O Sudão virou palco neste fim de semana de violentos confrontos entre integrantes do exército e milícias paramilitares conhecidas como Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).
Os combates na capital Cartum e em outras partes do país — resultado direto de uma luta por poder no país governado pelos militares — deixaram até agora mais de 50 mortos e quase 600 feridos.
Moradores da capital sofrem com tiroteios entre forças rivais que lutam pelo controle do palácio presidencial, da televisão estatal e do quartel-general do Exército.
Mas por que a violência estourou no Sudão e quais são os motivos por trás do conflito?
1 – Qual é o pano de fundo do conflito?
Desde que ocorreu um golpe em outubro de 2021, o Sudão é governado por um conselho de generais. Há dois militares disputando poder.
De um lado está o general Abdel Fattah al-Burhan, que é o chefe das Forças Armadas e presidente do país.
Do outro, seu vice e líder do RSF, general Mohamed Hamdan Dagalo, mais conhecido como Hemedti.
Eles discordam sobre os rumos que o país está tomando e sobre a proposta de transição para o regime civil.
Entre os pontos mais controversos estão os planos de incluir os 100 mil combatentes do RSF no exército e a definição de quem ficaria encarregado de liderar a nova força.
2 – Por que as hostilidades começaram no sábado?
A violência estourou após dias de tensão, depois que membros do RSF foram redistribuídos em todo o país em um movimento que o exército interpretou como uma ameaça.
Esperava-se que a situação pudesse ser resolvida através do diálogo, mas isso nunca se concretizou.
Não está claro quem disparou o primeiro tiro na manhã de sábado, mas há temores de que as hostilidades piorem ainda mais uma situação já complicada.
Diplomatas pediram a ambos os lados um cessar-fogo.
3 – Quem são as Forças de Apoio Rápido?
A RSF foi formada em 2013 e tem suas origens na milícia Janjaweed, que combateu brutalmente os rebeldes em Darfur.
Desde então, o general Dagalo construiu uma força poderosa que interveio em conflitos no Iêmen e na Líbia e controla algumas das minas de ouro do Sudão.
Essas forças também foram acusadas de abusos dos direitos humanos, incluindo o massacre de mais de 120 manifestantes em junho de 2019.
A poderosa força fora do exército é vista como uma fonte de instabilidade no país.
4 – Por que os militares mandam no país?
O conflito do fim de semana é o mais recente episódio da tensão que se seguiu à queda do presidente Omar al-Bashir em 2019.
Houve grandes protestos de rua pedindo o fim de seu governo de quase três décadas. O exército deu um golpe para removê-lo do poder.
Mas os civis continuaram a exigir um papel no plano de avançar para o regime democrático.
Um governo conjunto militar-civil foi então estabelecido, mas foi derrubado por outro golpe em outubro de 2021.
E desde então, a rivalidade entre o general Burhan e o general Dagalo se intensificou.
Um acordo foi firmado em dezembro do ano passado para devolver o poder aos civis, mas as negociações para finalizar os detalhes fracassaram.
5 – O que pode acontecer agora?
Se o conflito continuar, esta situação pode fragmentar ainda mais o país e piorar a turbulência política.
Os diplomatas, que desempenharam um papel crucial na tentativa de instar o retorno do governo civil, estarão desesperados para encontrar uma maneira de fazer com que os dois generais estabeleçam um diálogo.
Enquanto isso, a população do país é quem sofre as consequências do conflito.
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