e as negociações avançaram com a participação de diplomatas do Itamaraty.
Mas os indicadores mostram o Brasil na contramão das promessas e compromissos de controle de emissões de CO2. A taxa de desmatamento na Amazônia registrada em 2021 foi a maior em 15 anos e o número de emissões de gás carbônico pelo Brasil no ano passado foi o maior em 16 anos.
Bolsonaro novamente optou por não comparecer à COP27. O governo está sendo representado pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. Mas as atenções internacionais estão voltadas a Lula e seus ministeriáveis, como demonstra a agenda de reuniões bilaterais importantes que Marina Silva e o presidente eleito vão cumprir nesta semana na COP27.
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