O espaguete à carbonara leva speck (ou toucinho defumado) frito na manteiga (azeite ou banha), misturado com ovos batidos, pimenta e queijos (pecorino e parmesão) ralado. É receita com poucos ingredientes e fácil de fazer. Difícil mesmo é saber a origem do prato, que são muitas as versões. Uma é que, como o próprio nome sugere, teria vindo de carbone (carvão em italiano) – por ter sido criada pelos mineradores (carbonários) de carvão vegetal nos montes Apeninos, região da Úmbria (Itália). Outra versão sugere que o nome se deve apenas à cor escura do toucinho frito e da pimenta preta recém-moída, postos sobre o prato, lembrando pedaços (ou o próprio pó) de carvão. Outra mais, que seria evolução de velha receita das montanhas de Abruzzo, conhecida por cacio (queijo de cabra ou ovelha) e ova (ovo), principais ingredientes do molho. Não fosse o bastante, constam ainda quatro versões mais. A primeira – de alguns autores que insistem em atribuir essa invenção a Ippolito Cavalcanti (1787-1859), cozinheiro e escritor napolitano, que teria publicado receita semelhante no seu Cucina teorico-pratica (editado pela primeira vez em 1837 e acrescido, na edição de 1839, do apêndice Cusina casarinola co la lengua Napoletana). A segunda – de que o prato poderia ter tido origem em Carbonia, povoado perto de Cagliari, na Sardenha, fruto da criatividade de um cozinheiro talentoso que acabaria por se mudar para Roma, à procura de trabalho. Diz-se que o prato teria feito sucesso e o cozinheiro acabou por lhe dar o nome da sua terra – em vez do seu, talvez por timidez.
A terceira – de que o prato estaria associado à Carbonara, sociedade secreta da Itália no século XVIII. A mesma que também está presente em numerosos países europeus. Sendo em Portugal responsável pelo assassinato do rei dom Carlos, no Terreiro do Paço, em 1908. O episódio passou à história como o Regicídio, por ter sido este o único rei assassinado em Portugal. A confusão aumentou quando o diretor de cinema italiano Luigi Magni, no filme La Carbonara, colocou em cena uma trattoria que seria famosa por servir spaghetti alla carbonara. Sem provas de que tenham jamais preparado essa receita. A quarta – e segundo Dias Lopes (jornal O Estado de S. Paulo, 28 de outubro de 2010), “a versão mais aceita sustenta que a receita surgiu casualmente no final da Segunda Guerra Mundial”. Porque os americanos, quando entraram em Roma, encontraram a cidade em situação de penúria. E quase que só a tropa do general Mark Clark (1896-1984), comandante do 5º Exército dos Estados Unidos e das tropas aliadas, dispunha de alimentos. Por isso, combinando dois ingredientes típicos da ração militar (ovo e bacon) e acrescentando massa cozida al dente, um cozinheiro local teria criado o prato. Variação dessa versão localiza o nascimento da receita em uma trattoria romana – quando soldados aliados ali entraram com um suprimento de ovos e bacon. O cozinheiro os preparou separadamente. Só que, cansados daqueles sabores, os soldados misturaram tudo. Mas os romanos não admitem, nem de longe, considerar essa hipótese. Tanto que, para desdenhar da cultura norte-americana, contam piada segundo a qual o general Clark, quando chegou diante das ruínas do Coliseu, teria dito: “Mas que belo trabalho fizeram aqui os nossos soldados”. Jamais se saberá a origem exata da receita. Pode ser qualquer dessas. Ou nenhuma. Tanto faz. E isso não tem importância. O que lembra verso de Ascenso Ferreira (em O gaúcho) sobre um gaúcho em louca arrancada!/ – Para quê?/ – Para nada.
Receita:
Espaguete à carbonara
Ingredientes:
30 g de manteiga
100 g de toucinho defumado (ou bacon) cortado em pedaços pequenos
1 dente de alho
400 g de espaguete
Sal e pimenta
2 ovos batidos
40 g de pecorino ralado
40 g de parmesão ralado
Preparo:
Aqueça a manteiga numa frigideira pesada. Junte o toucinho e o alho. Deixe dourar. Retire o alho.
Cozinhe o espaguete al dente em bastante água temperada com sal. Escorra. Junte o espaguete ao toucinho e misture bem. Retire do fogo, acrescente pimenta (moída na hora), os ovos batidos e metade do queijo ralado. Misture bem, até que os ovos e o queijo adiram aos fios da massa, formando uma espécie de capa. Junte o resto do queijo ralado e sirva logo.
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Fonte: Folha PE
Autor: Letícia Cavalcante
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