O premiê britânico, Boris Johnson, conseguiu permanecer no cargo após obter os votos necessários na moção de desconfiança criada por seus colegas do Partido Conservador no Parlamento.
Políticos e analistas da BBC, no entanto, avaliam que Johnson continua em uma situação de fragilidade política em um futuro próximo.
Johnson recebeu 211 votos a seu favor, mas 148 parlamentares conservadores se posicionaram pela sua saída da liderança do partido e queda do posto de primeiro-ministro.
O editor de Política da BBC News, Chris Mason, afirma que o número de votos contra Johnson foi significativamente maior do que o contabilizado na moção de desconfiança levantada contra a também conservadora Theresa May. Apesar de ter sobrevivido ao processo, a então premiê May caiu seis meses depois.
“Um vitória em termos matemáticos está bem longe de restaurar a autoridade. Isso prossegue como um desafio colossal”, afirma Mason.
Há meses, Johnson está no centro de um escândalo apelidado de “partygate” envolvendo festas e comemorações durante o período mais estrito de lockdown na Inglaterra.
Um deles foi uma festa de aniversário organizada para o primeiro-ministro no chamado Cabinet Room (sala de reuniões ministeriais) em 19 de junho de 2020.
A funcionária pública responsável por investigar acusações de violações de regras sanitárias por funcionários do governo, Sue Gray, falou em “fracasso de liderança e de julgamento” e diz que, “sob o contexto da pandemia, quando o governo pedia que cidadãos aceitassem restrições amplas em suas vidas, alguns dos comportamentos ao redor desses encontros são difíceis de serem justificados”.
“O resultado superou as expectativas dos ‘rebeldes’ [o grupo de conservadores que tenta tirar Johnson da liderança do partido], que nunca tiveram esperança de ganhar a votação. Eles enxergam como a derrota de uma batalha, mas que a guerra para substituí-lo continua”, diz Mason.
Segundo o correspondente político Iain Watson, “não poderá haver outro desafio formal a Johnson no período de um ano, mas seus críticos foram encorajados, e não silenciados”.
Porém, Graham Brady, que supervisiona o processo de moção de desconfiança, afirma que “tecnicamente é possível” mudar as regras para antecipar uma nova votação para tentar mais uma vez tirar Johnson.
Antes de sair o resultado oficial, o político conservador Ben Bradley disse que seria “surpreendente e decepcionante” se mais de 100 parlamentares conservadores votassem contra Johnson.
No final, quase 150 foram contra a permanência do primeiro-ministro da liderança conservadora.
O correspondente político Watson previa que esse número poderia indicar o abandono dos próprios ministros de Johnson – muitos deles participam do processo, que é secreto – e uma perspectiva de tempos difíceis no número 10 de Downing Street – a residência oficial do premiê britânico.
Outro político conservador, Roger Gale, membro do Parlamento há quase 40 anos, votou pela saída de Johnson e disse que o resultado, mesmo vitorioso, é muito ruim para o premiê e que ficaria surpreso se Johnson ainda estivesse no posto no fim de setembro próximo.
Na oposição, David Lammy, do Partido Trabalhista, diz que Johnson está “ferido de morte”. O líder trabalhista Keir Starmer afirmou que a população está “irritada com um premiê que promete muito, mas nunca entrega”.
Pesquisa divulgada um mês atrás pelo instituto YouGov apontou que 68% dos entrevistados faziam uma avaliação ruim do desempenho de Boris Johnson em contraste com os 26% que tinham uma visão positiva.
A trajetória nas pesquisas de avaliação já está no território negativo há algum tempo.
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