O Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ, na sigla em inglês) divulgou um documento judicial altamente sensível que pode ajudar a esclarecer os motivos que levaram às buscas na casa do ex-presidente Donald Trump em Mar-a-Lago, na Flórida.
De acordo com a ordem do juiz Bruce Reinhart, responsável pelo caso, para divulgação da declaração juramentada usada no pedido para realizar a operação, o governo americano tinha até o meio-dia desta sexta-feira (26/8) no horário local (13h de Brasília) para fazer isso.
O documento de 38 páginas foi divulgado com muitos trechos ocultados a pedido do DOJ, que disse temer que sua divulgação completa poderia comprometer a investigação. Das 38 páginas, 21 são em sua maioria ou totalmente ocultadas.
Na declaração, o DOJ descreveu seu trabalho como uma “investigação criminal relativa à remoção e armazenamento indevidos de informações classificadas em espaços não autorizados, bem como à ocultação ou remoção ilegal de registros governamentais”.
Entre as revelações mais interessantes nos trechos não ocultados, estão os documentos que Trump retirou da Casa Branca após deixar a Presidência e que foram entregues em caixas aos Arquivos Nacionais em maio.
A declaração afirma que, com base em uma revisão preliminar, as caixas continham “muitos registros confidenciais” ao lado de todos os tipos de “jornais, revistas, artigos de notícias impressas, fotos, impressos diversos, notas, correspondência presidencial, pessoal e registros presidenciais”.Das quinze caixas entregues na época, 14 delas continham informações confidenciais. De acordo com a declaração, havia 67 documentos marcados como confidenciais, 92 documentos marcados como secretos e 25 documentos marcados como ultrassecretos.
“A preocupação mais significativa foi que os documentos altamente confidenciais foram desdobrados, misturados com outros registros e, de outra forma, identificados de forma inadequada”, diz o documento.
De acordo com a declaração, os documentos confidenciais mantidos em Mar-a-Lago provavelmente continham alguns dos segredos mais bem guardados da comunidade de segurança nacional dos Estados Unidos.
Entre uma série de documentos entregues aos Arquivos Nacionais no início deste ano, agentes do FBI encontraram registros confidenciais que podem conter informações da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) e da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês).Alguns registros marcados como altamente confidencias podem se referir a informações sobre espiões em países estrangeiros cujas vidas estariam em risco se suas identidades fossem reveladas.Outros foram marcados com uma referência à coleta de inteligência que envolve suspeitos de espionagem ou terrorismo.Os agentes também encontraram registros que podem conter interceptações de sinais de comunicações estrangeiras e inteligência não destinadas a serem divulgadas a governos ou cidadãos estrangeiros, bem como registros que não devem ser compartilhados sem a aprovação de seu proprietário original.A declaração afirma ainda que vários dos documentos parecem conter notas manuscritas do ex-presidente.
Há “motivos para acreditar” que existem “documentos adicionais” com informações confidenciais ainda na casa de Trump na Flórida, afirma a declaração.
Além disso, a declaração afirma que os documentos também estariam armazenados em um local não seguro, o que pode ter sido uma preocupação especial para o governo, uma vez que já houve casos em que estrangeiros tiveram acesso a casa de Trump em Mar-a-Lago.
“Também há uma causa provável para acreditar que evidências de obstrução serão encontradas nas instalações”, acrescenta.
Foram ocultadas na declaração informações sobre agentes federais envolvidos no caso e testemunhas do governo que, caso suas identidades fossem expostas, segundo o Departamento de Justiça, poderiam ser submetidas a “retaliação, intimidação ou assédio e até ameaças à sua segurança física”.
Reações
Uma declaração deste tipo ser divulgada, mesmo com muitos trechos ocultados, é incomum.
Donald Trump reagiu à divulgação em sua plataforma de mídia social, Truth Social.
“Declaração com muitos trechos ocultados! Nada mencionando ‘nuclear’, um subterfúgio total de relações públicas do FBI e DOJ”, reagiu Trump.Ele acrescentou que o juiz Bruce Reinhart – que deu o aval para o mandado de busca em Mar-a-Lago – “nunca deveria ter permitido o arrombamento da minha casa”.”Ele se retirou há dois meses de um dos meus casos com base em sua animosidade e ódio a seu presidente favorito, eu.”
Reinhart se retirou de uma batalha judicial entre Hillary Clinton e Trump em junho. Os juízes tendem a se abster de casos sempre que há conflito de interesses, mas não precisam revelar qual é esse conflito.Mas os advogados de Trump pediram que ele explicasse por que ele concedeu um mandado de busca em Mar-a-Lago, mas se disse incapaz de exercer seus poderes judiciais no caso de Trump com Clinton.
Trump acrescentou: “O que mudou? Por que ele não se retirou deste caso? Obama deve estar muito orgulhoso dele agora!”Reinhart doou US$ 1 mil para a campanha presidencial do ex-presidente Barack Obama em 2008, e também doou para candidatos republicanos.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, se recusou a comentar sobre o assunto quando questionada por jornalistas nesta sexta-feira.”Achamos que não é apropriado”, disse Jean-Pierre. Ela afirmou que o presidente Joe Biden acredita que ser importante que o DOJ conduza uma “investigação independente”.
O próprio Biden foi confrontado por repórteres, que lhe pediram que opinasse, enquanto estava do lado de fora da Casa Branca.”Não vou comentar. Não conheço os detalhes. Eu nem quero saber”, disse Biden. “Deixem o Departamento de Justiça cuidar disso.”
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Você precisa fazer login para comentar.