- Rebecca Roache
- Especial para a BBC Future
Durante os lockdowns impostos em decorrência da pandemia de covid-19, observei como meus filhos responderam ao fato de que não podiam mais ver seus amigos pessoalmente. Não havia mais conversas cara a cara. Nem dia de brincar junto. Ou visitas aos amigos.
Se o confinamento tivesse acontecido umas duas décadas antes, qualquer contato com pessoas que não moram com a gente teria sido feito por meio do telefone, email ou cartas.
Nos anos 2020, porém, as coisas são diferentes. Minha filha e os amigos jogavam um game no celular, enquanto discutiam a estratégia num grupo de WhatsApp. Meu filho, que ainda não tem idade para ter celular, batia papo com os colegas da escola por meio do Google Classroom.
Os dois ficaram claramente acanhados durante o lockdown, mas o nervosismo em relação a conversar com amigos que eles não viam fazia um tempo foi curado pelo uso de plataformas de chamadas de vídeo com jogos embutidos: após poucos minutos de uma competição de risos, sem dar uma palavra, em que se transformavam em unicórnios e pegavam donuts com seus chifres virtuais, eles haviam relaxado, para debater assuntos sérios como Pokémon e Mario Kart.
Nenhuma destas tecnologias existia uma geração atrás. Quando eu tinha a mesma idade que eles, as interações em tempo real sem presença física com amigos acontecia pelo telefone, no corredor de casa, onde todo mundo podia ouvir o que eu estava falando. E eu não podia falar por mais de 10 minutos sem que meu pai ou minha mãe começassem a resmungar sobre a conta de telefone e a ideia de “cortar a linha”.
Não havia unicórnios pegando donuts, embora eu tivesse a liberdade de desafiar minha inteligência tentando desenroscar o fio em espiral do telefone. As chamadas telefônicas como os amigos eram um prazer eventual, não um acontecimento diário. O lockdown na minha infância teria sido uma experiência social bem diferente.
Mas é diferente até que ponto? As diferenças na forma com que nós interagimos com nossos amigos hoje, em comparação com uma geração atrás, são meramente superficiais — comparáveis à diferença entre escrever uma carta a um amigo num papel sem linhas e escrever num papel com linhas?
Ou será que existe algo a respeito das amizades contemporâneas que é fundamentalmente diferente das amizades verdadeiras de anos atrás? Se for este o caso, como as amizades devem continuar a mudar no futuro?
É comum nos dias de hoje reclamar que as amizades não são mais como eram antes. Que restaurantes estão repletos de pessoas olhando para seus celulares, em vez de conversando umas com as outras. Que a cultura do “selfie” nos transformou em narcisistas que se importam mais em gerenciar nossas próprias relações públicas do que em estar presente, um com o outro. Que as amizades de hoje em dia são de alguma forma mais condicionais do que eram no passado, à medida que vivemos em “câmaras de eco” online, numa bolha de indivíduos que pensam como nós, e rejeitamos pontos de vista diferentes.
Até mesmo a palavra “amigo” foi transformada pelas redes sociais: existe um novo sentido, em que ser amigo de alguém significa apenas ter clicado em “aceitar” a solicitação de amizade da pessoa, sem nunca dizer “olá”.
Existe uma ansiedade generalizada em relação à possibilidade de que a amizade verdadeira esteja em declínio — e a culpada é da tecnologia. Manchetes como “A Era das Mídias Antissociais” e “Seu celular inteligente está te deixando estúpido e antissocial e afetando sua saúde” são familiares.
Pessimistas podem pensar em onde isso tudo vai parar. Talvez nós acabemos em um mundo cínico em que interagimos apenas com pessoas que servem para nós, onde não reconhecemos nossos amigos sem seus filtros do Snapchat e onde não criamos conexões genuínas com ninguém. Mas será que estas preocupações são realmente justificadas?
A ansiedade em relação aos efeitos distópicos das novas tecnologias nas amizades é tão antiga quanto a palavra escrita. Mais antiga, na verdade: para Sócrates, a palavra escrita em si era parte do problema. Mais de 2 mil anos atrás, Sócrates supostamente expressou ceticismo em relação à comunicação por escrito como um caminho para a sabedoria, preferindo a interação cara a cara com seus colegas.
No começo do século 20, havia preocupações com a possibilidade de que as linhas telefônicas fossem diluir a interação entre pessoas ou alimentar comportamentos sociais nocivos.
A partir da nossa perspectiva contemporânea, em que cartas e telefones são tão inofensivos quanto se pode esperar de uma tecnologia, estas preocupações nos parecem bizarras. É claro que não abalam as amizades. Pelo contrário, as promovem. A troca de cartas e telefonemas entre amigos distantes é exatamente o tipo de relação saudável que aqueles preocupados com as redes sociais temem que acabe morrendo.
Afinal, as redes sociais ameaçam as amizades ou a promovem? Em um artigo de 2012, Shannon Vallor considera se os tipos de amizade que as pessoas têm no Facebook podem ser verdadeiras — e conclui que sim, elas podem.
O argumento dela não se baseia em ideias modernas sobre amizade. Em vez disso, ela usa o conceito de Aristóteles, de mais de 2 mil anos de existência. Para Aristóteles, a amizade exige algumas virtudes, incluindo reciprocidade, empatia, autoconhecimento (no sentido de entender nosso lugar no mundo, incluindo nosso lugar em nossas relações com outras pessoas) e participação numa vida compartilhada.
Poderia então o ceticismo em relação ao impacto das redes sociais nas amizades ser tendencioso? Afinal, é expressado frequentemente por pessoas cujas primeiras amizades não foram formadas em torno das redes sociais, o que pode deixá-las mais inclinadas a ignorar seu lado positivo.
Pessoas como nós
Mesmo que a interação por meio de uma tela não esteja destruindo nossas amizades, muitas pessoas temem que a forma com que usamos a tecnologia digital, para escolher e cultivar nossos amigos, encoraje conexões sociais de baixa qualidade.
Um destes receios está relacionado às chamadas câmaras de eco: aqueles grupos de indivíduos que pensam da mesma forma que nós, fazendo com que o cruzamento de ideias seja reduzido, e as pessoas fiquem mais polarizadas e agarradas a seus próprios pontos de vista.
Alguns estudiosos argumentam que as câmaras de eco online têm graves implicações para a democracia liberal. A partir do ponto de vista das amizades, no entanto, elas não são novidade. Muito antes da internet, as interações sociais das pessoas eram amplamente confinadas a outras pessoas que pensavam como elas. Comunidades surgiam em torno de ambientes como cultos religiosos, equipes esportivas, local de trabalho e instituições de ensino, além de classe social, gênero e etnicidade.
Então simplesmente não é verdade que, antes da amizade mediada pelo ambiente digital, as pessoas conheciam amigos de toda parte. Talvez nós todos estejamos perdendo alguma coisa com isso. Mas, mesmo se estivermos, o fato de a internet permitir nos conectarmos com pessoas semelhantes oferece grandes benefícios para as amizades. Permite que nós tenhamos acesso a redes de apoio e solidariedade que de outra forma poderiam não estar disponíveis, seja porque seria difícil encontrar pessoas com o mesmo tipo de experiências no mundo real ou porque as experiências compartilhadas em questão são tão íntimas que nós relutamos em discuti-las — uma relutância que é aliviada pela interação online.
Eu mesma dependo bastante deste tipo de comunidade: por muitos anos, fiz parte de um grupo privado do Facebook de mães solteiras trabalhando na universidade. As amizades que eu fiz — que estão espalhadas pelo mundo —, juntamente ao apoio que dei e recebi, foram extremamente positivas para a minha vida.
Parece plausível que a ideia de que as câmaras de eco são prejudiciais às amizades seja baseada, em parte, num ponto de vista de que amizade é — ou deveria ser — algo mais profundo do que interesses e experiências compartilhados.
Há muito tempo que nos emocionamos com histórias de amizades e romances entre pessoas de grupos diversos, muitas vezes conflitantes. Romeu e Julieta, talvez o casal romântico mais emblemático, pertencia a famílias inimigas.
A amizade entre Nelson Mandela, enquanto estava preso por conspirar para derrubar o governo sul-africano do apartheid, e um jovem agente penitenciário, inicialmente pró-apartheid, chamou a atenção do público e foi tema de um filme, Mandela – Luta pela liberdade.
Em 2014, a jornalista árabe-americana Sulome Anderson publicou no Twitter uma foto sua beijando o namorado judeu, enquanto segurava um cartaz com a mensagem “Judeus e árabes SE RECUSAM a ser INIMIGOS”. A foto viralizou.
Estes exemplos mostram que somos cativados pela ideia de olhar para além das visões e interesses (talvez intragáveis) dos nossos amigos — e amar a pessoa por trás deles.
Sem dúvida, é verdade que as melhores amizades não dependem de interesses comuns. Se você inicialmente se conectou com sua amiga mais antiga devido à paixão em comum por “boy bands” americanas dos anos 1990, mas se distanciaram quando uma de vocês perdeu interesse no grupo Boyz II Men, seria difícil não chegar à conclusão de que esta amizade não era muito profunda.
Isso não significa, porém, que haja algo de errado em ir atrás de conexões baseadas em interesses comuns. Uma amizade profunda, carinhosa e acolhedora de muitos anos não se torna menos profunda, carinhosa e acolhedora porque os amigos em questão inicialmente se conectaram por meio de sua obsessão por “boy bands”.
Amizades por todos os lados…
O que dizer da ideia de que vivemos agora em um mundo em que as amizades foram rebaixadas? Em que as redes sociais nos incentivam a valorizar quantidade, em vez de qualidade, e proteger imagens de perfeição em detrimento da formação de conexões profundas e íntimas?
A preocupação de que a quantidade de amizades aconteça às custas da qualidade não é nova — como outras preocupações que já discutimos até agora.
Em uma obra intitulada On Having Many Friends (“Sobre ter muitos amigos”, em tradução literal), o filósofo grego Plutarco, que viveu no século 1, escreveu:
“Qual é então a moeda da amizade? É boa-vontade e graça, combinadas com virtude, e não há nada de mais raro na natureza. Significa, então, que uma forte amizade mútua com muitas pessoas é impossível, mas, assim como rios, cujas águas são divididas entre afluentes e canais, correm fracos e finos, também a afeição, naturalmente forte em uma alma, se partilhada entre muitas pessoas torna-se totalmente enfraquecida.”
Dois mil anos depois, o grupo sueco Abba cantou: “Diante de 20 mil dos seus amigos / Como alguém pode estar tão solitário?”, em seu single Super Trouper, de 1980.
Em 2009, Eoghan Quigg — um ex-participante do programa de talentos britânico The X Factor — lançou um single, 28,000 Friends, com os versos como: “Você e seus 28 mil amigos / YouTube, Facebook, Myspace, IM” e “Como é se sentir solitário? / Tantos amigos que você não conhece”.
De acordo com nossas linhas do tempo digitais, a referência de Quigg ao Myspace é sinal de coisa antiga, mas nós podemos imaginar se a tecnologia que surgiu nas últimas duas décadas nos incentiva a espalhar nossas amizades de forma mais tênue do que nunca.
Será que Quigg tem mais motivos para reclamar disso do que Plutarco tinha? A resposta é que, enquanto evidências empíricas respaldam a alegação de que somos incapazes de ter muitas amizades próximas, está longe de ser claro que a capacidade das redes sociais de multiplicar nossas conexões sociais esteja reduzindo a qualidade das nossas amizades.
O antropólogo Robin Dunbar estudou grupos sociais de vários séculos e descobriu que o número de conexões sociais estáveis que os indivíduos conseguem manter tem permanecido relativamente constante, em torno de 150.
Este número — que acabou ficando conhecido como o Número de Dunbar — denota, mais ou menos, “o número de pessoas às quais você não ficaria constrangido de se juntar, sem ser convidado, para um drinque caso esbarrasse com elas em um bar”.
Há subdivisões dentro disso. Cada um de nós tende a ter entre três e cinco pessoas que constituem “o pequeno núcleo de grandes amigos que procuramos em momentos de dificuldades” e um “grupo de simpatia”, de entre 12 e 15 pessoas, “cuja morte amanhã o deixaria abalado”.
Dunbar argumenta, no entanto, que nós simplesmente não temos capacidade cognitiva para ampliar estes grupos. “Se uma nova pessoa entra na sua vida”, explica Dunbar, “alguém tem que cair para outro nível para dar lugar para ela”.
Como o número de amigos que somos capazes de ter é limitado por nossa capacidade cognitiva, nem mesmo a facilidade de estabelecer conexões via internet pode nos permitir expandi-lo.
Ao comentar sobre as redes sociais, Dunbar afirma que “existe uma questão em torno do que realmente conta como amigo”. Aqueles que têm um número grande — digamos, mais de 200 — invariavelmente conhecem pouco ou nada sobre os indivíduos na sua lista, acrescenta ele.
O fato de que o Número de Dunbar é — na visão de Dunbar — limitado pela nossa capacidade cognitiva aponta para uma possível maneira como as amizades podem ser diferentes no futuro.
As capacidades cognitivas — incluindo atenção, memória, percepção e tomada de decisões — estão relacionadas ao processamento mental de informação. Nós usamos várias estratégias e ferramentas que nos ajudam a melhorar essas capacidades. Tomamos café para ter mais concentração, usamos óculos para melhorar a visão, escrevemos listas para lembrar de coisas, e por aí vai.
Os ganhos que obtemos como resultado disso tudo são relativamente modestos e geralmente de curta duração. No entanto, muitos acreditam que, num futuro próximo, seremos capazes de obter ganhos muito mais drásticos em nossas capacidades cognitivas, usando tecnologias como drogas, estimulação elétrica transcraniana, implantes cerebrais e engenharia genética. Os resultados podem fazer com que as capacidades cognitivas humanas superem em muito qualquer coisa já vista antes.
Neste caso, talvez possamos ser capazes de manter amizades próximas com um número significativamente maior de pessoas. Mas, considerando que mesmo versões cognitivamente avançadas de nós mesmos seriam limitadas pelo número de horas que temos para socializar, aumentar nosso número de amigos próximos exigiria tirar mais intimidade do tempo que passamos com cada amigo.
Ou pode ser que o mundo cognitivamente avançado venha acompanhado por outras mudanças, como a redução das jornadas de trabalho, o que poderia liberar mais tempo para passarmos com os amigos.
Por outro lado, mesmo com uma capacidade cognitiva para ter mais amizades próximas, talvez muita gente valorize ter menos amigos. Relações românticas oferecem uma analogia: ter a capacidade de manter múltiplos parceiros aparentemente não resulta na maioria das pessoas querendo viver de forma não-monogâmica.
Então, as amizades num futuro cognitivamente avançado podem acabar sendo diferentes da forma como as amizades são agora — mas, da mesma maneira, podem acabar não sendo.
Pode parecer que, ao nos encorajar a usar o termo “amigo” para nos referir a centenas ou até mesmo milhares de pessoas com quem temos apenas conexões bastante superficiais, as redes sociais (para usar a metáfora de Plutarco) estão desvalorizando a moeda da amizade.
Amigos de Facebook são, no fim das contas, geralmente amigos apenas no nome — especialmente para aqueles usuários cujos amigos somam centenas de milhares.
Mas usar “amigo” para se referir a pessoas que alguém não conhece particularmente bem não é algo novo. Em seu estudo sobre conexões sociais na Inglaterra do século 18, Naomi Tadmor explica que, alguns séculos atrás, uma pessoa contaria como amigo não apenas indivíduos com quem teve relações emocionais relativamente íntimas, mas também família, trabalhadores domésticos, empregados, e por aí vai.
Ela cita a expressão “Sociedade de Amigos” — ainda hoje usada como um termo para os grupos religiosos Quakers — como um exemplo deste uso mais amplo da palavra.
Apesar das mudanças, ao longo dos anos, sobre se algumas pessoas com quem temos relações sociais relativamente vagas contam como amigos, o núcleo central tem se mantido estável.
As poucas pessoas que constituem o “pequeno núcleo” de Dunbar e as cerca de uma dúzia que compõem o “grupo de simpatia” sempre contaram como amigos.
Mas mudanças em nossas visões sobre o que devemos a nossos amigos sugerem o que pode acontecer com estes grupos menores, mais íntimos.
Considere nossas visões sobre lealdade. É importante ser leal a nossos amigos, mas em contextos profissionais nós usamos termos como “favoritismo” e “nepotismo” para condenar a lealdade a amigos.
Tadmor explica que as coisas eram diferentes no passado. No século 18, na Inglaterra, servir a seus amigos era visto como uma virtude, inclusive na política.
Da mesma forma que oferecer um emprego na política a um amigo era uma virtude três séculos atrás, mas repreensível hoje em dia, talvez algumas práticas que hoje contam como virtuosas serão um dia vistas como condenáveis.
Hoje ninguém levanta a sobrancelha para um advogado que oferece uma orientação gratuita a amigos (mas não para estranhos) ou um cabeleireiro que corta o cabelo de um amigo (mas não de um desconhecido) sem cobrar nada.
Oferecer a estranhos, de graça, o tipo de ajuda pela qual eles normalmente teriam de pagar é um ato de bondade, mas não é esperado ou exigido. As coisas podem mudar no futuro. Talvez oferecer uma habilidade a amigos, ao mesmo tempo em que é negada a estranhos, seja visto como favoritismo daqui a alguns séculos.
Como seria um mundo futuro com diferentes ideias sobre o que devemos a nossos amigos? Bem, provavelmente não tão diferente do mundo de hoje. Isso também não significa que as amizades contemporâneas sejam iguais ao redor do mundo.
As amizades em culturas individualistas — típicas de países em que o inglês é a primeira língua e em grande parte da Europa Ocidental — diferem em várias formas importantes das amizades em países árabes, do Leste Asiático, africanos e latino-americanos, onde existe uma cultura mais coletivista.
Por exemplo, a reciprocidade entre amigos é tipicamente mais valorizada em culturas individualistas do que nas coletivistas. Enquanto os individualistas não gostam de ficar em dívida com amigos por não ter retornado favores; os coletivistas não veem tais interações em termos de favores — e, em vez disso, consideram aqueles que resistem em aceitar a ajuda de amigos como distantes e egoístas.
Alguns comportamentos entre amigos que, em culturas individualistas, são vistos como interferências inapropriadas — como corrigir as anotações das aulas de um amigo — são considerados atenciosos e carinhosos em culturas coletivistas.
Aqueles que fazem parte de culturas coletivistas tendem a confiar que suas amizades próximas vão prosperar sem ter que alimentá-las dizendo coisas positivas; como resultado, falam com seus amigos com uma franqueza que seria vista como frieza em culturas individualistas.
Como diz o psicólogo Roger Baumgarte — de cuja pesquisa sobre amizade entre culturas diferentes eu tirei estas observações —, estas diferenças culturais revelam que até mesmo o que significa ser um amigo próximo varia de acordo com a cultura.
O futuro da amizade
Que lição deveríamos tirar disso tudo? Os meios e as tecnologias que viabilizam as amizades podem mudar, mas muita coisa permanece igual.
Os telefonemas e as cartas escritas à mão de algumas décadas atrás podem parecer mais saudáveis que as trocas de WhatsApp de hoje em dia, mas sua função é semelhante.
Isso pode ser chocante: quando vejo meus filhos debruçados sobre seus iPads, tenho que me lembrar que, embora possam parecer distantes e solitários, a maior parte do tempo que passam diante da tela envolve, na verdade, interação com amigos.
Apesar de ser tentador trancar seus aparelhos eletrônicos para sempre e mandá-los pular corda no quintal, fazer isso provavelmente faria com que fossem excluídos de uma comunidade importante.
E, embora passar o tempo todo grudado no celular não seja uma receita para uma vida gratificante, tampouco é passar o tempo todo escrevendo cartas. As crianças estão bem.
* Rebecca Roache é filósofa na faculdade Royal Holloway, da University of London, no Reino Unido, e apresentadora do podcast The Academic Imperfectionist. Este texto foi adaptado de um ensaio da Future Morality (ed. David Edmonds), publicado pela editora Oxford University Press.
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