- Hayley Jarvis
- Da BBC Scotland
Ao voltar para casa depois de uma tarde brincando com os amigos, o britânico Reece, então com 11 anos, levou um susto: encontrou dois homens que traziam uma notícia que mudaria para sempre a sua vida.
“Lembro que, quando eu entrei, aqueles dois caras altos estavam lá, vestidos com ternos muito elegantes”, diz ele à BBC.
“Todas as minhas coisas estavam em malas, e lembro de eles me dizerem que nós íamos sair para uma pequena viagem.”
A mãe de Reece havia presenciado um homicídio no trânsito e virou testemunha na investigação. Aqueles homens na casa do menino, no sul de Glasgow (Escócia), estavam lá para colocar mãe e filhos no programa de proteção a testemunhas.
“Foi um pouco divertido no começo”, conta Reece.
“Achei ótimo. Estava indo para um monte de hotéis, nós recebíamos comida, parecia divertido e aventureiro. Daí, com o passar do tempo, comecei a perceber que aquilo nunca acabava.”
O Serviço de Pessoas Protegidas do Reino Unido, comandado pela agência nacional anticrimes (NCA), dá proteção a testemunhas consideradas sob risco sério. Isso geralmente envolve mudá-las de casa para algum local mais seguro.
Segundo o site da NCA, milhares de casos foram tratados pelo Serviço de Pessoas Protegidas nas últimas décadas.
Reece, hoje com 25 anos, diz que ninguém explicou para ele o que estava acontecendo. E que mudar de um lado para o outro deixou sua vida “de cabeça para baixo”.
Ele sentia falta dos amigos e teve dificuldade para se adaptar a novas escolas. Enquanto isso, a saúde mental de sua mãe piorava gravemente. Ela foi diagnosticada com esquizofrenia.
“Antes (de testemunhar) o homicídio, ela tinha muitos problemas, mas era muito forte, nada a derrubava”, diz.
“Depois, não sei o que aconteceu. Comecei a perceber que ela já não era mais a mesma. A saúde mental dela ficou péssima e a cada ano parecia piorar, até que ela acabou morrendo.”
A mãe de Reece tinha 45 anos.
O jovem conta que ele e a mãe ficaram mais de quatro anos no programa de proteção a testemunhas, mas o trauma teve um impacto duradouro em sua vida, desde problemas na escola e com a polícia.
“Quando tinha entre 18 e 20 anos, comecei a me meter em confusão”, conta.
“Já tinha tido problemas antes na juventude, mas nunca tinha parado no tribunal. Bebia muito, umas cinco noites por semana. Ia para festas, usava muitas drogas — achava que estava me divertindo. Tinha 18 anos, saí do armário e estava solteiro.”
No começo, diz ele, “parecia uma fuga — e acho que de certa forma era, mas era uma fuga não muito saudável”.
Aos 20 anos, Reece foi obrigado pela Justiça a buscar acompanhamento médico. Ele acabou sendo diagnosticado com transtorno de personalidade borderline.
“Muita gente pode não gostar de receber um diagnóstico, mas para mim, pessoalmente, sinto que isso me deu a resposta de que eu precisava para começar a melhorar”, conta.
Aos 25 anos, Reece está compartilhando sua história em um podcast (em inglês) que ele ajudou a coproduzir com outros jovens.
No primeiro episódio, Reece conta como conseguiu mudar de vida. Um ponto crucial, diz ele, foi a terapia cognitivo comportamental. No começo, achou que o tratamento não ia funcionar. Mas, com o passar das sessões, foi se sentindo mais positivo, feliz e empático, assinala.
“Foi a melhor coisa que me aconteceu”, conta.
Hoje, Reece estuda para se formar em assistência social, faz trabalhos voluntários e dá palestras sobre saúde mental. Seu sonho é produzir documentários.
Ele também espera que a sua experiência ajude outros jovens a superar traumas.
“Cinco ou seis anos atrás, estava diante de um tribunal, chorando para o juiz, pensando que a minha vida tinha acabado, que nunca teria uma vida, que estava acabado”, diz.
“Passados seis anos, trabalhei muito e tenho orgulho disso. Quero que as pessoas vejam que são capazes de superar seus traumas.”
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Você precisa fazer login para comentar.