- Author, Redação
- Role, BBC News Mundo
Acredita-se que os primeiros habitantes da América tenham chegado ao continente há cerca de 14 mil anos.
Com a migração, tem início também um processo de desenvolvimento tecnológico a partir dos recursos disponíveis e da realidade local.
Desde o Ártico, onde os esquimós começaram a habitar as regiões mais geladas, até os poderosos impérios inca e asteca, avanços importantes no campo da engenharia, da arquitetura e da arte surgiram.
Muitas das invenções desenvolvidas ao longo dos séculos foram substituídas pela tecnologia importada após a chegada de Cristóvão Colombo, no final do século 15.
Algumas, contudo, foram mantidas e, em pleno século 21, continuam sendo parte da vida diária não só no continente americano.
Estas são algumas das principais invenções dos indígenas americanos que continuamos usando até hoje.
1. Os óculos de sol
Além das baixas temperaturas e da escassez de terras férteis para cultivo, a neve foi um dos grandes problemas enfrentados pelos povos inuits, que habitam a região do Ártico.
Entre os artefatos que eles criaram para se adaptar melhor ao ambiente gelado está uma espécie de óculos de proteção contra o reflexo do sol sobre a superfície branca da neve.
Os óculos eram feitos de madeira ou ossos de antílopes que viviam na região. Eles tinham uma abertura estreita para permitir a visão, mas sua estrutura reduzia o impacto da luz refletida sobre os olhos.
Com o passar do tempo, foram desenvolvidas invenções similares em outras regiões do planeta. Mas o princípio dos óculos escuros para reduzir o impacto dos raios solares sobre os olhos – ou seja, os raios ultravioleta – surgiu apenas no início do século 20, o que levou à popularização dos óculos de sol.
2. O caiaque
Conseguir alimentos no ambiente hostil do extremo norte do continente também era um desafio para os inuits.
A água foi a solução encontrada. Além da imensidão do oceano, os habitantes dessa região inóspita também tinham acesso a lagos e rios.
Usando pele de foca e ossos de baleia, eles desenvolveram uma embarcação individual impulsionada por remos que os permitiu que saíssem para pescar.
Criada há cerca de 4 mil anos, a embarcação recebeu o nome de qayaq – caiaque, em português. Com desenho e construção inovadores, alguns chegaram a durar até quatro séculos.
O caiaque é usado até hoje pelas comunidades inuits que sobrevivem no Ártico, além de ter se tornado um esporte popular, disputado inclusive nos Jogos Olímpicos.
3. A ponte suspensa
Uma das criações do império inca que chegaram aos nossos tempos foram as estradas ligadas pelas chamadas pontes pênseis, ou pontes suspensas por cordas.
Calcula-se a existência de cerca de 200 dessas pontes na rede de estradas do Tahuantinsuyo, que chegou a cobrir cerca de 23 mil quilômetros através do Peru. Sua construção baseia-se no mesmo princípio da rede de dormir: um tecido sustentado por dois pontos.
Existem vestígios do desenvolvimento desta tecnologia em outras partes do mundo, mas o trabalho dos incas certamente ocorreu antes da chegada dos europeus ao continente americano.
Esta tecnologia ainda é usada em muitas estradas turísticas pelo mundo e serviu de inspiração para o desenvolvimento das pontes pênseis construídas em grandes cidades do planeta.
4. Os comprimidos para a dor
Os nativos da América do Norte desenvolveram a cultura da medicina baseada na natureza. E suas descobertas deram origem a muitos tratamentos atuais.
Um desses tratamentos é o uso de uma planta conhecida como estramônio. Ela tem propriedades anestésicas quando aplicada sobre as feridas e serve para controlar a dor.
Muitos anos depois, o estramônio passou a ser usado para produzir a escopolamina, uma droga empregada, por exemplo, para fazer com que uma pessoa fique inconsciente.
Uma outra planta usada pelos indígenas norte-americanos acabou sendo fundamental para a criação das pastilhas contra a dor que conhecemos atualmente: o salgueiro-negro, uma árvore que só cresce no continente americano.
Da casca desta árvore, os indígenas conseguiram extrair traços de ácido salicílico, que possui efeitos curativos e era administrado a pessoas que sofriam de alguma dor óssea ou muscular.
O ácido salicílico é a base da aspirina, um dos medicamentos mais usados em todo o mundo para aliviar a dor.
5. A borracha
Os indígenas americanos, principalmente na América Central, já conheciam há séculos uma substância conhecida como látex, que era extraída de um tipo especial de árvore que só crescia no continente americano – a seringueira.
Os indígenas do Amazonas chamavam essa substância de cautchouc, que significa “árvore que chora”.
A substância era usada como revestimento para impermeabilizar vasilhas de barro e para produzir bolas, que eram usadas em jogos e esportes praticados em diferentes culturas. Chegou a ser produzido um tipo de calçado com esse material.
No Brasil, a extração do látex teve seu auge entre o final do século 19 e o início do século 20. A produção e o comércio da borracha nesse período levaram ao desenvolvimento de diversas cidades da região amazônica, principalmente Manaus e Belém.
Com o passar do tempo, a seringueira passou a ser cultivada em outros continentes e surgiu o processo de síntese da borracha, que possibilitou sua produção artificial. Os indígenas americanos foram os primeiros a usar este material como fazemos atualmente.
6. O cachimbo
Sabe-se que o fumo e seu consumo foram desenvolvidos pelos indígenas americanos, especialmente do Caribe e do norte do continente.
Eles projetaram um instrumento para fumar a erva, principalmente de forma cerimonial ou para socialização entre as diversas tribos.
Inicialmente, o cachimbo era conhecido como calumet, que significa cana, e era empregado para fumar tabaco em ritos cerimoniais. Com o tempo, ele evoluiu para tornar-se o utensílio que conhecemos hoje e que foi muito popular entre os séculos 19 e 20.
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