Maior presença militar dos Estados Unidos no Leste da Europa e maior ajuda militar à Ucrânia — com envio de combustível, suprimentos médicos, coletes à prova de balas e sistemas antidrones.
Esses foram alguns anúncios da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em seu novo plano de resposta à invasão russa da Ucrânia, depois de uma cúpula de dois dias encerrada na quinta-feira (30/6) em Madri, na Espanha.
A aliança militar ocidental também atualizou seu “conceito estratégico”, um documento que define sua estratégia militar e de segurança para os próximos dez anos, detalhando as ameaças que as democracias ocidentais enfrentam e explicando como pretende lidar com elas.
É um texto que muda drasticamente a visão da Europa e dos EUA sobre suas relações com China e Rússia.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é uma aliança militar fundada em 1949 por 12 países, incluindo EUA, Canadá, França e Reino Unido. Seus membros concordam em prestar ajuda mútua caso qualquer país da aliança seja atacado.
Recentemente se dizia que a Otan tinha sofrido “morte cerebral”, mas a entidade ressurgiu após a invasão da Ucrânia comandada pelo presidente russo Vladimir Putin. Na Espanha, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que a Otan é “mais necessária agora do que nunca”.
Moscou considera a Otan uma ameaça. Na quarta-feira (29/6), Putin acusou a entidade de ter “ambições imperiais” e de tentar afirmar sua “supremacia” por meio do conflito russo-ucraniano.
Na Cúpula de Madri, a aliança militar passou por sua maior revisão desde a Guerra Fria, segundo o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg.
Listamos três temas-chave para explicar em que consiste a nova estratégia da maior aliança militar do mundo.
1. Aumento de gastos e militarização
Segundo o correspondente de segurança da BBC, Frank Gardner, a invasão russa da Ucrânia deu à Otan um “choque de 50 mil volts”.
Uma das consequências diretas da “ameaça” russa é que alguns países da aliança concordaram em gastar mais dinheiro em defesa.
O Reino Unido prometeu aumentar os gastos para o equivalente a 2,5% de seu PIB (Produto Interno Bruto, soma de bens e serviços de um país) até 2030 e indicou que pressionaria outros aliados ocidentais a também aumentarem seu orçamento, disse o primeiro-ministro britânico Boris Johnson.
Os EUA anunciaram que aumentariam sua presença militar em toda a Europa em resposta à invasão.
Durante a cúpula de Madri, Biden anunciou que a união seria “fortalecida em todas as direções, em todos os domínios: terrestre, aéreo e marítimo”.
O novo plano colocará mais de 300 mil soldados em alta prontidão no próximo ano, muito mais do que os 40 mil de atualmente.
Um quartel-general permanente também será criado na Polônia, enquanto os EUA enviarão novos navios de guerra para a Espanha, aviões de combate para o Reino Unido e tropas terrestres para a Romênia.
Biden reiterou o compromisso da aliança de “defender cada centímetro” de seu território.
“Estamos falando sério quando dizemos que um ataque a um de nós é um ataque a todos”, disse ele.
2. Rússia: de parceiro a ameaça
Segundo o novo conceito estratégico da Otan, a Rússia é “a ameaça mais significativa e direta à segurança dos aliados e à paz e estabilidade do Ocidente”.
O documento indica que a aliança militar não pode mais considerar a Rússia como parceira, mas que permanecerá “disposta a manter os canais de comunicação abertos com Moscou” para evitar uma escalada de tensões.
A Otan disse que não pode descartar a possibilidade de haver um ataque contra a soberania e a integridade territorial de qualquer um dos aliados.
Na cúpula de Madri, a Otan aceitou pedidos de adesão recentemente apresentados por Finlândia e Suécia — dois países nórdicos que se mantiveram neutros por muitas décadas. Sua adesão deve ser ratificada pelos governos dos 30 membros da organização.
Putin alertou na quarta-feira que, se a Finlândia e a Suécia aceitarem receber tropas e infraestrutura militar da Otan em seu território, Moscou responderá “simetricamente”. Ele disse que seu país teria que “criar as mesmas ameaças ao território de onde são criadas as ameaças contra nós”.
A adesão de Helsinque e Estocolmo à Otan marcaria uma das maiores mudanças na segurança europeia em décadas.
3. China, um “desafio”
A organização identificou pela primeira vez a China como um “desafio sistêmico à segurança euro-atlântica”. Stoltenberg disse na quarta-feira (30/6) que a aliança agora enfrenta uma “era de competição estratégica”.
“A China está aumentando substancialmente suas forças, incluindo armas nucleares, intimidando seus vizinhos, incluindo Taiwan”, disse. “A China não é nossa adversária, mas devemos estar atentos aos sérios desafios que ela representa.”
No conceito estratégico da Otan que foi elaborado em 2010 não havia menção à China. Mas o novo texto especifica que as políticas de Pequim são desafios aos interesses, segurança e valores da organização.
“As operações híbridas e cibernéticas maliciosas da República Popular da China e sua retórica de confronto e desinformação visam aliados e prejudicam a segurança da aliança”, afirmou o documento.
A Otan adverte ainda que o governo chinês está “expandindo rapidamente” sua capacidade nuclear sem aumentar a transparência ou se envolver de boa fé no controle de armas.
Isso não preocupa apenas os membros da Otan, mas também os países vizinhos da China na Ásia e na Oceania.
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