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Brené Brown mapeou 87 emoções em seu novo livro

A pesquisadora, acadêmica e autora de best-sellers Brené Brown passou as últimas duas décadas estudando coragem, vulnerabilidade, vergonha e empatia.

A palestra dela no TEDx, “O poder da vulnerabilidade”, é uma das cinco palestras do TED mais assistidas no mundo, com mais de 50 milhões de visualizações.

Em seu sexto e mais recente livro, Atlas of the Heart (“Atlas do Coração”, em tradução literal), ela nos convida a uma jornada por 87 emoções e experiências que definem o que significa ser humano.

Brené conversou com Anita Rani, apresentadora do programa Woman’s Hour, da BBC Radio 4, sobre seu novo livro e nossas emoções.

A seguir, 7 coisas que aprendemos com ela…

1. Não temos apenas três emoções — na verdade, está mais para 87

O novo livro de Brené analisa as 87 emoções e experiências que definem o que significa ser humano. Ela contou ao Woman’s Hour como chegou a este número e por que o que chamou de “granularidade emocional” é importante.

“Demos uma grande aula online ao longo de um ano e recebemos mais de 500 mil comentários. Nós os tornamos anônimos, os submetemos para aprovação do protocolo de projetos de pesquisa envolvendo seres humanos para fazer uma análise secundária, chegamos a 150 emoções que eram muito difíceis para as pessoas nomearem, e quando elas conseguiam nomeá-las e rotulá-las com precisão, levava à compreensão e até mesmo à cura. Pegamos estas 150, fizemos algumas pesquisas de grupo focal com terapeutas e clínicos e reduzimos para 87 emoções e experiências.”

“Até recentemente, as pesquisas mostravam que podemos nomear e rotular três emoções com precisão: felicidade, tristeza e raiva. Isso significa que enfiamos todos os sentimentos matizados que temos — decepção, ressentimento, pavor, preocupação, admiração, espanto — nestes três grandes baldes brutos.”

“A granularidade emocional é a capacidade de ser muito específico sobre o que estamos sentindo. Pesquisas mostram que quanto mais granular formos em nossa capacidade de nomear o que estamos sentindo, melhor podemos gerenciar, regular, passar por isso. Se for uma emoção positiva, podemos reproduzi-la em nossas vidas. A granularidade emocional está altamente correlacionada com resultados de vida bastante positivos.”

2. Reconhecer as emoções pode fazer você se sentir como se tivesse superpoderes

Na abertura do livro, Brené fala sobre sua infância e como na sua família ninguém falava sobre qualquer tipo de emoção. Isso teve um efeito incomum sobre ela.

“Então, para mim, foi uma espécie de sobrevivência, e também como a mais velha, na tarefa de proteger meus irmãos no que era uma família muito intensa, de amor intenso, de alegria intensa e também de raiva intensa, uma intensa falta de previsibilidade sobre como as coisas se desenrolariam, aprendi muito cedo, muito rapidamente, a reconhecer padrões e conexões entre os comportamentos das pessoas, seus pensamentos e suas emoções.”

“E fiquei muito, muito boa nisso. A ponto de que, quando estava no ensino médio, pensei, talvez eu seja como uma bruxa ou tenha superpoderes. Funcionava em casa, funcionava com treinadores, funcionava com professores. Eu era capaz de olhar para as pessoas da minha turma e apenas dizer: ‘Isso não vai dar certo, se prepare’. E elas diziam: ‘Ela nem disse nada ainda’. E eu dizia: ‘Posso dizer pelo olhar no seu rosto, não vai dar certo’ .”

3. A raiva é um catalisador necessário para mudança, mas uma terrível companheira de vida

Muitos de nós podem ver a raiva como uma “emoção ruim”, mas Brené não gosta de rotulá-la desta forma.

“A raiva é uma emoção necessária. O que precisamos evitar é rotular as emoções como boas ou ruins. Elas simplesmente são.”

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A raiva pode ter um preço físico, emocional e espiritual, segundo Brown

“Tem uma coisa sobre a raiva. Por muito tempo, eu, assim como outros pesquisadores, me perguntei se a raiva era uma emoção primária legítima ou sempre uma emoção secundária cobrindo outra coisa. E 91% dos pesquisadores de emoções hoje acreditam que a raiva é uma emoção primária. Muitas vezes, pode encobrir as coisas porque… é muito mais fácil dizer ‘estou com tanta raiva’, do que ‘estou magoado’, ou ‘estou desapontado’, ou ‘estou triste’. Esses são mais difíceis.”

“Mas deixa eu te falar sobre a raiva. A raiva é um catalisador bonito e necessário para a mudança. Mas a raiva precisa acender alguma coisa. É uma companheira terrível para a vida toda. Mas é um catalisador muito importante para a mudança. Quando vemos algo que é injusto, desleal, carece de equidade, nossa reação de raiva é o que alimenta a mudança. Mas permanecer nela perpetuamente, tem um alto preço físico, emocional e espiritual.”

4. O desprezo é pior que a raiva, aos olhos de Brené

“O desprezo é… Uau, que emoção, é pior do que raiva. Se você está com raiva de mim, eu fico tipo, ‘tudo bem, ela está realmente irritada comigo’, mas ainda estou engajada. Desprezo é descartar, você foi dispensada. Você nem é digna da discussão. Então o desprezo é a corrosão mais rápida de um relacionamento.”

“Mas também, politicamente, em nossa cultura em um nível macro, temos muito desprezo um pelo outro. Me considero bastante autoconsciente, evoluí muito, mas agora com essa nova variante da covid, sinto um desprezo terrível por pessoas que não são vacinadas. Apenas sinto desprezo.”

Brené diz que quando sente desprezo, ela lida com este sentimento se apoiando em sua fé.

“Apenas digo a mim mesma, sabe, meu desafio é encontrar Deus na face de todos que encontro. Às vezes, tenho que procurar muito.”

5. Brené não acha mais que somos capazes de ler emoções em outras pessoas

“Uma das coisas que realmente mudou para mim neste livro foi essa ideia sobre nossa capacidade de ler a emoção em outras pessoas. Não acho que podemos fazer isso. Eu pensei que poderíamos fazer isso por 20 anos. Eu costumava dizer: ‘Só precisamos desenvolver habilidades em torno do reconhecimento da emoção, de nós mesmos e dos outros.’ E não acho que podemos fazer isso, na verdade. Acho que emoção é biologia, biografia, comportamento, história de fundo. É muito complexo.”

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Bréne Brown é autora de uma das palestras do TED mais assistidas no mundo

“Quando vemos alguém enfurecido, quando vemos alguém com raiva, quando vemos alguém sofrendo, acho que temos que ficar curiosos, ouvir, nos tornar guardiões das histórias que nos contam sobre suas experiências e acreditar nelas, mesmo quando suas histórias não refletem nossas experiências vividas.”

“Uma das coisas que sempre me pergunto, e pergunto a outras pessoas o tempo todo, é que quando você vê as pessoas enfurecidas, com raiva e magoadas, o que você tem que dizer a si mesmo para que fique tudo bem? Qual é a narrativa que você tem que estabelecer quando vê os refugiados sírios, quando vê, nos EUA, a brutalidade policial, especialmente em relação aos homens negros. O que é que você tem que dizer a si mesmo para que fique tudo bem?”

“É o medo do desconforto? É o medo da cumplicidade? É o medo de reconhecer o privilégio? É o medo de fechar a porta a uma ideia de que este país não é o que você pensava que fosse? E o sistema não está realmente falido? Está funcionando exatamente como foi projetado, o que acredito ser o caso.”

“Acho que uma das razões pelas quais estamos tão desconectados um do outro é que estamos bastante desvinculados de nós mesmos. E acho que se vamos encontrar o caminho de volta um para o outro, primeiro teremos que encontrar o caminho de volta para nós mesmos. E vamos ter que encontrar um pouco de humanidade em nós mesmos para que possamos abraçar a humanidade e a dor de outras pessoas.”

6. A nostalgia é uma faca de dois gumes

Para algumas pessoas, a nostalgia pode ser algo que você sente quando reflete sobre memórias de dias felizes e tempos em que as coisas pareciam ser mais fáceis. Mas, para Brené, esta emoção tem dois lados.

“Eu pensava que a nostalgia era apenas perigosa. Mas eu realmente lutava com isso porque há uma grande cena em Ratatouille, o filme, quando o crítico de comida chega, e o ratinho chef faz um ratatouille para ele. E todo mundo fica falando: ‘Ele é um crítico gastronômico, e você vai servir um prato camponês?’ E eles colocam o ratatouille na frente do crítico gastronômico… E ele dá uma mordida e, em um segundo, está com cinco anos. Ele está parado na porta dos fundos de casa, parece que caiu de bicicleta ou algo assim. Está meio machucado, esfolado e está chorando. A mãe aperta ele contra o peito e o conforta. Depois, senta ele na mesa da cozinha e serve ratatouille. Na sequência, o crítico gastronômico está chorando. Então tem essa parte linda da nostalgia.”

“Acontece que tem dois lados da nostalgia. Tem este, que eu estava descrevendo na cena de Ratatouille, esta parte reflexiva. Mas também tem a forma de nostalgia que pode ser uma linguagem política codificada para tudo, desde a supremacia branca até a opressão de pessoas de cor e opressão das mulheres. Pode ser algo ‘como as coisas costumavam ser, quando as pessoas conheciam seu lugar’. ‘Make America Great Again’ foi uma campanha inteira e brilhantemente construída baseada na nostalgia, lembrando uma América que nunca existiu. Na década de 1950, as taxas de violência doméstica eram muito mais altas do que são agora, as taxas de dependência eram piores.”

“O que os pesquisadores descobriram, e sou muito grata por isso, é que a diferença entre uma nostalgia saudável e agradável e uma nostalgia perigosa de teor político codificado é a ruminação mental.”

“Eu estava em Londres, talvez em 2016, e teve um momento em que estava no banco de trás de um táxi preto. O taxista era um cara branco mais velho. E ele disse: ‘este é o lugar onde eu cresci, esta é a minha escola, agora é uma mesquita, está tudo indo para o inferno’. E me lembro de pensar, esta é a parte perigosa da nostalgia. Esta é a parte em que, se alavancada corretamente, por políticos poderosos, se você der às pessoas com medo alguém para culpar, e depois validar por que não tem problema para elas empurrar sua dor para outras pessoas, você pode governar o mundo.”

“Não acho que você comece com alegria e felicidade. Acho que você começa com gratidão. Você pensa sobre o que você é verdadeiramente grato em sua vida? E o que você precisa fazer para praticar a gratidão em torno disso? Não apenas ter uma atitude de gratidão, mas literalmente praticá-la? E aí eu acho que você vai pensar, ‘como faço para deixar mais disso entrar (na minha vida)’?”

“Então, no meu caso, jogar tênis, jantares em família, rir com minhas irmãs. Sou tão grata por essas coisas. Mas o que estou fazendo diariamente para que minhas escolhas mostrem que estou tentando trazer mais disso para minha vida? Estou reservando meu tempo apenas para reuniões? Ou estou reservando meu tempo para o tênis?”

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