- Author, Yusuf Akinpelu
- Role, BBC News em Lagos (Nigéria)
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Do Mali, no oeste, ao Sudão, no leste, toda uma faixa da África é agora comandada por regimes militares.
O Níger era uma das poucas democracias que restavam na região do Sahel, a qual se estende por uma faixa do continente africano. Mas agora que os militares anunciaram um golpe de Estado, há preocupações sobre o que isso trará para uma região já muito conturbada.
O presidente do Níger, Mohamed Bazoum — um importante aliado do Ocidente na luta contra grupos militantes islâmicos —, adotou uma postura desafiadora depois que soldados anunciaram um golpe, na quarta-feira (26).
Mas ele foi detido por tropas da guarda presidencial, o chefe do exército apoiou o governo militar e não está claro quem está realmente no comando.
A França, que colonizou o país, e os EUA têm bases militares no país rico em urânio, e ambos foram rápidos em condenar o golpe.
Há preocupação de que a nova liderança do Níger se afaste de seus aliados ocidentais e se aproxime da Rússia.
Se o fizer, seguirá o caminho de dois de seus vizinhos — Burkina Faso e Mali —, que se voltaram para Moscou desde que passaram por seus próprios golpes recentemente.
Ambos estavam sob intensa pressão de grupos islâmicos, que operavam livremente em grande parte dos dois países.
Embora o Níger estivesse lutando contra sua própria insurgência jihadista e o banditismo rural, o país parecia relativamente mais estável do que seus vizinhos.
O número de mortes por violência política registradas desde 2021 foi muito menor no Níger, de acordo com o projeto de dados Armed Conflict Location and Event Data (Acled).
Mas a ameaça jihadista foi a principal razão pela qual os militares tomaram o poder, argumentando que precisam lutar contra as insurgências.
O coronel Amadou Abdramane, que anunciou o golpe no Níger, citou a “deterioração da situação de segurança” e a má situação socioeconômica como os motivos da tomada do poder.
Sua declaração poderia facilmente ter sido feita por líderes de golpes em países vizinhos.
Mas, apesar dos golpes nos vizinhos e da presença de cerca de 1.000 mercenários russos do grupo Wagner no Mali, as mortes por ataques jihadistas na verdade aumentaram desde estes golpes.
Também houve casos bem documentados de abusos dos direitos humanos, incluindo a morte de centenas de civis no Mali pelas forças de segurança e por combatentes estrangeiros.
O governo do presidente Mohamed Bazoum também tem sido parceiro de países europeus na tentativa de impedir a movimentação de migrantes pelo Mar Mediterrâneo. O até então governo do Níger concordou em receber centenas de migrantes que estavam em centros de detenção na Líbia.
Ele também tomou medidas contra traficantes de pessoas no país, que já foi um ponto de trânsito importante entre países da África Ocidental e aqueles mais ao norte.
Isso agora pode mudar.
Se as tropas ocidentais e das Nações Unidas forem solicitadas a deixar o Níger — como ordenaram Mali e Burkina Faso —, isso seria mais um forte golpe na luta contra insurgentes islâmicos, que provavelmente agirão rapidamente para tirar proveito de qualquer instabilidade no país.
Na mídia estatal da Rússia e em grupos de Telegram, já houve comentários de que o golpe poderá ser uma porta de entrada da Rússia no Níger.
No entanto, um porta-voz do Kremlin pediu a libertação de Bazoum e uma solução pacífica para a crise.
Apesar da presença da bandeira russa em manifestações favoráveis ao golpe no Níger e de protestos contra a França, a ex-potência colonial, não há evidências de qualquer envolvimento russo no golpe militar.
Portanto, estamos esperando para ouvir o que os líderes do golpe dizem sobre o futuro alinhamento estratégico do país — se ele manterá seus laços com o Ocidente ou se irá se juntar a seus vizinhos, abraçando uma nova esfera de influência russa na África.
Esta última tomada do poder também levanta a pergunta sobre se o lento avanço da democracia visto em toda a África nas últimas décadas está agora sob ameaça.
Mesmo com o bloco econômico regional da África Ocidental, Ecowas, buscando uma solução pacífica, a estabilidade da região está mais frágil do que nunca.
Fonte: BBC
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