Golpistas estão usando sites de caridade falsos, e-mails fraudulentos e contas de redes sociais clonadas para enganar pessoas que querem fazer doações para a Ucrânia, revelou uma investigação da BBC.
O pedido da Ucrânia para receber doações em criptomoedas, feito logo após o início da invasão, deu aos golpistas novas oportunidades, disseram especialistas.
Sites falsos usaram, por exemplo, o nome das instituições Unicef e Save the Children. Alguns golpistas ainda fingiram ser pessoas reais na Ucrânia em busca de ajuda.
Pedido de Zelensky
Com a guerra afetando a infraestrutura nacional, o presidente Volodymyr Zelensky legalizou a criptomoeda na Ucrânia. O governo do país disse que até agora arrecadou mais de US$ 70 milhões (cerca de R$ 330 milhões) apenas em criptomoedas.
Ao mesmo tempo, especialistas disseram que o número de e-mails fraudulentos e sites de caridade falsos pedindo doações em criptomoedas representam volume recorde.
Um especialista em crimes cibernéticos disse que mais de 2,8 milhões de e-mails falsos foram identificados em um período de cinco dias. Todos solicitando doações em criptomoedas.
A BBC encontrou uma conta de criptomoeda, ou carteira, vinculada a um site falso contendo mais de US$ 90 mil (R$ 420 mil). Essa carteira havia sido usada em golpes anteriores, ganhando dinheiro com crises nos Territórios Palestinos e na Nigéria.
‘Doações para um amigo’
Um outro site falso, chamado Save Life Direct, alegou ter arrecadado US$ 100 mil (R$ 470 mil) – e foi registrado por um homem que mora em Abuja, na Nigéria.
Quando ele foi rastreado e contatado pela BBC, ele alegou inicialmente que estava enviando doações para um “amigo” no oeste da Ucrânia.
Mais tarde, ele afirmou que não havia levantado US$ 100 mil. Ele disse que forneceria provas de que o site era real, mas não o fez – e, no dia seguinte, o endereço foi retirado do ar.
Muitos dos golpes usam truques carregados de emoção, incluindo fingir ser pessoas reais na Ucrânia, que precisam de ajuda.
Um site falso roubou os detalhes de uma organização real que arrecadava dinheiro para os militares ucranianos. Os golpistas inseriram um endereço alternativo, controlado por eles, para o qual o dinheiro poderia ser enviado.
Os criminosos usaram até os perfis reais do Facebook de angariadores de fundos ucranianos genuínos, incluindo um pertencente a Tanya Tarasevich – cujo trabalho é fornecer suprimentos para os combatentes na linha de frente.
Ela disse que ficou chocada com as ações. “É a pior coisa que você pode fazer a uma pessoa, quando em seu país as crianças estão morrendo e seu país está em chamas. É um crime.”
Outro e-mail fraudulento de caridade alegou ser de “Aronov Maxim”, diretor de um hospital infantil na Ucrânia. Mas uma pesquisa reversa da foto do perfil do LinkedIn mencionada no e-mail revelou que, na verdade, ela pertencia a outro médico infantil, com sede na Cidade do México.
O verdadeiro médico é Miguel Angel Minero Hibert, um pediatra. Ele disse que ficou chocado ao descobrir que a identidade dele tinha sido roubada por fraudadores.
“Estou desapontado que há pessoas por aí usando isso para obter lucro e estou com medo porque minha identidade está sendo usada para algo ilegal”, disse ele.
Lindsey Novak-Duchaine, de West Virginia, nos EUA, também foi alvo de um crime semelhante.
Ela estava arrecadando dinheiro para a Cruz Vermelha Ucraniana quando percebeu que a conta dela no Twitter havia sido clonada.
A conta duplicada pedia dinheiro a seus seguidores via PayPal. Ela disse que a experiência foi “extremamente perturbadora”.
“Está tentando descreditar alguém que está tentando fazer o seu melhor e faz com que outras pessoas tenham receio de doar… porque não confiam”, acrescentou.
Jack Whittaker, um especialista em fraudes virtuais que está concluindo um doutorado na Universidade de Surrey, no Reino Unido, disse que o pedido do governo ucraniano por financiamento em criptomoedas apresentou aos fraudadores a oportunidade de “começar a construir sites com doações de bitcoin ligadas a isso”.
Ele disse que é a “ferramenta perfeita para lavagem de dinheiro”.
A investigação da BBC também descobriu que os logotipos e as marcas das instituições de caridade Unicef e Save the Children foram roubados e usados para criar sites falsos.
Chris Saul, da Save the Children, disse que os golpistas estão se aproveitando da “generosidade do público britânico”. “Há também as crianças, com quem trabalhamos em todo o mundo, que não receberão o apoio que precisam”.
Dan Walden, da Unicef, disse que sua mensagem para os golpistas é simples: “Vocês precisam parar com isso. As pessoas realmente precisam de doações para se manterem vivas”.
Investigação por Angus Crawford, Hannah Gelbart, Soraya Auer e Tony Smith
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