Localizado a 623 km do Recife, o município de Ouricuri, no sertão de Pernambuco, já enfrenta de perto o impacto das mudanças climáticas em um dos biomas menos protegidos do Brasil: a Caatinga.
Essas alterações no ecossistema, que é exclusivo do país, ameaça a rica biodiversidade da região e acelera o processo de desertificação. Porém, agricultores que tiram seu sustento do bioma já buscam alternativas sustentáveis para mitigar esses efeitos.
A família de Sebastião Alves da Silva, conhecido como Barrim, vive da agricultura na comunidade de Lagoa Comprida e foi contemplada com o Programa uma terra, duas águas (P1 2), da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) para iniciar um Sistema Agroflorestal (SAF) na região. O projeto é um plano de convivência com o semiárido para assegurar à população rural o acesso à terra e à água de forma sustentável.
“Buscar conhecimento e espaço de formação na agrofloresta não é uma receita definida, é um aprendizado contínuo e no início foi muito desafiador”, revela Barrim.
O agricultor relata que a área escolhida para implantar o SAF estava bem degradada. O primeiro passo foi trabalhar a adubação que já tinha dentro da propriedade, com uso de compostagem e cobertura vegetal para economia de água e redução da temperatura das plantas. No local, mais de 50 espécies são cultivadas, como palma, leucena, gliricídia, moringa, guandu e gergelim. As frutas também ganharam espaço no sistema, com plantio de acerola, manga, goiaba, graviola, limão, urucum, banana, maracujá e mamão.
“A gente já sente na pele as mudanças climáticas. Percebemos que ano após ano, a produção estava diminuindo. Então, buscamos esse conhecimento. Isso trouxe uma qualidade de vida muito boa para a família, melhorou a terra e o ambiente e fortaleceu a questão da biodiversidade”, acrescentou o agricultor
Também agricultora agroflorestal da comunidade, Marilene Socorro afirma que foi preciso observar as plantas nativas da área para entender a necessidade da terra e ver a melhor forma de fazer uma intervenção: “Sem sementes adaptadas à região não tem como semear. Precisamos trabalhar o SAF de acordo com a realidade de cada região”.
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Conservação
Mais de 27 milhões de pessoas vivem no bioma, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Por isso, na hora de pensar em estratégias de conservação da Caatinga, que ocupa 83% do território pernambucano, é preciso levar em consideração a quantidade de pessoas que dependem desse ecossistema.
O biólogo Felipe Pimentel destaca que as políticas de preservação precisam ser alinhadas com a população. “A gente precisa reconhecer a sabedoria do sertanejo na própria conservação da caatinga. Nós temos um ecossistema extremamente habitado. A população faz uso dos seus recursos naturais, da sua biodiversidade, dos serviços. Então, a gente tem que pensar na hora de planejar e organizar a ocupação do território da caatinga para não cometer uma injustiça ambiental, que seria criar uma unidade de conservação tomando a terra de pessoas que tão ali secularmente convivendo e cultivando ao lado da biodiversidade”, explica.
Além disso, o coordenador Geral da Organização Não Governamental Caatinga, Paulo Pedro Carvalho, ressalta a importância da agroecologia para preservar o meio ambiente e garantir a qualidade de vida das pessoas que dependem dele: “A agroecologia é uma forma de vida, é um movimento. São várias as técnicas e práticas desenvolvidas pelo mundo a fora e aqui no semiárido são muitas as experiências que têm mostrado a sua capacidade de enfrentar mudanças climáticas recuperando o solo, a vegetação e a biodiversidade, gerando alimentos nutritivos e saudáveis sem venenos”
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