- Zoe Kleinman
- Editor de Tecnologia, BBC News
Chegou o momento que ninguém tinha certeza de que realmente aconteceria: após meses de drama, Elon Musk anunciou que o acordo de US$ 44 bilhões para comprar o Twitter está completo.
Ele divulgou a grande novidade no próprio Twitter, é claro. Nas últimas horas, o bilionário mudou até a biografia no seu perfil pessoal para “Chief Twit” (“Chefe Twit, em tradução livre) e declarou que “o pássaro está liberado”, em alusão ao símbolo de sua nova empresa.
Ainda não houve uma confirmação oficial do negócio, e o silêncio na sede do Twitter até agora tem sido bastante ensurdecedor.
Mas talvez não exista ninguém lá para enviar esse e-mail — Musk supostamente já demitiu o CEO Parag Agrawal, o diretor financeiro Ned Segal e o executivo jurídico Vijaya Gadde, enquanto o perfil do LinkedIn do presidente Bret Taylor sugere que ele não está mais na empresa.
Mas como será o futuro do Twitter com Musk?
‘Uma praça digital’
Musk dirigiu-se a potenciais anunciantes em uma mensagem atipicamente humilde compartilhada na rede social na quinta-feira (27/10).
Na postagem, ele falou em comprar o Twitter porque queria “tentar ajudar a humanidade” e desejava que “a civilização tivesse uma praça digital”. Ele também admitiu que a missão pode falhar.
O fato de Musk ter escrito especificamente para quem anuncia no Twitter sugere que ele pretende pelo menos por enquanto manter o modelo de negócios baseado em publicidade digital.
A estratégia de receita com anunciantes segue firme no Twitter, apesar de esse tipo de negócio estar desgastado em outras gigantes digitais, como a Alphabet, dona do Google, e a Meta, dona do Facebook e do Instagram, à medida que a crise financeira global cresce e as empresas têm menos dinheiro para gastar em marketing.
No passado, o bilionário falou sobre querer diminuir a moderação, para que mais vozes possam ser ouvidas com liberdade — o Twitter há muito é acusado de favorecer mensagens liberais e de esquerda, o que sempre foi negado pela empresa.
Musk pode decidir trazer de volta alguns dos usuários mais controversos, banidos pela gestão anterior. Será que é o caso de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, que já havia dito não querer retornar à plataforma, ou até de Kanye West, amigo pessoal de Musk?
Não dá pra ter certeza sobre isso. Musk oferece agora uma visão mais restrita, dizendo que a plataforma deve permanecer “acolhedora”, obedecer às leis nacionais e não se tornar “um inferno livre para todos”.
West foi banido por antissemitismo e Trump “suspenso permanentemente” por incitar a violência — o que, segundo as palavras mais recentes de Musk, soa um tanto infernal.
Spam e superaplicativos
Musk se enfureceu com a quantidade de conteúdos promocionais e contas falsas que ele acredita poluírem o site — o Twitter sempre contestou as alegações de que o número oficial de usuários é muito baixo.
Ele poderia ordenar um cancelamento de contas em massa, embora isso provavelmente afetaria o número de seguidores, o que poderia ser um primeiro movimento impopular.
Talvez a dica mais intrigante sobre o futuro da plataforma até agora seja sobre a nova empresa ser o início de “X, o aplicativo de tudo”.
Ele nunca detalhou esses planos, mas muitos sugerem que Musk esteja se referindo à criação de uma espécie de “super aplicativo” nos moldes do WeChat da China — um espaço único que contenha mídia social, mensagens, finanças, pedidos de comida… — em poucas palavras, um grande administrador da vida cotidiana.
Outros países ainda não tem uma plataforma do tipo, embora se possa argumentar que o WhatsApp da Meta, e até o Facebook Messenger, estão se transformando silenciosamente em serviços com múltiplas funções.
Musk não disfarçou o amor que nutre por criptomoedas e a Binance, a maior bolsa de moedas digitais do mundo.
Poderíamos ver uma configuração do Twitter para que as empresas aceitem pagamentos em criptomoedas? Isso seria um sucesso entre os fãs dessa modalidade financeira e um horror para aqueles que alertam sobre os riscos dessa escolha, classificada como não regulamentada e desprotegida.
Não dá pra negar que Musk é visionário, volátil, ambicioso e criativo. Com isso, é possível garantir que as mudanças começarão a acontecer — e alguns fãs do Twitter já dizem que isso poderá afastá-los desta rede social.
“Queríamos carros voadores. Em vez disso, temos 140 caracteres”, escreveu Peter Thiel, um investidor da indústria de tecnologia.
Mesmo diante dos memes “expectativa versus realidade”, sabemos muito bem que Musk pode conseguir as duas coisas.
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Você precisa fazer login para comentar.