A nova pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada na quinta-feira (28/7), mostra que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua liderando com folga a corrida presidencial e poderia levar a disputa no primeiro turno, se a eleição fosse agora.
Ele aparece com 47% das intenções de voto, 18 pontos percentuais a frente do presidente Jair Bolsonaro (PL), que marcou 29%, aparecendo em segundo lugar. Ciro Gomes (PDT) permanece em terceiro, com 8%. Todos os demais concorrentes não superaram 2%.
A mais de dois meses da eleição, as intenções de voto ainda podem mudar, mas diferentes pesquisas vem mostrando estabilidade na polarização entre o petista e o atual presidente, sempre com vantagem relevante para Lula.
Apesar da estabilidade no placar geral, a pesquisa revela mudanças no apoio aos dois principais candidatos dentro de grupos específicos. Bolsonaro, por exemplo, ampliou sua vantagem sobre Lula no segmento evangélico e reduziu a diferença para o petista entre as mulheres e no Nordeste.
Lula, por sua vez, aumentou sua liderança entre homens e diminuiu sua desvantagem nos segmentos mais ricos.
O Datafolha entrevistou 2.556 eleitores em 183 cidades, nos dias 27 e 28 de julho. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais.
Para um candidato ser eleito presidente no primeiro turno, precisa receber a maioria dos votos válidos, ou seja, ter mais de 50% dos votos quando descontados os brancos e nulos.
Segundo a pesquisa Datafolha, Lula teria 51% dos votos válidos se a eleição fosse hoje. Como a margem de erro é de dois pontos percentuais, sua intenção de votos válidos está entre 49% e 53%. Esse cenário não permite cravar que ele levaria no primeiro turno, mas indica que está, no mínimo, muito próximo dessa possibilidade.
Na hipótese de um segundo turno, o levantamento também sinaliza para provável eleição de Lula, que aparece com 55% das intenções de votos contra 35% de Bolsonaro.
Bolsonaro sobe entre mulheres, mas Lula mantém liderança
O presidente, que tem enfrentado grande rejeição no segmento feminino, apresentou uma alta relevante entre as mulheres: sua intenção de voto nesse grupo subiu de 21% em junho para 27% no novo levantamento, um variação acima da margem de erro, que é de três pontos percentuais nesse caso.
Lula, por sua vez, oscilou negativamente, no limite da margem de erro, passando de 49% para 46% agora.
Preocupado com a desvantagem nesse grupo, Bolsonaro tem dado mais destaque ao público feminino em seus discursos. Há duas semanas, ao discursar durante a promulgação do aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, enfatizou que dois terços dos beneficiários são mulheres.
“É o nosso olhar todo especial para as mulheres do nosso Brasil. Pessoas, logicamente, importantíssimas. Nenhum homem pode sonhar e crescer na vida se não tiver do lado uma magnífica e grandiosa mulher”, disse, na ocasião.
Por outro lado, o Datafolha de julho mostra que Lula ampliou sua vantagem entre os homens. Sua intenção de voto subiu quatro pontos percentuais, chegando a 48% nesse grupo. Já o do presidente recuou também quatro pontos, para 32%.
Lula mantém ampla vantagem entre os mais pobres
Após uma série de medidas para tentar aliviar a crise econômica, como redução de impostos e aprovação do aumento de benefícios sociais, Bolsonaro teve uma pequena melhora na intenção de votos do segmento mais pobre.
As intenções de voto do presidente entre os que ganham até dois salários mínimos passaram de 20% para 23%, variação dentro da margem de erro de 2,7 pontos percentuais, segundo o Datafolha. Já o petista oscilou negativamente, de 56% para 54%, também dentro da margem de erro.
Com isso, a diferença dos dois nessa faixa de renda caiu de 36 para 31 pontos percentuais, entre junho e julho. Como a faixa de até dois salários mínimos representa 52% dos eleitores, a grande vantagem do petista nesse grupo é fundamental para sua larga liderança no placar geral.
No entanto, o aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e outros benefícios como o novo vale-gás só começam a ser pagos em agosto. A campanha de Bolsonaro espera que sua intenção voto suba mais entre os pobres depois disso. Já analistas políticos consideram que as medidas podem ter impacto limitado, por terem sido adotadas a pouco tempo da eleição.
O novo Datafolha também mostrou uma redução da diferença entre Lula e Bolsonaro entre as faixas de maior renda. Mas, nesse caso, é o petista que reduziu um pouco a vantagem do atual presidente.
Com oscilações dentro da margem de erro, a diferença entre eles passou de 15 para 10 pontos percentuais no grupo com renda de cinco a dez salários mínimos e de 12 para 8 pontos no grupo acima de dez salários.
Em ambos os segmentos, Bolsonaro continua liderando com 44% e 41% das intenções de votos, respectivamente.
Bolsonaro também se recupera no Nordeste
Bolsonaro também subiu no Nordeste, acima da margem de erro, passando de 19% para 24% em julho. Lula, por sua vez, oscilou de 58% para 59%. Com isso, a diferença entre os dois continua larga, mas recuou de 39 para 35 pontos percentuais.
Não houve variações importantes nas demais regiões, e Lula continua liderando em todas elas.
No Sudeste, maior colégio eleitoral, o petista tem 43% contra 28% do atual presidente, enquanto no Sul, a diferença é menor, com Lula tendo 41% e Bolsonaro, 34%.
Já no consolidado das regiões Norte/Centro-Oeste, o ex-presidente aparece numericamente na frente (42%), mas está tecnicamente empatado com Bolsonaro (37%), pois a margem de erro nesse caso é de 5 pontos percentuais.
Bolsonaro ganha margem entre os evangélicos
Após ser eleitor em 2018 com ampla vantagem entre os evangélicos, Bolsonaro continua aparecendo na frente nesse segmento, mas pesquisas têm indicado uma vantagem mais apertada sobre Lula.
O novo levantamento Datafolha mostra uma recuperação do presidente nesse eleitorado, embora dentro da margem de erro, que é de 3,9 pontos percentuais no caso do voto evangélico.
Isso acontece porque os evangélicos são apenas uma parte da amostra total da pesquisa e, quanto menor o grupo analisado no levantamento, maior é a margem de erro.
Na comparação com o levantamento de junho, a intenção de voto de Bolsonaro nesse grupo passou de 40% para 43%, enquanto a de Lula caiu de 35% para 33%, ampliando a diferença de cinco para dez pontos percentuais.
O presidente tem intensificado a participação em eventos evangélicos. Esteve na Marcha para Jesus em São Paulo, no início de julho, e confirmou presença no mesmo evento no Recife, previsto para 6 de agosto.
Por outro lado, a crise econômica tem atraído parte desse segmento para a candidatura petista, avaliou em entrevista recente à BBC News Brasil, a cientista política Daniela Campello, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O novo Datafolha indicou ainda estabilidade na vantagem de Lula no segmento católico. O petista aparece com 52% das intenções de voto, mais que o dobro de Bolsonaro (25%).
Metade do eleitorado se declara católico e 27%, evangélico, segundo o próprio Datafolha. A pesquisa não permite medir a intenção de votos de outras religiões — que não foram consideradas porque as bases de dados para elas na pesquisa são muito pequenas.
Rejeição alta e voto consolidado dificultam recuperação de Bolsonaro
Pesquisas eleitorais são apenas retratos do momento. A depender dos próximos acontecimentos políticos, o resultado das urnas pode ser bem diferentes das intenções de voto medidas agora.
Por outro lado, dois indicadores mostram que o presidente tem um caminho difícil pela frente para tentar recuperar o apoio do eleitorado.
Um deles é sua alta rejeição. No novo Datafolha, 53% dos entrevistados disseram não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum, contra 55% em junho. Ou seja, a oscilação veio dentro da margem de erro.
Lula é o segundo mais rejeitado, atrás de Bolsonaro, mas tem um desempenho bem melhor que o presidente: 36% disseram que não votam no petista, ante 35% na pesquisa de junho.
Outro problema para a recuperação do presidente, é que 71% dos eleitores dizem já ter decidido seu voto totalmente, enquanto 28% afirmram que podem mudar.
No caso dos que manifestam intenção de votar em Lula, 79% se dizem totalmente decididos e 20% podem mudar. Para Bolsonaro, os índices são de 79% e 21%.
Já entre os que vão votar em Ciro, 34% afirmam estar totalmente decididos e 65% podem mudar.
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