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  • Author, Stephen Wyatt
  • Role, The Conversation*

Quando alguém pergunta o nome de um líder atual que esteja fazendo um trabalho extraordinário, em quem você pensa?

Se você tiver dificuldade de responder, saiba que não está sozinho — principalmente se for tentar se lembrar de líderes com presença importante em cargos de responsabilidade significativa.

Em uma pesquisa entre chefes de recursos humanos, cerca de três quartos deles declararam que suas empresas não têm a liderança necessária para os desafios atuais. E também não têm a profundidade de talentos necessária para o dia de amanhã.

Mas os escândalos, políticos e corporativos, estão presentes em grandes quantidades.

A função da gerência não mudou e a instabilidade não é uma questão nova. Por que, então, existe esta crise de liderança?

No meu livro, Antidote to the Crisis of Leadership (“Antídoto para a crise de liderança”, em tradução livre), defendo que este é o resultado da incongruência entre a realidade da liderança atual e uma teimosa dependência das práticas tradicionais.

Para solucionar o problema, são necessárias quatro mudanças de mentalidade.

1. Ter capacidade de adaptação

As empresas e os governos sempre operaram dentro de sistemas complexos. Mas, atualmente, cada vez mais partes do sistema estão se alterando simultaneamente e cada vez mais rápido. Os líderes precisam tomar mais decisões e com mais rapidez.

Quando havia menos fatores em jogo e a velocidade das mudanças era menor, os líderes tinham tempo para formular previsões.

Os líderes sempre precisavam dividir sua energia entre trabalhar “sobre” a empresa para o futuro (tomando ações como remodelamento e reposicionamento) e trabalhar “na” empresa (ou seja, atingir os resultados necessários no momento).

Atualmente, o trabalhar “sobre” é uma necessidade quase constante e não se restringe ao ciclo anual de planejamento.

Isso deixa os líderes com menos tempo para trabalhar “na” empresa. E a distinção entre o líder que olha para frente e o gerente concentrado na parte operacional está crescendo.

Os investidores recompensam desproporcionalmente os líderes que olham para frente e inspiram a confiança de que serão capazes de superar desafios ainda desconhecidos.

E, como os líderes precisam tomar decisões sobre o futuro sem saber o que os espera, eles precisam saber se adaptar. Não devemos apenas esperar as correções de curso, mas sim enaltecê-las.

2. Formar alianças

O Fórum Econômico Mundial prevê que a tecnologia irá alterar seis em cada 10 empregos até 2030. O mercado de trabalho aumentou a rotatividade, debilitou a dedicação e reduziu a confiança e a lealdade.

Neste panorama, ser “seguidor” é mais compreendido como uma escolha.

Mesmo quando são contratadas para uma equipe ou empresa, as pessoas fazem escolhas diárias de quanto do seu esforço, dedicação e lealdade elas irão demonstrar.

Por isso, os líderes precisam ter mentalidade de formação de alianças, dentro da equipe e além dela. O individualismo está crescendo e os profissionais normalmente querem ser aceitos por quem eles são, não por como eles parecem se enquadrar.

Os líderes devem lutar para garantir experiências positivas para cada pessoa.

Para isso, eles precisam cuidar verdadeiramente dos que estão à sua volta e oferecer flexibilidade, sem comprometer os objetivos da organização.

3. Causar impactos positivos

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Legenda da foto, Líderes precisam ter mentalidade de formação de alianças, dentro da equipe e além dela

Esta é uma aspiração significativa, maior do que qualquer líder isoladamente.

É impossível manter todos felizes, em relação a tudo, o tempo todo. E pequenas queixas podem ser amplificadas por robôs e fake news.

Neste contexto hostil, muitas pessoas em posição de liderança não estão sabendo liderar.

Algumas talvez sejam deliberadamente irresponsáveis ou egoístas, mas muitas falhas de liderança são consequência da intimidação pela crítica, que chega a gerar paralisia. Eles podem postergar, ignorar ou ser menos transparentes sobre decisões difíceis quando receiam ser atacados.

Os líderes de sucesso precisam ter a coragem de se expor às hostilidades. Eles podem ganhar popularidade com uma visão atraente, mas não conseguirão cumprir com ela, a menos que sejam fundamentados, autênticos e consistentes.

A convicção do líder para criar impacto além de si próprio pode motivá-lo e formar resiliência às críticas e aos fracassos.

4. Acelerar — aprender mais rápido

Por que não temos líderes em quantidade suficiente, com a qualificação necessária para as organizações modernas?

Primeiramente, as empresas desenvolvem e promovem as pessoas para que se pareçam com os sucessos do passado. Elas usam elementos que agem como “espelhos retrovisores”, como estudos de casos do passado, mentores e modelos que oferecem experiências históricas e caminhos para o sucesso.

Em segundo lugar, é comum se concentrar no “o que” e “como” da liderança, não no “quem”.

Os líderes atuais precisam encontrar a convicção e a coragem para buscar seus objetivos e viver pelos seus valores. Como disse o marechal-de-campo britânico da Segunda Guerra Mundial Visconde William Slim: “A liderança é intensamente pessoal… é simplesmente você.”

O tempo e a energia dos líderes são limitados. Por isso, eles precisam aprender com mais rapidez.

Se você for gestor, poderá ser a solução para a atual crise de liderança. Você precisa assumir seu próprio desenvolvimento e acelerar o desenvolvimento dos demais à sua volta.

A liderança está em crise, mas existe um antídoto: você. Você precisa aspirar, aliar-se, adaptar-se e acelerar.

* Stephen Wyatt é professor de Estratégia e Liderança da Universidade de Bath, no Reino Unido.