- Amanda Ruggeri – @amanda_ruggeri
- BBC Worklife
Depois que nasce o bebê, mães enfrentam a pressão de retornar aos corpos que tinham antes da gravidez. As consequências são enganosas e, às vezes, perigosas.
Logo depois que Sharon Oakley teve seu bebê em 2018, seus conhecidos rapidamente a felicitaram pela sua aparência. “Oh, você está muito bem. Como você emagreceu!” era o que ela ouvia meses depois do parto.
Ela talvez parecesse ter “voltado ao normal”, mas a realidade era diferente. Embora tivesse perdido a maior parte do peso ganho durante a gravidez, fisicamente ela estava sofrendo.
A canadense Oakley, que mora em Yorkshire, no Reino Unido, é uma ávida corredora que adorava correr com seu filho no carrinho de bebê, em uma rotina que ela manteve por seis meses depois de dar à luz. Mas ela sofria perda urinária por todo o caminho. E, ao voltar ao trabalho, ela começou a sofrer escapes da bexiga também no escritório.
Após uma busca complicada pelo diagnóstico, que incluiu uma espera de seis meses por uma indicação de fisioterapeuta, Oakley descobriu que sofria de retocele e prolapsos da bexiga e do útero. Esta condição ocorre quando os órgãos pélvicos não são mantidos adequadamente no lugar porque o assoalho pélvico foi enfraquecido e eles deslizam da sua posição normal.
Quatro anos depois, sua condição melhorou, mas ela ainda tem escapes ocasionais. Ela sempre carrega calcinhas de reserva quando sai de casa e fica preocupada quando sai para correr. Houve uma época em que ela pensou que precisaria demitir-se do emprego.
“É uma parte muito estranha da nossa cultura avaliar o período pós-parto de uma mulher em termos da sua aparência e não como ela está se sentindo”, afirma Oakley. “Eu pareço estar bem, mas tenho essas lesões do parto que ainda estou enfrentando todos os dias.”
Histórias como a de Oakley são muito mais comuns do que se imagina.
Embora nem sempre seja sintomático, somente o prolapso dos órgãos pélvicos afeta até 90% das mulheres após o parto. Já a incontinência urinária, que também pode ser causada pela rigidez excessiva do assoalho pélvico, cicatrizes dos tecidos ou lesões nervosas, atinge cerca de um terço delas.
E existe a diástase abdominal, em que os músculos abdominais que se separam para abrir espaço para que a barriga cresça ainda não se uniram de volta. Esta condição pode fazer com que a barriga pareça inchada e causar dores, prisão de ventre e escapes de urina, além de dificuldades para andar ou levantar-se. Ela afeta 60% das mulheres após o parto.
E, mesmo na ausência de lesões específicas da gravidez ou do parto, o corpo sofre alterações fisiológicas drásticas durante a gravidez, o parto e o período pós-parto. Elas são causadas pelos hormônios que dizem ao corpo que mantenha as gorduras armazenadas, pela pressão sobre o assoalho pélvico e pelos nutrientes que são retirados da alimentação da mãe para sustentar o feto ou um bebê em lactação. Tudo isso significa que a recuperação e a cura são demoradas.
Mas muitas mulheres descobrem que, depois que o bebê nasce, a mensagem que elas recebem da sociedade não é que elas devem repousar e recuperar-se, mas sim que elas devem “voltar ao normal”, para os corpos e comportamentos que elas tinham antes de ficarem grávidas.
A imprensa examina os corpos das celebridades após o parto para saber se elas perderam peso ou não, com pouco ou nenhum conhecimento de outras condições que aquelas pessoas podem estar enfrentando.
Existem inúmeros programas de dieta e exercícios dedicados às mães, mas relativamente poucos deles são elaborados por especialistas em saúde pós-parto. Os amigos, a família e até os colegas fazem comentários frequentes sobre a aparência física de uma mãe.
E, enquanto os homens com “pneuzinhos” — ou seja, com físico “médio” — atualmente estão sendo celebrados, as mulheres que realmente dão à luz raramente recebem a mesma consideração.
Para algumas mães, a pressão para perder peso rapidamente, aliada à assistência médica e cuidados pós-parto inadequados, pode ser uma mistura tóxica e até perigosa. Ela pode piorar as lesões do parto e dificultar a cura.
E pode também prejudicar a saúde física e mental em um dos períodos emocionalmente mais turbulentos e vulneráveis, e com maior privação de sono, da vida de uma pessoa.
Tornar-se mãe significa mais do que entrar em uma nova etapa da vida. É uma transformação da vida, da mentalidade e até da identidade de uma pessoa.
Para muitas mulheres, esta provavelmente é a primeira vez em que elas foram totalmente responsáveis por um ser humano pequeno e vulnerável, que precisa delas de forma praticamente constante. E pode ser também a primeira vez em que elas não trabalham ou são financeiramente dependentes do parceiro.
Podem surgir preocupações financeiras, principalmente em países que não oferecem licença-maternidade ou políticas de creche adequadas. E, se ou quando elas retomam suas carreiras, as mães frequentemente sentem a pressão de projetar a imagem de que a maternidade não as mudou – muitas vezes para evitar a “penalidade da maternidade”, que prejudica os salários e as perspectivas profissionais das mulheres.
Tudo isso ocorre, mesmo sabendo que a maternidade afeta não só as prioridades (fazendo com que, por exemplo, seja mais difícil ficar até tarde da noite no escritório), mas chega até a mudar o cérebro das pessoas.
Para piorar a situação, tudo isso acontece em uma época em que muitas mulheres estão mais exaustas do que nunca. Elas estão se recuperando fisicamente da gravidez e do parto. E mais de um quarto delas sofre de problemas de saúde mental, como a depressão pós-parto ou estresse pós-traumático após darem à luz.
E, como se não bastassem todos esses fatores de tensão, as mães ainda lutam contra a pressão para “voltar ao normal”.
Muitas culturas, especialmente no Ocidente, colocam uma pressão imensa sobre as mulheres após o parto. Elas precisam voltar a agir como se a gravidez, o parto e a maternidade nunca tivessem acontecido – e rápido.
“Muitas novas mães sentem que precisam se esforçar para provar que sua gravidez não causou alterações a elas, nem aos seus corpos”, segundo a ginecologista, obstetra e especialista em lactação Jennifer Lincoln, de Portland, no Estado de Oregon (EUA). Trata-se de uma “realidade inatingível para muitas”, afirma ela, mas as mulheres, ainda assim, internalizam essa pressão – e, às vezes, forçam seus corpos ao máximo, de formas perigosas.
“Já vi pessoas que começaram a exercitar-se apenas uma semana após o parto e, depois, tiveram problemas com prolapso uterino e da cervical por se exercitarem demais, além de sofrerem maior sangramento”, afirma Lincoln, que também é autora do livro Let’s Talk About Down There: An OB-GYN Answers All your Burning Questions… Without Making You Feel Embarassed for Asking (“Vamos falar sobre lá embaixo: uma ginecologista-obstetra responde a todas as suas perguntas ardentes, sem deixar você constrangida por perguntar”, em tradução livre).
“Também já tive mães que amamentavam, mas reduziram suas calorias de forma tão drástica que seu volume de leite diminuiu”, ela conta.
Mesmo em casos de gravidez e parto saudáveis e sem complicações, o corpo sofre grandes alterações. Muitas das mudanças psicológicas significam que a retomada de exercícios vigorosos ou cortes de calorias precisam ser analisados com cautela. Outras transformações físicas podem chegar para ficar, tornando a volta ao normal um objetivo impossível.
Em primeiro lugar, naturalmente, existe o ganho de peso.
“Quando você está grávida, você tem um aumento de todos aqueles hormônios que nos dizem para manter o peso porque precisamos dele”, explica Jenna Perkins, enfermeira especializada em saúde da mulher e distúrbios do assoalho pélvico da região de Washington DC, nos Estados Unidos. “Nós precisamos de toda essa gordura armazenada em volta da nossa barriga para proteger nosso útero sensível e o bebê que está crescendo dentro dele.”
Enquanto isso, os músculos abdominais e o assoalho pélvico são estirados na espessura de uma folha de um papel. Carregar um feto e o estresse do parto vaginal colocam mais peso e pressão sobre o assoalho pélvico.
Até os ossos se movem: durante a gravidez, a pélvis se inclina e fica, em média, cerca de 2,5 cm mais larga.
Muitas mulheres também sofrem os procedimentos e lesões comuns que podem resultar da gravidez e do trabalho de parto. E não apenas o prolapso dos órgãos pélvicos e a diástase abdominal, mas a cura do corte da cesariana ou do rasgo do períneo, por exemplo.
Isso pode levar mais tempo do que é informado para as mulheres. Seis semanas após a cesariana, a maioria das cicatrizes do corte ainda não terá se curado totalmente e a fáscia abdominal, que mantém os órgãos e os músculos nos seus lugares, terá recuperado menos de 60% da sua resistência original.
Todas essas mudanças e seus possíveis resultados, segundo os especialistas, indicam que a ideia de que as mulheres podem retornar fisiologicamente ao mesmo corpo de antes da gravidez em questão de semanas após o parto é, no mínimo, imprecisa, podendo chegar a ser perigosa.
‘Está animada?’
Em Indiana, nos Estados Unidos, Shelby Alley afirma que começou a sofrer a pressão da cultura da volta ao normal antes mesmo de dar à luz, em 2022.
“Meu patrão, na época, antes mesmo que eu tivesse o bebê, perguntava: ‘você está muito animada para ter o seu corpo de volta?'”, ela conta. “E era um pensamento tão bizarro para mim porque eu estava literalmente gerando um ser humano. Meu corpo era mais meu do que nunca. Mas foi quando senti essa pressão pela primeira vez.”
Ela internalizou a mensagem e, como resultado, mudou a forma como tratava o seu corpo. “Depois que meu filho nasceu, eu senti que, ‘OK, não preciso continuar alimentando meu corpo porque não estou mais gerando outro ser humano. Posso começar a limitar minha dieta'”, segundo ela.
Mas, quando ela começou a reduzir as calorias, a primeira coisa que ela notou foi que seu leite diminuiu.
“Eu parei de superproduzir (eu conseguia bombear cerca de 240 ml) e mal gerava o suficiente para meu filho”, ela conta. “Ele estava mamando de hora em hora, não parecia satisfeito.”
E ela, que já dormia pouco com a vida com um recém-nascido, sentiu-se ainda mais exausta e seu bom humor desapareceu.
Alley não restringe mais sua alimentação, mas, às vezes, ainda se sente “culpada” por não ter perdido todo o peso da sua gravidez. “Foi difícil reconciliar o que o mundo quer que você seja com o que a natureza precisa que você seja”, afirma ela.
‘Perdi todo esse peso – então, você também pode’
Apesar de toda essa realidade, a mensagem que as mulheres recebem depois do parto é clara: recupere o seu corpo, o mais rápido possível.
A ênfase na perda de peso após o parto decorre de uma série de fatores. Mas fundamentalmente, a cultura da “volta ao normal” surgiu das ideias gerais da maternidade moderna, segundo a socióloga especializada em estudos da maternidade Sophie Brock, de Sydney, na Austrália. Ela também é apresentadora do podcast “The Good Enough Mother” (“A mãe suficientemente boa”, em tradução livre).
“As mães estão sujeitas a certas normas e expectativas sociais, diferentes das mulheres que ainda não são mães”, afirma ela. “A pressão cultural da ‘volta ao normal’ é um exemplo disso.”
“Espera-se que as mães consigam apagar todas as evidências físicas de terem, algum dia, tido filhos, ao mesmo tempo em que se dedicam totalmente a eles – tentando atender, ao mesmo tempo, às pressões e exigências do que significa ser simultaneamente uma mãe/esposa/profissional perfeita”, explica ela.
Mas Brock acrescenta que “isso não é possível – as pessoas nos pedem para atender a ideias conflitantes e nunca podemos ser ‘suficientes'”.
A cultura das celebridades também é um sintoma e uma causa ao mesmo tempo.
Algumas celebridades, como a modelo Emily Ratajkowski, parecem ter barrigas planas poucos dias depois do parto. Já outras estrelas conhecidas publicaram detalhes sobre a sua perda de peso, conseguida graças aos planos de dieta e exercícios.
E, quando as celebridades não retornam imediatamente aos seus corpos de antes do parto, a imprensa muitas vezes destaca essas mulheres como sendo diferentes ou excepcionais. Esse foco constante faz com que os corpos pós-parto permaneçam sendo tema de conversas – às vezes, tornando-se o centro da atenção do público, independentemente do contexto em que essas reportagens são apresentadas.
“Você vê Rihanna no momento sendo criticada ou elogiada por não perder o peso do bebê”, afirma a apresentadora britânica de TV e influenciadora digital Ashley James, que teve seu primeiro filho em janeiro de 2021. “Por que isso é tema de discussão?”
Alguns especialistas acreditam que, embora tenha se originado nas sociedades ocidentais predominantemente brancas, a cultura da volta ao normal tornou-se global. A fisioterapeuta e coach de fitness pós-parto Surabhi Veitch, de Toronto, no Canadá, afirma que vem observando cada vez mais a pressão para perder peso, que atinge clientes de todas as etnias e nacionalidades.
Veitch afirma que isso “decorre da cultura da supremacia branca, na qual os padrões brancos ou eurocêntricos de beleza são a norma. Vejo isso causando impactos sobre mulheres brancas, asiáticas, indianas e negras”.
Veitch nasceu na Índia e afirma que, quando ela era criança, era “melhor ser um pouco maior, mais curvilínea… mas, agora, depois que a Índia absorveu mais esses ideais ocidentais, existe lá essa pressão para sermos magras, com esses abdomens planos”.
Ela acrescenta que já observou este mesmo fenômeno em outras culturas asiáticas, como as mulheres coreanas, chinesas e japonesas com quem ela trabalha.
‘Soluções mágicas’
A publicidade também tem influência no aumento da pressão.
As redes sociais e o Google estão repletos de anúncios de cursos e planos de dieta destinados às mães. Existem até produtos que são apresentados como “soluções” para recuperar os corpos que as mães tinham antes do parto.
A ortopedista e fisioterapeuta do assoalho pélvico Margo Kwiatkowski, de Ventura, na Califórnia (Estados Unidos), destaca o uso popular das cintas modeladoras de compressão para o abdômen, que algumas mulheres usam após o parto.
“Elas não irão comprimir sua barriga”, explica ela. Mas sua aversão às cintas vai além desta questão.
“Muitas das cintas modeladoras vendidas online e comercializadas para uso pós-parto são exatamente como um espartilho”, explica ela, o que pode agravar o prolapso.
Por mais que uma mulher possa não desejar entrar na cultura do “voltar ao normal”, é difícil não ser afetada, segundo Sophie Brock. Ela compara a mensagem onipresente à nossa volta com a vida no “aquário” da maternidade.
“Não podemos ‘pular fora’, nem ficar imunes a essa influência”, afirma ela. “A cultura se manifesta nas nossas famílias, nos relacionamentos, carreiras, instituições, nos meios de comunicação a que somos expostos etc. Por isso, algumas serão capazes de construir/desenvolver/atingir mais ‘imunidade’ a essas mensagens do que outras.”
Uma pessoa que descobriu que essas mensagens são prejudiciais é Lucy Kingsford, de Cambridge, no Reino Unido. Quando seu filho nasceu, em janeiro de 2022, Kingsford passou por uma episiotomia – um procedimento em que o períneo é cortado na hora do parto para abrir caminho para o bebê.
Mas, no caso dela, seus pontos ficaram infectados. A dor era lancinante e ela não conseguia sentar-se sem uma almofada inflável.
“Eu não conseguia nem mesmo me deitar direito”, ela conta. “Se eu andasse por mais de cinco minutos, abriria os pontos. Eu tomei três rodadas diferentes de antibióticos e precisei parar de amamentar porque os remédios estavam deixando meu bebê doente.”
Kingsford levou quatro meses para começar a andar novamente, que dirá recuperar o corpo que tinha antes do parto.
Apesar de tudo por que passou, ela também sente a pressão cultural para voltar ao normal – uma realidade que a fez sentir-se derrotada, agora que ela usa roupas que são oito números maiores do que antes da gravidez.
“Esses dias logo após o parto, por si só, já são difíceis”, afirma ela. “E, então, você tem a imprensa produzindo reportagens e mais reportagens dizendo, ‘estas celebridades estão com ótima aparência poucas semanas depois do parto’.”
“Mas o pior são as pessoas ‘normais’, não celebridades, dizendo ‘perdi todo esse peso – você também pode’. Eu tive depressão pós-parto muito forte e não acho que ver esses conteúdos no Facebook tenha ajudado”, afirma ela.
No caso de Alley e outras, a cultura da volta ao normal, muitas vezes, chega até elas de familiares próximos, que insistiram em comentar sobre o peso de Alley ao longo de toda a gravidez.
“Ninguém deveria sentir que precisa voltar ao normal com tanta rapidez depois de ter um bebê. Eu sei que fui longe demais, rápido demais”, afirma ela. “Acho que, se tivesse uma comunidade que me apoiasse mais, ou uma comunidade de fato que me dissesse ‘olá, tudo vai ficar bem’, acho que teria sido uma mãe melhor, mais cedo.”
Outra mulher que se manifestou sobre as consequências da cultura da volta ao normal sobre a saúde mental e física das mulheres foi a influenciadora James. “Eu lembro que pensava ‘seis semanas são suficientes, vou pegar a liberação do médico da família e voltar a correr”, ela conta.
“Minha fisioterapeuta de saúde pélvica disse ‘você pode vir me ver antes de começar a correr de novo?’ E foi quando ela me diagnosticou com prolapso. Ela disse que, se eu tivesse começado a correr, teria sido muito perigoso, pois eu teria agravado o prolapso.”
James conta que, felizmente, ela já havia trabalhado sua relação com seu corpo antes da gravidez e depois do parto, em grande parte por ter sofrido um período ruim anteriormente, perto de 2014, quando teve ataques de pânico antes de eventos, preocupada porque ela parecia “enorme”.
“Quando fiquei grávida, fiquei animada, pensando ‘que venham as mudanças'”, ela conta. “Fiquei com estrias na barriga, onde a pele ficou estirada, mas, na verdade, eu gosto delas… gosto da ideia de que o seu corpo é quase que uma tapeçaria feita pela mãe natureza, com todas as pequenas cicatrizes de diferentes histórias da vida, como ter um filho.”
Mas sentimentos como os de James continuam sendo exceções e não a regra.
‘Meu marido levou a balança embora’
É claro que existe outra realidade: para muitas mulheres, não importa o quanto elas façam exercício ou sigam dietas. Seus corpos nunca voltarão a ser o que eram antes da gravidez. E Veitch explica que isso é normal.
“Falo frequentemente sobre o pós-parto como a puberdade”, explica ela. Nós não passamos pela puberdade esperando que os nossos corpos se pareçam como quando tínhamos nove ou 10 anos de idade. Nós sabemos que nossos corpos mudaram de forma permanente.”
“Na gravidez ou no pós-parto, não estamos mudando de forma tão drástica, mas existem imensas alterações”, afirma ela. “E a maior parte das mulheres não voltará a ter exatamente a mesma aparência que elas tiveram um dia.”
Mas, em uma cultura que valoriza a volta ao normal e faz com que ela pareça acessível e saudável para todas as mulheres, não ter o corpo em forma, capaz de tudo o que fazia antes da gravidez, pode parecer um fracasso.
Até as mulheres que priorizaram a volta ao normal e acham que, de forma geral, foi positivo apresentam sentimentos contraditórios.
Antes de ficar grávida, Hannah Lucy Galliers, de Gloucestershire, no Reino Unido, sempre manteve os exercícios como “grande prioridade”. Mas, entre os lockdowns da pandemia de covid-19, o fechamento das academias e a gravidez, “eu não reconhecia mais quem eu era – eu não reconhecia meu rosto no espelho”, ela conta.
E, depois de recuperar-se de uma cesariana, ela voltou imediatamente para a academia.
“Eu sempre usei o exercício para regular minha saúde mental e voltar ao normal era muito importante para mim”, afirma ela. Mas Galliers ressalta que também foi motivada por querer parecer magra. E encontrar um meio-termo feliz não tem sido fácil.
“Quando comecei a ficar preocupada porque meu peso não diminuía ou havia aumentado um pouco, meu marido levou a balança embora, porque ele não queria que eu me deixasse mais doente”, recorda ela. “Pode tornar-se algo muito obsessivo, pois vivemos em uma sociedade que determina os valores das mulheres pelo número na balança.”
James faz parte da resistência à cultura da volta ao normal nas redes sociais, com postagens celebrando as mudanças do seu corpo. Ela destaca que o foco no peso da pessoa pó-parto não é perigoso apenas para a saúde física e mental. É também uma reversão bizarra de como as mulheres costumam ser tratadas durante a gravidez.
“São nove meses criando um bebê, com todos falando como você está radiante e como você está bonita. E, depois, eles ficam um tanto espantados”, ela conta. “A sua aparência externa não deveria ter importância. Deveria ser, ‘uau, obrigado por trazer uma vida para este mundo’ ou ‘você está bem?'”
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