- Chris Baraniuk
- Repórter de Negócios e Tecnologia da BBC
Nos próximos anos, milhões de pessoas comprarão veículos elétricos (VEs). Esses carros e caminhões só funcionarão com baterias contendo metais como cobalto, lítio e níquel. A escassez desses metais, no entanto, pode prejudicar o boom dos veículos elétricos.
“Muitas pessoas não percebem que simplesmente não temos quantidade suficiente desses materiais essenciais extraídos em todo o mundo”, diz Megan O’Connor, executiva-chefe e cofundadora da empresa de mineração e reciclagem de materiais para baterias Nth Cycle.
A empresa projetou uma forma de extrair níquel e outros metais de baterias velhas para que esses materiais possam ser usados novamente.
O processo é chamado de eletroextração e funciona usando uma corrente elétrica para separar os metais dos resíduos de bateria esmagados, conhecidos como “massa negra”. Os metais separados são isolados e presos em um filtro especial.
A tecnologia da Nth Cycle extrai o níquel, não apenas de baterias velhas, mas também de torrões de rocha e metais escavados nas minas.
É potencialmente um método mais sustentável de recuperação de níquel do que técnicas tradicionais, como a pirometalurgia, que O’Connor diz não ser um processo ecológico.
“Pense nela como um grande forno, eles derretem tudo em temperaturas muito altas – você pode imaginar a pegada de carbono”, explica ela.
Nos próximos anos, a indústria precisará de todos os suprimentos de níquel que puder obter para produzir muitos dos produtos que usamos diariamente.
As baterias de íon de lítio, que alimentam muitos dispositivos, incluindo seu celular dependem de uma mistura de níquel, manganês e cobalto.
Mas, em algumas baterias, o níquel é de longe o componente mais importante, representando 80% da mistura.
O problema é que o fornecimento de níquel, como muitos outros materiais no momento, está sujeito a grandes esperas causadas, em parte, pela guerra na Ucrânia, já que a Rússia é um dos maiores fornecedores de níquel do mundo.
Países como Indonésia e Filipinas provavelmente aumentarão sua produção de níquel à medida em que os compradores procuram por fontes do metal fora da Rússia. Há, no entanto, dúvidas sobre quão sustentável será essa nova produção.
O’Connor argumenta que não será possível abrir novas minas com rapidez suficiente para atender à crescente demanda por níquel, que também é usado para fabricar componentes de aço inoxidável e turbinas eólicas. Em vez disso, a reciclagem de baterias velhas ajudará a “corrigir” esse problema de fornecimento, sugere ela.
Outras empresas também estão adotando essa abordagem, como a Redwood Materials, nos EUA, que compra baterias de 60 a 80 mil veículos elétricos todos os anos.
“Recuperamos, em média, 95% dos elementos das baterias, como níquel, cobalto, lítio e cobre”, diz o vice-presidente de comunicações e relações governamentais da empresa, Alexis Georgeson.
Mas a confiança geral no mercado de níquel ainda não voltou após um episódio difícil em março, quando o preço do níquel na London Metal Exchange (LME) disparou 250% antes de cair novamente. Isso levou operadoras da LME a suspender a negociação de níquel por cerca de uma semana.
“Foi um desastre”, diz Keith Wildie, diretor de negócios da empresa de reciclagem de metais Romco Group, que avalia que o preço do níquel continua volátil. Apesar de ter caído novamente, o valor ainda está cerca de 60% acima do que era no início de 2022.
O choque de preços aconteceu, em parte, porque uma empresa chinesa, a Tsingshan Holding Group, havia construído uma grande “posição vendida” no mercado. Em outras palavras, acertando contratos que apostavam que o preço do níquel cairia. Quando isso não aconteceu, a empresa foi forçada a recomprar esses contratos ou se comprometer a fornecer o níquel. Qualquer uma das opções resultaria em uma enorme perda.
A empresa não respondeu a um pedido da BBC para comentar a situação.
A perturbação e o pânico no mercado posteriormente derrubaram a confiança dos traders de níquel, acrescenta Wildie: “Os volumes caíram absolutamente.”
Tanto a Autoridade de Conduta Financeira, do Reino Unido, quanto o Banco da Inglaterra anunciaram revisões após o incidente.
Em um comunicado, a LME disse: “A LME está comprometida em garantir que as ações de todos os participantes… serão totalmente revisadas e as ações apropriadas serão tomadas para restaurar a confiança e apoiar a saúde e a eficiência a longo prazo do mercado.”
No entanto, havia preocupações sobre futuros fornecimentos de níquel, mesmo antes desse episódio.
A fabricante de veículos elétricos Tesla, por exemplo, já havia se mudado para garantir o acesso ao metal, tornando-se parceira técnica em uma nova mina de níquel na ilha do Pacífico da Nova Caledônia.
Nem todas as empresas podem fazer esta opção. Mais de dois terços da produção mundial de níquel vai para a indústria de aço inoxidável, onde acaba em diversos produtos, desde talheres até torneiras de banheiro e máquinas de lavar.
Algumas fábricas de aço inoxidável na Europa já cortaram a produção, graças aos preços elevados do níquel e preocupações com a oferta do metal. Embora Lisa Reisman, fundadora e editora executiva da publicação especializada MetalMiner, preveja que a demanda de curto prazo pelo metal em alguns setores pode cair.
Altas taxas de juros podem levar a uma desaceleração do mercado imobiliário, o que provavelmente significa que menos pessoas poderão comprar novos aparelhos feitos de aço inoxidável nos próximos meses, explica ela.
Para os carros elétricos, quase certamente exigirão um suprimento constante de níquel.
No início deste ano, a empresa de pesquisa de mercado S&P Global Platts previu que as vendas de veículos elétricos leves em todo o mundo chegariam a 26,8 milhões até 2030. A empresa observou que as vendas de veículos elétricos mais que dobraram entre 2020 e 2021.
Jason Sappor, analista sênior da S&P Global Platts, diz que o preço elevado do níquel provavelmente não terá um grande impacto nas vendas de veículos elétricos. Mas ele diz que as baterias de carros elétricos estão se tornando um impulsionador cada vez mais importante do mercado de níquel.
A reciclagem de baterias velhas poderia ajudar a preencher essa lacuna, como sugere O’Connor? Talvez, diz Sappor – mas requer o acesso a baterias velhas suficientes para fazer a extração das pequenas quantidades de níquel dentro delas valer a pena.
“O único problema disso é que é preciso haver um estoque existente para reciclar”, diz ele. Essa abordagem faz sentido, acrescenta ele, “a longo prazo”.
O’Connor enfatiza que a reciclagem por si só não será suficiente para satisfazer nossas necessidades de níquel no futuro próximo. “Precisamos começar a minerar mais desses materiais – e minerá-los de forma mais sustentável”.
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Você precisa fazer login para comentar.