• Beth Timmins
  • Repórter de negócios, BBC News

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O autoproclamado Estado Islâmico se tornou um dos grupos jihadistas mais temidos do mundo

Pela primeira vez na história, uma empresa se declarou culpada na Justiça dos EUA por apoiar o grupo autodenominado Estado Islâmico e outro grupo terrorista.

Trata-se da fabricante de cimento francesa Lafarge, que concordou na terça-feira (18/10) em pagar uma multa de US$ 777,8 milhões (cerca de R$ 4,1 bilhões) por pagamentos feitos para manter uma fábrica em funcionamento na Síria depois que a guerra eclodiu em 2011.

Os promotores americanos disseram que até então nenhuma empresa havia admitido no país ser culpada por ajudar terroristas.

A Lafarge afirmou que “lamenta profundamente” o ocorrido e “aceita a responsabilidade pelos executivos envolvidos”.

A fabricante de cimento, que foi comprada pela suíça Holcim em 2015, disse que o comportamento deles havia sido uma “violação flagrante” do código de conduta da Lafarge.

Pagamento de ‘impostos’

A empresa abriu sua fábrica em Jalabiya, perto da fronteira com a Turquia, em 2010, após um investimento de US$ 680 milhões (cerca de R$ 3,5 bilhões).

Os promotores americanos informaram que a subsidiária síria da Lafarge pagou ao Estado Islâmico e a outro grupo terrorista, a Frente al-Nusra, o equivalente a US$ 5,92 milhões (aproximadamente R$ 31,2 milhões) para proteger os funcionários da fábrica à medida que a guerra civil do país se intensificava.

Os executivos compararam o acordo com o pagamento de “impostos”, segundo eles.

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As transações com os grupos armados ocorreram antes da fusão da Lafarge com a Holcim

A Lafarge acabou deixando a fábrica em setembro de 2014, quando o Estado Islâmico assumiu o controle da cidade e da fábrica.

Mas antes de partir, os acordos ajudaram a empresa a gerar US$ 70,3 milhões (cerca de R$ 371 milhões) em vendas, acrescentaram os promotores.

A Lafarge já havia admitido anteriormente que propinas foram pagas após uma investigação interna.

A vice-procuradora-geral dos EUA, Lisa Monaco, disse na terça-feira (18/10) que as ações da empresa “mostram que o crime corporativo atingiu um novo patamar e um lugar muito obscuro”.

“Negócios com terroristas não podem ser negócios normais”, acrescentou.

Em um comunicado, a nova proprietária da Lafarge, a Holcim, afirmou que nenhuma das condutas envolvia a Holcim, “que nunca operou na Síria”.

E acrescentou que os ex-executivos da Lafarge envolvidos no suborno haviam ocultado isso da Holcim, assim como de auditores externos.

Eric Olsen, que foi CEO de 2015 a 2017, renunciou ao cargo após uma investigação sobre as atividades da Lafarge na Síria.

Na época, Olsen disse que não havia se envolvido em nenhuma irregularidade e estava saindo para oferecer “serenidade” à empresa.

O Departamento de Justiça dos EUA afirmou que altos executivos da Lafarge estavam envolvidos nos acordos e sabiam que havia risco de entrar em conflito com as autoridades.

Os executivos tentaram exigir que o Estado Islâmico não incluísse o nome “Lafarge” nos documentos que registram os acordos — e muitos envolvidos no esquema também usaram endereços de e-mail pessoais, em vez de seus e-mails corporativos, para levar a cabo a conspiração, de acordo com o departamento.

Crédito, Reuters

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‘Não tem precedentes nem justificativa’, afirmou o promotor Breon Peace

As transações da Lafarge vieram finalmente à tona em 2016 em um site administrado por um grupo de oposição sírio.

Breon Peace, promotor do distrito leste de Nova York, onde o caso foi apresentado, disse que a conduta “por parte de uma corporação ocidental foi terrível e não tem precedentes nem justificativa”.

“Os réus pagaram milhões de dólares ao [Estado Islâmico], um grupo terrorista que de outro modo operaria com um orçamento apertado, milhões de dólares que [o Estado Islâmico] poderia usar para recrutar membros, travar guerra contra governos e realizar ataques terroristas brutais no mundo inteiro, inclusive contra cidadãos americanos”, disse ele na entrevista coletiva em que anunciou que a empresa se declarou culpada.

A Lafarge também enfrenta acusações de cumplicidade em crimes contra a humanidade na França por suas atividades na Síria, mas a empresa nega as acusações.