Após enfrentar uma enorme pressão por parte de seus ministros e outros funcionários do governo, Boris Johnson anunciou na quinta-feira (7/7) que renunciou ao posto de líder do Partido Conservador e deixará o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido assim que um substituto for escolhido.
Johnson desocupará a posição de premiê menos de três anos depois de conduzir seu partido por uma vitória eleitoral que provocou grande repercussão em 2019.
Ele deve continuar no cargo por mais três meses, até que os conservadores apontem seu substituto por meio de eleições internas.
Mas como é possível que, mesmo com a decisão tomada hoje, Johnson possa permanecer como premiê por mais algum tempo?
No Reino Unido, é esperado que o primeiro-ministro que está de saída fique no cargo até que um sucessor seja eleito. Para isso, é seguido um processo já estabelecido.
Entenda a seguir como funciona esse sistema, quais são as expectativas para o processo e o que pode acontecer nos próximos meses.
Como os conservadores escolhem um novo líder?
Uma vez que o líder dos conservadores renuncia, inicia-se um processo para eleger um novo dirigente do partido.
Sob as regras atuais, os candidatos precisam do apoio de pelo menos oito deputados conservadores para concorrer.
Se houver mais de dois candidatos, os parlamentares conservadores realizam uma série de votações até que restem apenas dois.
No primeiro turno, os candidatos devem obter 5% dos votos para continuar na disputa (atualmente isso significa receber os votos de 18 parlamentares)
No segundo turno, o apoio tem que ser de 10% (36 parlamentares)
Nas rodadas subsequentes, o candidato com o menor número de votos é eliminado.
Quando restarem apenas dois, todos os membros do Partido Conservador – pouco mais de 100 mil integrantes – votarão em uma eleição para determinar o vencedor.
Acredita-se que esse processo deva acontecer a partir de setembro.
Como é nomeado o próximo primeiro-ministro?
Quem vencer a corrida se tornará o novo líder do Partido Conservador – que atualmente detém o maior número de cadeiras no Parlamento – e, portanto, o novo primeiro-ministro.
Ainda não há um sucessor óbvio para Johnson, mas existem vários candidatos em potencial.
Quando essa pessoa for eleita, Boris Johnson oferecerá sua renúncia à rainha Elizabeth 2ª e ela, por sua vez, convocará o novo líder do partido para formar um governo.
Haverá eleições gerais?
Não necessariamente.
A renúncia de um primeiro-ministro não implica eleições gerais automáticas.
O partido e seu líder poderão continuar no poder pelo período para o qual foram originalmente eleitos.
Isso aconteceu, por exemplo, quando David Cameron e Theresa May, ambos conservadores e antecessores de Boris Johnson, renunciaram.
No caso atual, com a vitória de Johnson em 2019, o Partido Conservador pode ficar em Downing Street, sede do governo britânico, até janeiro de 2025.
Mas o novo primeiro-ministro pode convocar eleições antes disso, conforme sua conveniência. Foi o que May fez em seu mandato, assim como o próprio após suscedê-la.
Quanto tempo mais Boris Johnson permanecerá no poder?
Johnson continuará como primeiro-ministro até pelo menos setembro, de acordo com o correspondente da BBC, Chris Mason.
Se ele quisesse renunciar imediatamente, a rainha poderia teoricamente nomear um premiê interino, provavelmente um membro do seu gabinete, para assumir as rédeas até que um novo membro do partido fosse nomeado.
No entanto, essa seria uma situação incomum.
Que poderes ainda restam a Boris Johnson?
Em teoria, até que ele renuncie formalmente como primeiro-ministro, Johnson exercerá os mesmos poderes.
Mas, na realidade, ele não tem apoio para introduzir novas políticas radicais.
Ele continuará representando o Reino Unido no exterior e poderá continuar a nomear cargos públicos ou fazer alterações em sua equipe ministerial.
Um de seus últimos atos no cargo provavelmente será conceder títulos honoríficos e nomear membros para a Câmara dos Lordes, em sua lista de honras de renúncia.
É sustentável para Johnson permanecer no poder por mais três meses?
Os defensores de Johnson dizem que o período em que o premiê permanecerá no poder a partir de agora permitirá continuidade e estabilidade em um momento em que o país precisa disso.
Seus críticos, no entanto, dizem que seu governo já não é sustentável.
O líder do Partido Trabalhista, de oposição, Kier Starmer, acredita que a saída do premiê deve ser imediata e que um primeiro-ministro interino deve ser nomeado.
A primeira-ministra da Escócia, Nicola Strugeon, concorda que há muitos cargos vagos no governo devido às demissões recentes.
Muitos conservadores pensam da mesma forma e, na quinta-feira, o Comitê de 1922, o poderoso grupo conservador que toma decisões importantes do partido, se reunirá para discutir as opções.
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